Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Copa do Mundo Que Deveria Ser Uma Festa

25 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

Lamentavelmente, estão se multiplicando as manifestações como o artigo de Joe Leahy, do Financial Times, expressando as suas preocupações sobre as precariedades da realização da Copa do Mundo no Brasil. Estes eventos mundiais como as Olimpíadas costumam ser aproveitados pelos países anfitriões para demonstrar para todos os avanços conseguidos. Mas os atrasos nas muitas obras consideradas custosas e desnecessárias, as insatisfações populares expressas nas manifestações de rua, bem como a mudança no cenário econômico nacional e internacional acabaram criando um clima que não pode ser considerado como de festa.

O artigo colhe nos bastidores das obras sentimentos de dúvidas dos operários envolvidos em algumas ainda a serem concluídas, além das cogitadas inicialmente, mas já abandonadas como o projeto de trem rápido que ligaria Campinas a São Paulo, chegando ao Rio de Janeiro. Os projetos relacionados com os aeroportos devem atender precariamente os visitantes estrangeiros, e os arredores dos muitos estádios deverão contar somente com arremedos que certamente serão notados pela imprensa mundial. As decisões iniciais sobre a escolha do Brasil ocorreu num período de euforia com as economias emergentes, com a elevação do número de estádios sem estudos mais profundos, como se os benefícios colaterais pudessem agradar as populações das sedes regionais.

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Estádios do Itaqueirão, de Manaus e de Curitiba: obras atrasadas

Alguns países se candidataram a serem sedes de eventos mundiais como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas para acelerarem os trabalhos não só de infraestrutura, mas para motivarem projetos para atenderem turistas de todo o mundo, fazendo com que efeitos colaterais pudessem justificar os pesados encargos com os investimentos, na esperança que fossem utilizados no futuro para beneficiarem populações locais.

Mas, com o estabelecimento do chamado padrão Fifa, que nada têm com a realidade dos países emergentes, aceito pelas autoridades locais, acabou-se colocando parte substancial da população contra os gastos exagerados, sem mesmo que houvesse aproveitamentos futuros condignos. No Brasil, que era considerado um país onde o futebol poderia se ter a esperança de galvanizar toda a população, mas as pesquisas estão indicando um percentual elevado de contrariados, que se somaram as insatisfações dos atendimentos como de transporte, saúde e educação, para os quais os recursos são sempre insuficientes.

Se os resultados na Copa do Mundo, do ponto de vista esportivo, não for favorável ao Brasil, corre-se o risco de agravar o sentimento de insatisfação. No caso recente da Rússia com as Olimpíadas de Inverno, os eventos estavam restritos a uma região controlável pelas autoridades, sem que manifestações populares tivessem a possibilidade de buscar a atenção da imprensa internacional. A situação brasileira é bem diversa, exigindo grandes deslocamentos por todo o país, dificultando até os problemas de segurança.

As possibilidades de manifestações contrárias são elevadas, mesmo que atos violentos estejam sendo condenados pela opinião pública. Como a Copa estará nas vésperas das eleições, o risco político não pode ser desconsiderado, principalmente quando movimentos como o Black Bloc insistem em desafiar as autoridades com violências.

Mesmo nas melhores hipóteses, os riscos devem ser considerados elevados, sendo que os erros cometidos podem ser distribuídos por muitos responsáveis, mas quem acabará ter que arcar com todos os desacertos acabará sendo o governo, num período em que o seu prestígio está em declínio, diante de um quadro econômico que está longe de ser brilhante.



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