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Observações do Nikkei Sobre Abeconomics

4 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , ,

O jornal econômico japonês Nikkei tem uma tiragem de muitos milhões de exemplares, sendo lido por empresários, políticos, funcionários que trabalham nas empresas japonesas como na administração pública, e suas observações são sempre consideradas. Ele publicou no dia 3 de outubro uma análise que seria uma espécie de editorial, elaborada por Shigeru Seno, que tem a importante posição de vice-editor do Departamento de Notícias Econômicas. Considera que a política que ficou conhecida como Abeconomics, do governo do primeiro-ministro Shinzo Abe, para poder ser considerada um sucesso precisa conter os crescentes custos da segurança social no Japão, e repensar a estrutura regulatória do país.

O artigo começa mencionando que o Japão gasta com os cuidados relacionados com a saúde, cuidados de enfermagem e benefícios das pensões mais de US$ 1 trilhão por ano (100 trilhões de yens), e esta conta está crescendo com o aumento da população de idosos. O governo central gasta perto de US$ 300 bilhões (30 trilhões de yens) anualmente em programas de seguro social, que, segundo o autor, é a principal responsável pela elevação do débito governamental a duas vezes o PIB japonês.

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Sede do jornal econômico Nikkei

O autor cita o economista R. Anton Braun, do US Federal Reserve Bank of Atlanta, que estima que o Japão teria que elevar a taxa sobre o consumo para mais de 30% se pretende estabilizar as finanças governamentais usando somente este instrumento. O atual governo japonês se mostra relutante em cortar as despesas com a seguridade social, ainda que ela seja obrigatória para evitar elevações dos impostos no futuro, afirma o artigo.

O autor reconhece que falar sobre o assunto é mais fácil do que fazer. Durante o governo do primeiro-ministro Junichiro Koizumi, entre 2001 a 2006, o governo atuou para reduzir as despesas com a segurança social em 220 bilhões de yens por ano (cerca de US$ 25 bilhões), por cinco anos, a partir de 2007. Os membros da equipe do atual Shinzo Abe estão convencidos que isto levou à derrota do LDP – Partido Liberal Democrata, pois os votos dos idosos foram contrários a esta posição do partido.

Os legisladores japoneses evitam votar medidas contra os idosos, pois eles são politicamente importantes, e votam mais do que os jovens, no sistema japonês que é de voto facultativo. O professor de economia Wataru Suzuki, da Gakushuin University, estima que os fundos de reservas da previdência se esgotarão em 2038, se não forem tomadas medidas de alteração do sistema. Para manter o sistema por mais 100 anos solvável, haveria necessidade de aumentar a idade da aposentadoria e olhar com novos olhos o equilíbrio entre as contribuições e os benefícios.

As reformas regulatórias começam, segundo o artigo, pelo setor de saúde, com a revisão dos honorários médicos. O orçamento de 2014 será o primeiro teste sobre a disposição do governo sobre as mudanças. As duas primeiras flechas do chamado Abeconomics foram as medidas fiscais e os estímulos monetários, que lhe proporcionaram o atual prestígio.

A terceira flecha do Abeconomics teria que mudar os regulamentos dos cuidados médicos e de enfermagem, que envolvem a agricultura e o emprego. O ministro da Saúde já pediu muita cautela com elas. O presidente da Associação Japonesa de Medicina, entidade que sempre contou com muito poder político com tradição protecionista, já se manifestou contra o chamado tratamento médico misto, que combina médicos dos segurados e não segurados nas zonas especiais criadas pelo governo, ao mesmo tempo em que se posiciona contra a criação de novas escolas de medicina no Japão.

Estas reformas permitiriam o aumento da concorrência e a inovação, mas Shinzo Abe necessitará de muita liderança política para superar as resistências existentes, inclusive das empresas que se beneficiam do status quo. Como exemplo, os fornecimentos de equipamentos médicos no Japão para entidades governamentais são feitos pelos preços de tabela, quando no mercado privado conseguem-se os mesmos por 20% do valor que está na tabela.

O sucesso do Abeconomics com estas reformas dependerá da manutenção do atual prestígio conseguido pelas duas primeiras flechas, a política monetária e fiscal. Mas sem as reformas não se conseguirá uma estratégia efetiva de crescimento estabelecendo um sistema de bem-estar no Japão, segundo o artigo.

Mesmo considerando que as propostas para as reformas ainda não foram formuladas, fica evidente que fortes resistências existirão, colocando em risco o atual prestígio do Abeconomics.



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