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Crise Hídrica Chegou ao The New York Times

18 de fevereiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

clip_image001Muito se tem escrito sobre a crise hídrica que afeta o Brasil, chegando agora ao The New York Times que publica sobre o assunto um artigo de Simon Romero.

 

Mais de 30% de desperdício da água tratada

Um artigo elaborado por Simon Romero, publicado no site do International New York Times, faz um balanço extenso sobre o que estaria levando a crise hídrica num país que se orgulhava de dispor abundantemente de água potável, inclusive na Amazônia. Ele tem muita razão sobre as mazelas apontadas, a que poderiam ser acrescentadas outras de maior profundidade que exigem considerações de prazo mais longo.

Talvez a própria abundância, mal distribuída, levou o povo brasileiro a ter menos consciência que se tratava de um bem escasso, cujo abastecimento necessita ser pensado a longo prazo, fazendo com que seus líderes políticos subestimassem as providências que deveriam ter sido tomadas há muito tempo. Os principais sistemas de abastecimento urbano foram iniciados pelos ingleses nas principais cidades brasileiras há mais de um século, sem que se cuidasse de sua manutenção para evitar os desperdícios que chegam hoje a mais de 30% da água tratada. Chega-se ao absurdo de não se contar com um mapeamento da rede disponível e principalmente do seu estado atual.

Todos os projetos de abastecimento como de qualquer tipo de uso da água requerem um planejamento mínimo de 20 anos, pois as fontes de água estão localizadas a grandes distâncias dos principais centros urbanos, em altitudes diferentes, exigindo represamentos e bombeamentos com gigantescos projetos, que demandam estudos e períodos de instalação de muitos anos. Muitos alertas já foram feitos pelas autoridades que conheciam profundamente o assunto, mas foram ignorados pelas administrações públicas interessadas somente em projetos que proporcionassem retornos políticos de curto prazo.

A aparente abundância levou a população brasileira a adquirir uma cultura de muito desperdício no seu uso. Os banhos e as lavagens de todo o tipo utilizam a água tratada de forma demorada e para substituir outras formas, como as das vassouras.

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Só agora, em plena crise, os brasileiros estão ficando conscientes que limpezas de calçadas não devem ser feitas com água tratada

Deve-se recordar que os brasileiros herdaram parte do seu saudável comportamento nos banhos com os índios em condições bem diferentes das atuais, com muita abundância de água nos rios. Muitos europeus tomavam banhos eventuais, utilizavam perfumes e poucas toaletes estavam disponíveis até poucas décadas. Os habitantes dos centros urbanos devem ter a consciência para os limites nos usos das águas.

Em muitos países, o reúso das águas é uma rotina normal, quando no Brasil se começou a cogitar dele somente numa situação de emergência. Os rios, como o Tietê e Pinheiros, poderiam ser aproveitados com a eliminação da sua poluição, o que ainda não se conseguiu em São Paulo. Parece, portanto, que ainda existem espaços para a economia do consumo da água disponível.

Uma dificuldade marcante no Brasil é a falta de uma abordagem sistêmica, lembrando que a água é também utilizada para a geração de energia barata e não poluente, permite a navegação fluvial, a irrigação, a piscicultura e até o turismo. Não se trata somente de água para beber e tomar banho, e a sua disponibilidade depende de cuidados de sustentabilidade do meio ambiente. Existem muitos países áridos que aprenderam a conviver com sua falta.

Espera-se que a atual crise leve a população brasileira a encarar a escassez de água como um problema permanente, havendo que se ajustar o seu consumo numa perspectiva de prazo mais longo.



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