Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Difícil Formulação de uma Política Industrial

28 de julho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Um conjunto de artigos foi publicado no Valor Econômico por Francisco Góes e Claudia Schüffer sobre a atual situação da construção naval no Brasil, que apesar das empresas contarem com carteiras recheadas de pedidos da Petrobrás que chegam a US$ 100 bilhões continuam enfrentando incertezas. Como todos sabem a construção naval brasileira chegou a ser a maior lançadora anual de navios no mundo, no interregno em que a japonesa estava se tornando pouco competitiva, passando o bastão da liderança para a coreana e agora para a chinesa. Havia demanda de navios do tipo ore/oil para a exportação de minérios e importação brasileira de petróleo. Mas sofreu as fortes flutuações que ocorreram, sem que estivessem assegurados os pesados financiamentos de longo prazo e os desenvolvimentos tecnológicos que se tornavam necessários.

Agora, a exploração do pré-sal determina uma expressiva demanda de plataformas bem como todas as embarcações que lhes dão suportes, exigindo tecnologias avançadas que todos desejariam que fossem produzidos no Brasil. Este é um segmento industrial que não pode se capacitar em pouco tempo, não só dependente de tecnologias, como de recursos humanos em variados setores, além dos componentes de elevada qualidade, que dependem de maciças importações, pois não existem condições no país. Exigiria, no mínimo, uma política industrial de prazo longo, onde as diversas partes teriam que ser adequadamente preparada, sempre dependendo de uma parcela importante de importação, onde os componentes locais não são competitivos no mercado internacional. Metas exageradas foram estabelecidas, fora da realidade, e todos os especialistas admitiram que elas não fossem cumpridas, até porque o prazo para as explorações deveriam ser abreviadas.

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As principais empresas de construção naval formadas no Brasil para atender as demandas do pré-sal foram o Estaleiro Atlântico Sul de Pernambuco, da Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que conta hoje com a participação dos japoneses da IHI, que já foram um dos pioneiros no Brasil com a Ishibrás, no Rio de Janeiro.

O Estaleiro Enseada, controlada pela Odebrecht, pela OAS e UTC, conta com a japonesa Kawasaki e está instalada na Bahia. O Estaleiro Rio Grande, da Engevix conta com a participação da japonesa Mitsubishi Heavy Industries. Todas de origem na construção pesada estão com suas entregas atrasadas, contando com produções no exterior em volume muito elevado, mais do que esta sendo cogitado originalmente.

Todas as empresas lutam com problemas dos recursos humanos locais, inclusive simples operários, que não estavam adequadamente preparadas para estes gigantescos volumes das encomendas. Também os seus fornecedores locais não contam com condições para atenderem todas as suas demandas, como de chapas grossas e equipamentos, principalmente com custos competitivos.

Na realidade houve um otimismo exagerado com a produção local, não havendo uma previsão realista da sua capacidade, e os prazos do programa de exploração do pré-sal continuam fazendo com que o grosso dos fornecimentos tenha que ser admitidos para serem efetuados no exterior, com atrasos significativos e custos mais elevados.

Como todos estes encargos acabam caindo em cima da Petrobrás, o programa continua tendo continuidade, mas reconhecendo que estas condições não são sustentáveis, acabam ampliando as incertezas sobre a continuidade das encomendas, nos volumes e valores inicialmente previstos. Não se sabe, exatamente o que poderá aconteceu ao longo do tempo. Acaba sendo tudo o que deve ser evitado num planejamento do desenvolvimento industrial.



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