Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Opiniões Contrárias a Abeconomics no Japão

15 de outubro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , ,

Um artigo bem articulado de Takamitsu Sawa, presidente da Universidade de Shiga, foi publicado no The Japan Times expressando pesadas dúvidas sobre a eficácia da Abeconomics para a recuperação da economia japonesa, apesar do sucesso popular até hoje alcançado. O autor relata que até o final do século 20, o Japão teve que reconstruir com sucesso o país derrotado na Segunda Guerra Mundial, com avanços industriais que foram comandados pelo MITI – Ministério de Comércio Exterior e Indústria japonesa. Em 1993, o Banco Mundial publicava um artigo falando do milagre no Leste Asiático, comandado pelo Japão. O mesmo foi alcançado com políticas econômicas e sociais adequadas, conseguindo igualar-se aos países desenvolvidos do Ocidente.

Segundo o autor, a recessão japonesa começou em 1991, e mesmo com as políticas governamentais não foi possível evitar a desaceleração do crescimento e a deflação. Junichiro Koizumi tinha alertado no ano 2000 que sem reformas substanciais não haveria como recuperar o crescimento com a consolidação do regime democrático, utilizando basicamente os mecanismos dos mercados livres e competitivos. Ainda que se tenha alterado muito, Koizumi não conseguiu efetuar as reformas indispensáveis, resultando em fracasso. A atual administração de Shinzo Abe, que começou pela segunda vez em dezembro de 2012, tem como meta acabar com a deflação e voltar ao processo de crescimento com a identificação de setores estratégicos para tanto.

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Takamitsu Sawa

Os setores de agricultura, floresta e pesca, além do setor de medicina, são mencionados como os estratégicos para recuperar a economia japonesa, mas o autor afirma que são exatamente os mais fracos, e ele não acredita que isto seja possível. Eles seriam hexagonizados, envolvendo deste a produção primária, transformações industriais até a venda destes produtos. Seriam promovidas as regulamentações que impedem o seu desenvolvimento.

Também o setor de medicina seria fortalecido para uma versão japonesa do US National Institutes of Health. Seria encurtado o período das pesquisas clínicas para a produção de medicamentos. O autor revela seu ceticismo que estes seriam os setores dinâmicos para a recuperação da economia japonesa. Não se pode discordar que estes setores estão relativamente atrasados precisando de atualizações.

Shinzo Abe tem visitado países estrangeiros acompanhado de empresários para colocar os produtos japoneses em diversos mercados como o da Rússia e do Oriente Médio, empenhando-se também para ajudar na melhoria da infraestrutura local, como tem acontecido na Turquia e nos Emirados Árabes Unidos, inclusive com usinas atômicas com custos de mais de US$ 4 e 5 bilhões. Procura melhorar a estrutura ambiental urbana, como melhoria da alimentação com cozinhas japonesas com baixa caloria, além de tecnologias e equipamentos médicos do Japão.

Este tipo de ação do primeiro-ministro japonês é inusitado. Estas exportações não possuem um efeito de sustentabilidade, e parece que se estimula a ação governamental. Como segunda parte do programa Abeconomics, ele parece cogitar de imposição de custos para os empresários: aumento dos investimentos em 10%, oito universidades solicitadas a contratar 1.500 professores estrangeiros, sucedendo os que serão aposentados. Estas metas quantitativas são criticadas, pois são das alçadas empresariais ou de universidades.

Também se solicitou às entidades empresariais para elevarem os salários que seriam corroídos pela inflação, que deveriam corresponder aos seus aumentos de produtividade, devendo ser de iniciativa dos sindicatos.

Todos estes esforços estão sob a alçada do METI – Ministério de Economia, Indústria e Comércio, Ministério da Agricultura, Floresta e Pesca, Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, Ministério da Terra, Infraestrutura, Transporte e Turismo e do Ministério da Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia.

Na história da economia japonesa, o esforço governamental foi necessário para a reconstrução do pós-guerra, e dos estouros das bolhas financeiras e imobiliárias posteriores. Shinzo Abe está contrariando o que foi feito pelos ex-primeiros-ministros Junichiro Koizumi e Yasuhiro Nakasone, em que os resultados econômicos foram deixados para o funcionamento adequado dos mecanismos de mercado, de forma competitiva.

Segundo o autor, Shinzo Abe está transformando o atual LDP – Partido Democrático Liberal do Japão em algo parecido com o Partido Conservador da Grã-Bretanha ou o Partido Republicano dos Estados Unidos. Em outras palavras, o autor afirma que Shinzo Abe está retrocedendo a administração japonesa para o domínio dos burocratas.

Mesmo não concordando com tudo que foi dito no artigo mencionado, existem aspectos que precisam ser pensados, pois se registra mundialmente um esforço para superar a atual crise com o aumento da participação do setor público, que não tem se revelado da maior eficiência.



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