Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Mal Que Nos Aflige

12 de abril de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , ,

Acompanhando a discussão recente do que ocorre na política brasileira, acaba se reconhecendo a importância do que Peter Singer, filósofo e professor da Universidade de Princeton, expressa no seu artigo recente divulgado no site do Project Syndicate, que chama a atenção à lacuna que se forma com a insuficiência de um conhecimento humanístico. Não se deve confundir este problema com a insuficiência da educação formal, pois a sabedoria de um estadista pode ser decorrente da reflexão sobre os problemas existentes que é o campo de onde é possível extrair conhecimentos fundamentais. Certamente, o filósofo Sócrates não poderia dispor de um curso acadêmico, mas acabou sendo acusado de corromper a juventude por ensinar a pensar.

Peter Singer parte da constatação da redução de candidatos para os cursos de bacharelado em humanismo mesmo nas grandes universidades como Harvard. Mas, ele apressa-se em confessar que não tem consciência por que isto vem ocorrendo, humildade que é vital para qualquer intelectual. A ignorância decorrente da pretensão de saber é que parece facilitar afirmações chocantes que existem entre muitos pretensos donos da verdade, que não facilitam as discussões para a procura de medidas que possam sanar alguns graves problemas brasileiros. Claudia Safatle, na sua coluna semanal do Valor Econômico, refere-se à infeliz entrevista de um ex-presidente aos bloguistas, que tanto chocou os que são simpáticos a sua volta ao poder, expressando o entendimento de uma ação nefasta da imprensa tradicional na formação de uma concepção negativa do governo e do Brasil do momento.

PeterSinger

Peter Singer

A presidente constantemente expressa o seu domínio da área em que militou, o de minas e energia, e não revela a humildade necessária para o equacionamento dos complexos problemas desta área. Tentando vender a ideia de que é uma ótima gestora, acaba se afogando no lamaçal em que se encontram os muitos projetos vitais para o país.

Tendo escolhido os dirigentes para o comando da Petrobras, mostrou que não está habituado com os conhecimentos proporcionados pela antropologia organizacional, como os lecionados na London School of Economics, que permitem entender melhor os interesses dos muitos grupos que se digladiam na disputa pelo poder nas grandes e complexas organizações. E na medida em que sacrifica a racionalidade no processo de combate à inflação, gera mais tensões presentes e futuras difíceis de serem absorvidas.

O lamentável é que os que se apresentam para disputar as próximas eleições se concentram nas críticas do que vem sendo feito desde um passado mais remoto, até de outras administrações. Não parece que trabalhando observando o vidro retrovisor possam marcar as suas visões de estadistas para as formas difíceis e criativas de equacionarem os grandes problemas nacionais. Até agora não conseguiram delinear os caminhos alternativos a serem percorridos, que possam oferecer opções aos eleitores.

Parece que não revelam com formações humanísticas que teriam visões amplas capazes de galvanizar as forças de uma nação emergente. Pelo contrário, até agora se prendem as pretensões de boas administrações regionais, quando o que ocorre no âmbito estadual ou regional pouco tem com o federal ou nacional.

Apontar somente as lacunas existentes não parece suficiente para proporcionar a visão de que podem mobilizar forças capazes de reverter as atuais tendências, superando as limitações de um quadro desfavorável no cenário global. Até agora não se proporcionou a ideia da estatura que possuem para terem forças para tornarem o Brasil competitivo ao nível mundial.

Alegar que a campanha eleitoral não está ainda nas ruas não parece senão uma desculpa para arranjos miúdos e locais. Basta ter a consciência que estamos a menos de seis meses das eleições e até uma criança precisa de nove meses para nascer.

Um programa de estadista, como parece que o Brasil necessita, não parece ser possível de ser consolidado em tão pouco tempo. Os problemas energéticos necessitam de um horizonte de um mínimo de vinte anos, os planos rodoviários, ferroviários, portuários e outros de infraestrutura igualmente.

As concepções de educação, de saúde, de previdência social não podem ser improvisadas. Reformas fundamentais, como a fiscal e política, necessitam incorporar as experiências internacionais bem sucedidas. Se todas estas necessidades começarem a ser elaboradas a partir do início da próxima administração, certamente o período de um mandato será insuficiente para a conclusão séria dos trabalhos indispensáveis. E, sem isto, parece que o Brasil continuará condenado ao marasmo em que estamos enredados.



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