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Parte dos Bastidores da Eleição de Tancredo Neves

16 de janeiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , | 2 Comentários »

clip_image001Depoimento sobre a minha participação direta nos entendimentos com Tancredo Neves para consolidar a sua candidatura à Presidência da República há 30 anos.

Tancredo Neves

Há 30 anos, Tancredo Neves foi eleito indiretamente para a Presidência da República, cargo que infelizmente ele não assumiu por ter falecido em decorrência de uma grave moléstia considerada conveniente manter-se sigilosa. Muitos colaboraram para que ele fosse candidato e eleito. Parte destes bastidores nem sempre é de conhecimento público, pois era confidencial.

Havia uma consciência, mesmo entre a maioria dos militares, que o período autoritário tinha sido mais longo que o desejado por muitos, inclusive por injunção de políticos civis. Estava terminando esta fase da história brasileira e havia conveniência que fosse articulada politicamente uma transição que fosse a menos traumática possível. Tancredo Neves, político experimentado de Minas Gerais, já tinha desempenhado papeis de grande importância como a de primeiro-ministro no curto regime parlamentarista brasileiro. Ele era então governador do importante estado de Minas Gerais, onde havia uma longa e tradicional formação de políticos de primeira grandeza. Ele contava com amplo trânsito entre as diversas correntes políticas.

Entre outros fatos, houve uma dificuldade financeira no Estado de Minas Gerais e o ministro da Fazenda de então, Antonio Delfim Netto, mediante entendimentos bilaterais, providenciou um empréstimo externo para superar o problema. Neste Ministério já vinha fazendo carreira Francisco Dornelles, sobrinho de Tancredo Neves, que tinha ocupado os cargos máximos na Secretaria da Receita Federal como na Procuradoria Geral da Fazenda. Dos entendimentos esboçados, previa-se a sua ascensão para o cargo de ministro da Fazenda na futura administração, como realmente aconteceu, com a Presidência de José Sarney.

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Francisco Dornelles                                                               Ministro Danilo Venturini

Na ocasião, havia entendimentos entre as administrações estaduais com a federal deste tipo, ainda que entre membros de partidos políticos diferentes, um situacionista e outro oposicionista. Na área econômica, havia um convencimento que Tancredo Neves estava entre os que permitiram transições menos traumáticas como presidente da República.

Eu ocupava o cargo de presidente do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e na ocasião ficava vinculado ao ministro de Assuntos Fundiários, ocupado pelo general Danilo Venturini que despachava no Palácio do Planalto. Ele tinha sido ministro-chefe da Casa Militar, e também acumulava o cargo de secretário executivo do Conselho de Segurança Nacional, que contava com uma pequena estrutura junto à Presidência da República, então ocupada pelo presidente João Figueiredo.

Na minha função, havia muitas atividades políticas, como com os governadores Antonio Carlos Magalhães, da Bahia, Virgílio Távora, do Ceará, e muitos outros que tinham importância regional como nacional. Dos auxiliares que estava vinculado ao ministro, Danilo Venturini era dos que mais tinha estas atividades políticas, o que me levava naturalmente, fora das minhas funções oficiais, a colaborar com a Presidência da República, frequentando muito o Palácio do Planalto.

O governo de então resolveu intensificar os entendimentos confidenciais com o governador Tancredo Neves, que considerava um candidato natural e conveniente. Quase semanalmente, um jato executivo da FAB se deslocava sigilosamente de Brasília para Belo Horizonte, com o ministro Danilo Venturini, contando com minha assessoria e participação, bem como um ajudante de ordens, como era normal para os generais. A volta era na mesma noite.

Entre inúmeros assuntos discutidos, em reuniões no considerado Gabinete de Verão, que compreendiam um jantar com o governador Tancredo Neves e uns poucos seus convidados, sondavam-se que condições seriam as mais convenientes para a transição. O governador colocou claramente que se o governo federal saísse com algum candidato, como o ministro Mário Andreazza ou o presidente da Itaipu Costa Cavalcanti, ele não se candidataria. Se fosse disputar com o deputado Paulo Maluf, ele tinha absoluta confiança que conseguiria facilmente a maioria na eleição indireta, como realmente aconteceu.

Costa Cavalcanti não tinha pretensão ao cargo, mas Mário Andreazza alimentava uma leve esperança para tanto, tendo que ser convencido que não era oportuno. Muitos outros assuntos foram discutidos, como a anistia e a reformulação da Constituição, e havia um razoável consenso que, neste último assunto, o envio de um projeto do novo governo seria o mais conveniente.

Ainda que os movimentos de rua como a Diretas Já tivessem importância, sem as adequadas articulações políticas, que se efetuavam em diversas frentes, não se conseguiria uma transição que diferia da que ocorreu em outros países vizinhos.


2 Comentários para “Parte dos Bastidores da Eleição de Tancredo Neves”

  1. Yoshio Hinata
    1  escreveu às 09:56 em 17 de janeiro de 2015:

    Caro Yokota San,
    Sobre a morte do Exmo. Ex-Presidente Tancredo Neves, a pergunta que não quer calar sobre a súbita enfermidade, e morte.
    E não se fala nada a respeito. A jornalista Gloria Maria sumiu, por um longo tempo.
    E o vice-assumiu e foi a calamidade, em 5 anos as empresas japonesas a maioria se retirou depois da desastrosa política econômica (4 planos) e ainda deixou o pais com inflação de quase 100% ao mês. ???

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 17:17 em 19 de janeiro de 2015:

    Caro Yoshio Hinata,

    Lamentavelmente o que aconteceu com Tancredo Neves não é a primeira vez. Todos os políticos tendem a esconder os problemas de saúde que tenham, pensando se tratar de um problema menor. Naquela ocasião o atendimento médico em Brasília ainda era precário, e ele deveria ter se deslocado para um centro como São Paulo. Quanto a composição naquela ocasião era realmente muito artificial, tanto que José Sarney era presidente do partido governista e passou para a oposição de então para compor como vice-presidente a chapa que teria aprovação no colégio eleitoral. Como Sarney mesmo me dizia, havia dois presidentes, ele e o Ulysses Guimarães que comandava o Congresso. Muitos que estão na oposição pensam que é fácil governar, com todas as restrições que existem. Quando assumem o poder, vão verificar que tudo é mais difícil do que imaginavam.

    Paulo Yokota


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