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Grande Expectativa na Índia Com a Eleição de Modi

17 de maio de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , ,

A maior democracia do mundo, a Índia, com mais de 800 milhões de eleitores, passa por uma mudança radical diante dos resultados eleitorais que confirmam uma arrasadora vitória para o Bharatiya Janata Party, que tem como líder o pária Narandra Modi, simpático às empresas privadas, que conquistou 282 cadeiras no Parlamento, do total de 545, ficando com uma larga maioria. Derrotaram o Partido do Congresso, que veio mantendo o poder por 67 anos, controlado pelas famílias Nehru-Gandhi, desgastado por que não conseguiu combater a corrupção, ficando somente com 44 cadeiras. Neste partido, sempre figuraram nomes destacados de sua elite posteriores à sua independência do Reino Unido, muitos que estudaram nas grandes universidades inglesas, como o último primeiro-ministro Mammohan Singh. Gerou-se agora uma grande expectativa de mudanças que será difícil de ser atendida por um gigantesco e complexo país como a Índia, de longa história e tradição cultural.

Narandra Modi tem uma bem sucedida experiência no comando da província de Gujarat, geograficamente um pouco menor que o Estado de São Paulo, que conta com uma população de 60 milhões de habitantes bem maior do que o de São Paulo, tendo como mancha um massacre não bem apurado de cerca de 2.000 muçulmanos. Nesta província, os resultados econômicos foram bem superiores ao do nacional da Índia, e sua campanha eleitoral centrou-se nestes aspectos econômicos administrativos. Conta com o suporte daqueles que advogam uma política com menor presença do Estado e sua burocracia, mas as questões sociais daquele país não permitem mudanças muito radicais.

mapa_da_india

Narandra Modi e mapa da Índia, com destaque para Gujarat, que foi comandada por ele

Há uma grande expectativa na Índia e no mundo sobre esta nova fase daquele país, cuja população aproxima-se da chinesa, que tem uma infraestrutura ainda precária, com uma renda per capita muito baixa, com muitos problemas religiosos. Sendo um regime democrático com muitas décadas de experiência, desde a sua independência, todos torcem para que haja sucesso na sua administração.

Mas, somente o resultado desta eleição representa uma grande mudança na Índia, onde no passado havia castas e aos párias eram reservados somente tarefas subalternas e mais duras. As elites tinham privilégios e mesmo com a abolição das castas havia uma cultura que tendiam a preservar as famílias tradicionais, inclusive com os casamentos arranjados.

O novo líder confessa que não teve a oportunidade para lutar pela independência da Índia, mas vai se dedicar pela sua boa governança. Muitos indianos saíram da pobreza absoluta, mas não tiveram oportunidade para se consolidar como alguém da classe média, até por falta de emprego. Estão frustrados.

Também no exterior havia um preconceito com relação a dirigentes como Modi, o que está sendo reformulado, mas ainda resta um problema de confiança. Seu programa de governo não está muito claro, além da orientação de prestigiar as empresas privadas. Ainda que sua administração numa província tenha sido destacada, o nível nacional apresenta outros desafios de diferente qualidade.

A Índia conta com um governo pesado com uma burocracia complexa e Modi prometeu facilitar a vida das empresas. Prometeu ser mais agressivo nas exportações e terá que promover muitas reformas, como na sua agricultura. Ele não poderá se distrair com problemas étnico-religioso, apesar de ser considerado um nacionalista, tendo que adotar posições mais claras com relação aos vizinhos Paquistão e China, com os quais têm conflitos.

Seu partido conseguiu uma expressiva maioria no Parlamento, mas eles só possuem experiências oposicionistas. Ele necessitará contar com uma equipe no governo capaz de consolidar um programa eficiente que deverá ser implementado com rapidez, pois o seu patrimônio político poderá se esgotar em pouco tempo, num país que apresenta grandes complexidades.

A expectativa exagerada sobre seu governo pode acabar se tornando um fardo. A Índia sempre contou com quadros preparados, inclusive em organismos internacionais, mas conseguir uma coordenação eficiente de uma grande equipe sempre apresenta desafios que exigem uma grande capacidade política.



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