Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Eleições do Brasil na Imprensa Internacional

24 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: , ,

No passado, notava-se um cuidado dos meios de comunicação do exterior, mesmo de circulação internacional, evitando-se tomar posições sobre problemas que poderiam ser considerados de âmbito interno dos diversos países. Atualmente, nota-se que os veículos que costumavam expressar suas posições com candidatos no próprio país passaram a divulgar também suas posições em países que possuem alguma importância no cenário internacional. São casos como da revista inglesa The Economist, de circulação mundial, do jornal inglês Financial Times, dos jornais norte-americanos The New York Times e Washington Post que expressam suas posições, sem nenhum constrangimento, com a pretensão de se referirem a assuntos que podem ter consequências internacionais. Tenho a posição pessoal que devemos nos abstrair de tomar posições eleitorais do que pode ocorrer nos Estados Unidos, no Reino Unido e outros países, respeitando o direito dos seus eleitores.

A tendência geral que pode ser detectada é uma saturação com a linha política que veio sendo adotada pelos recentes governos de Lula da Silva e da Dilma Rousseff, que consideraram prioritária a melhoria da distribuição de renda no Brasil, preservando o emprego e melhorando o salário real no país. Medidas assistenciais a favor de um mínimo de renda para os mais desfavorecidos, ainda que contrariando uma pequena elite que vive dos elevados retornos financeiros nas aplicações, tanto em títulos públicos ou privados, além de ganhos com as liberdades exagerada dos fluxos financeiros internacionais. Ninguém de sã consciência poderia dizer que os governos recentes não cometeram muitos erros que só permitiram um crescimento modesto da economia, muitos erros de gestão foram cometidos, fazendo com que a inflação persistisse em níveis elevados. As comparações internacionais mostram que o desempenho brasileiro foi modestíssimo. Mas criou-se uma nova classe média que prefere manter a atual orientação, ainda que não satisfaça totalmente a grande maioria. Há que se respeitar a opinião eleitoral da população brasileira, ainda que muitos não concordem com ela.

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O que fica difícil é para os jornalistas estrangeiros, por mais competentes que sejam, entender profundamente o que vem acontecendo no Brasil. Se o crescimento econômico vem se mostrando modesto deve-se, em grande parte, à baixa prioridade que veio sendo adotada nas administrações anteriores que desconsideram as atividades voltadas para as exportações, dando maior importância à estabilidade monetária. Muitos podem considerar que isto estava correto, mas certamente não são consensuais, havendo que se respeitar às opiniões contrárias.

Também medidas como a flexibilidade monetária, com a política denominada easing monetary policy, que depois da crise mundial de 2007/2008 iniciada pelas autoridades norte-americanas, para assistir aos bancos daquele país que provocaram muitos problemas. Acabou tendo como consequência o criminoso influxo de recursos para países como o Brasil. Isto valorizou a moeda brasileira, dificultando as exportações e favorecendo as importações, bem como os gastos dos brasileiros com turismos internacionais, como na Flórida.

Provocou-se uma verdadeira guerra cambial no mundo, fazendo com que o Japão e a Europa também desvalorizassem suas moedas, na tentativa de preservar suas contas internacionais. No Brasil, que não tem uma moeda de aceitação internacional como em outros países emergentes, passou-se uma conta que não era da responsabilidade dos brasileiros.

A experiência de dar maior prioridade para os problemas internos começou na Coreia do Sul, que, contrariando o FMI, se negou a adotar uma política monetária e fiscal restritiva para receber a assistência daquela organização internacional. Consideraram o emprego e os salários internos de maior importância, enquanto o Brasil nas administrações anteriores “quebrou” três vezes, o que passou a ser evitado pelos governos mais recentes.

O que nem sempre estas administrações não entenderam totalmente foi que o mundo estava crescendo na década anterior, com o desenvolvimento da China, que beneficiou as exportações brasileiras com preços convenientes dos minérios e dos produtos agropecuários. Ajudou a economia brasileira e isto se deveu pouco à política interna.

Todos admitem que se o governo for reeleito, o que as pesquisas estão indicando, haverá necessidade de ajustes fortes que não serão fáceis, e as dificuldades pelas quais o país está passando não são de recuperação fácil. As empreiteiras e as consultorias que elaboram projetos e as executam estão sendo atingidas nas saudáveis medidas anticorrupção, que afetam àqueles que estão nos seus conselhos de administração, ainda que a responsabilidade seja dos executivos. Fica difícil de aceitar que criminosos que concordaram em efetuar as delações premiadas, que devem ser aplaudidas, fiquem totalmente isentos de responsabilidades criminais.

As correções serão difíceis num cenário internacional que não deve ser favorável nos próximos anos. Mas há que se respeitar a opinião dos eleitores brasileiros, que consideram o emprego que possuem e as melhorias que conquistaram. O que parece interessante é que, apesar dos problemas macroeconômicos do Brasil, os jovens atuais estão mais convencidos que a educação é o mecanismo para a conquista de melhorias de vida, o que permite visualizar que o crescimento da nova classe média vai continuar persistindo no Brasil.

Haverá necessidade de uma adequada incorporação da colaboração do setor privado nos projetos de infraestrutura, pois o governo não contará com os recursos para a sua execução, o que se espera que seja feito com um mínimo de inteligência, como expressou o professor Delfim Neto na sua coluna da Folha de S.Paulo.



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