Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Primeira Onda de Interesse Ocidental Sobre a Arte Japonesa

25 de julho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Já registramos neste site a forte influência exercida pela arte japonesa no Ocidente ainda no século XIX, desde as artes plásticas, o artesanato, a Art Nouveau até a literatura, a ópera e mesmo a arquitetura. Voltamos ao assunto aproveitando o importante artigo de Robert Read publicado no Japan News, referindo-se à exposição atualmente realizada no Japão, no Museu de Arte Setagaya em Tóquio, do fabuloso acervo do Museu de Belas Artes de Boston. Reune peças fundamentais que provocaram esta verdadeira onda de interesse, que começou na França e se extendeu por todo o Ocidente. Este acervo será transferido para Quioto em setembro próximo, chegando em janeiro a Nagoia. Certamente é um dos motivos de grande orgulho dos japoneses que estavam isolados do mundo até o início da Revolução Meiji, quando novamente houve o interesse pelos avanços registrados no Ocidente, mas que provocou um fértil intercâmbio também com o que existia no Japão.

Este movimento chegou a chamar-se Japonisme, possivelmente inspirado no quadro abaixo de Claude Monet (1876), denominado “La Japonaise”, retratando Camile Monet utilizando um vestido japonês, que faz parte do acervo do Mueum of Fine Arts, Boston, atualmente exposto no Japão. O título da exposição pode ser traduzido livremente para o português como: “Olhando o Oriente: artistas ocidentais e o excitante (allure) do Japão do Museu de Belas Artes de Boston”. Somos convictos que é o mais rico acervo dos períodos impressionista e pós-impressionista, não somente com quadros, mas objetos e artefatos que foram criados inspirados nos japoneses. O quadro de Claude Monet é, certamente, a peça central de todo este rico conjunto.

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A conservadora do Museu de Belas Artes, Irene Konefal, que trabalhou na sua restauração afirma que algo havia prejudicado a aparência da pintura original, pois o verniz utilizado tinha amarelado, o que deve ter alterado a percepção do que foi pintado por Claude Monet. Com a restauração os vermelhos ficaram mais vivos, como deve ter sido nas pinceladas de Monet.

Informa-se que o artista deve ter sido um dos primeiros que perceberam a importância do ukyo-e das gravuras japonesas, com suas perspectivas panorâmicas, rica, com uso de cores, com um tratamento que não existia no Ocidente. Na exposição japonesa foram separadas em seções: mulher, vida urbana, natureza e paisagem.

Vicent van Gogh teria utilizado estas influências, como no seu trabalho “Lullaby: Madame Augustine Roulin balança um berço (La Berceuse)” (1889), inspirado nos ukiyo-e de Utagawa Kunisada e Utagawa Hiroshige, que mostra os atores de kabuki ao lado dela, num fundo de crisântemo estilizado. Ele tinha uma coleção de 480 gravuras de ukiyo-e, informa-se.

Paisagens, foram lembradas por Turner e Constable. Debussy, provavelmente compôs seu La Mer, inspirado na grande onda de Kanagawa. Os cadernos de Katsushika Hokusai, muitos que chegaram a Europa, foram inspiradores ao retratarem os assuntos da vida diária, como os animais, insetos, plantas em outras figuras, normalmente em 10 páginas ou mais.

Como estou programado para visitar o Japão novamente em outubro próximo, espero contar com a oportunidade de conferir pessoalmente esta excepcional exposição, ainda que tenha que me deslocar por uma boa distância.



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