Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Economia Japonesa no The Economist

7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

Parece fácil ao The Economist elogiar a maciça expansão creditícia do Bank of Japan comandada pelo presidente Haruhiko Kuroda, que nem dentro daquele banco central recebeu uma aprovação unânime, pois se trata de pimenta nos olhos dos outros. Os editores da revista inglesa reconhecem que a medida foi em dose mais que cavalar, fazendo com que os ativos do Bank of Japan superassem em muito ao do Banco Central Europeu e do Sistema Federal dos Estados Unidos. É preciso compreender que uma maciça easing monetary policy para provocar uma forte desvalorização do yen como esta acaba provocando dificuldades adicionais aos seus parceiros comerciais, como ocorre com as reclamações já feitas pelas autoridades filipinas, prejudicando outras economias mais fracas. Acaba estimulando uma guerra cambial, introduzindo incertezas adicionais para a economia mundial e não se constituindo em garantia da recuperação nem da economia japonesa, como reconhecido pelo artigo publicado.

Na minha modesta opinião, nenhuma política econômica pode concentrar todo o fogo num dos seus instrumentos, o monetário, quando o fiscal se encontra em sério risco, com o elevado nível do endividamento público do Japão. A elevação do imposto de vendas de 5 para 8% derrubou a demanda da classe média japonesa, e agora o The Economist afirma que não basta elevar para os 10% como já previsto e difícil de ser efetivado, mas chegar a 20% imaginável pelos mais radicais, de forma paulatina, algo como 1% ao ano. Além disso, muitas outras condições precisariam ser preenchidas, como as reformas mal definidas pela revista. Seria interessante que estas recomendações fossem propostas para o Reino Unido, para ver como arde a pimenta no próprio corpo. Uma recomendação desta natureza coloca em dúvida a sanidade dos seus redatores, como já vêm excedendo nas considerações políticas sobre o Brasil.

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Gráfico publicado na revista The Economist

Existem analistas experientes que reconhecem que este tipo de recomendação se encontra atualmente em voga entre determinadas correntes de economistas, propondo fortes restrições fiscais para correção de desequilíbrios que estão se observando em algumas economias. Ainda que situações equilibradas do ponto de vista macroeconômico sejam desejáveis, há que se preocupar quando os remédios podem matar os doentes, notadamente as economias emergentes.

Deve-se reconhecer que a Coreia do Sul foi uma das primeiras a resistir às recomendações do FMI – Fundo Monetário Internacional alegando que a proteção do emprego e da renda dos seus recursos humanos era mais importante que as temporárias dificuldades de suas contas fiscais. Evidentemente, situações equilibradas proporcionariam mais tranquilidade para os credores externos, mas quando as dívidas externas não são tão cruciais, nem sempre a elegância macroeconômica deve ter tanta prioridade.

Mesmo reconhecendo que cada economia tem suas características próprias, e as experiências internacionais sejam sempre importantes, a análise correta da situação interna de cada país, principalmente dentro dos seus condicionamentos políticos, parecem ser recomendáveis ouvir-se um pouco mais a opinião daqueles que sofrem cotidianamente com os seus problemas, que nem sempre são compreensíveis para analistas estrangeiros, mesmo com as supostas capacidades de suas respeitáveis bagagens de experiências.



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