Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Capacidade de Redação no Enem 2014

14 de janeiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: , , , ,

clip_image001Os analistas estão assustados com 8,5% dos candidatos do Enem 2014 terem tirado nota zero em redação.

Candidatos do Enem 2014

Os especialistas em educação estão alarmados com os resultados do Enem 2014, onde 529 mil candidatos, ou seja, 8,5% do total, obtiveram nota zero em redação. Todos sabem que este quadro terá que ser alterado, pois indica que o número de analfabetos funcionais está aumentando de forma assustadora no Brasil.

Confesso que deixei já há algumas décadas de ser professor da FEA-USP – Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, onde já tinha estabilidade e pedi demissão, pois, quando numa prova no quinto e último ano do curso de economia, me deparei com um aluno que não sabia escrever numa prova. Ele não usava o verbo, só conseguia efetuar associação de ideias com as palavras e usava sinais, como flechas para indicá-las, bem como expressar que alguns fenômenos poderiam estar crescendo, estabilizados ou em redução.

Esta tendência, que agora ficou explícita objetivamente, mostra o fracasso total dos cursos de português, onde os alunos mal conseguem ler, sendo incapazes de expressar ideias coerentes numa redação. O pior é que, com o uso intensivo da internet, esta tendência se mostra em clara deterioração, com muitos jovens abreviando palavras, incapazes de formular uma frase razoável.

Um site como o Asiacomentada recebe muitos comentários, sendo um bom número com péssimas redações que necessitam ser editadas. Se não existe capacidade de comunicação nem na língua portuguesa, estamos realmente diante de um quadro preocupante.

Parece que o problema tem que começar a ser atacado nos estágios iniciais da educação, quando as crianças estão sendo alfabetizadas. Além dos desenhos, que muitos estão começando a rabiscar ainda analfabetos, é preciso que palavras como pequenas frases comecem a ser estimuladas juntas.

No curso primário, além dos estímulos às leituras, há que se solicitar aos alunos comentarem as ideias que estavam nos textos de forma escrita, além das orais. Os alunos necessitam aprender a raciocinar, entendendo que existem regras na língua pátria, notadamente nas manifestações por escrito.

Também com o uso de calculadoras eletrônicas nota-se que para simples somas muitos que trabalham nos estabelecimentos comerciais são incapazes de fazê-las. Estamos sendo transformados em incapazes pelos instrumentos que nos deveriam ajudar na comunicação adequada.

As crianças estão manipulando os abundantes celulares com muita habilidade, e seria interessante que estes aparelhos exigissem um mínimo de redação correta para enviarem suas mensagens para os destinatários, como “enviar”. Sem a colaboração de toda a comunidade, não somente dos professores, não conseguiremos superar estas limitações, acabando com um grande número de cidadãos parcialmente capazes.

Estamos num mundo globalizado e na medida em que temos que competir com povos como os chineses que no seu idioma utilizam elevado número de ideogramas, que exigem o uso dos neurônios, podemos ficar em desvantagem. Sabemos que os seres humanos utilizam somente pequena parte dos neurônios e quanto mais os utilizamos acabamos nos capacitando mais.

O mandarim conta com muitas palavras com entonações diferentes, ainda que sejam escritas de forma semelhante. Elas acabam capacitando os chineses na identificação de sons diferentes que os habilitam a ser mais competentes no domínio de diferentes idiomas como no aprendizado da música.

Não estamos isolados no mundo e uma das maiores qualidades dos seres humanos é a comunicação, onde os textos escritos ocupam uma posição de destaque. Precisamos, além das emoções, ser capazes de uma maior racionalidade, que nos diferenciam de muitos animais.



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