Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Difícil Vida dos Estrangeiros Chineses no Japão

17 de fevereiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: , , , ,

clip_image001Um artigo publicado por Teru Clavel no The Japan Times trata da difícil vida dos chineses no Japão, mesmo que sejam bolsistas que obtiveram até o doutorado ou estejam empregados em empresas multinacionais.

Irmãs Mei e Xia Zhang que foram ao Japão em torno de 1980, por ocasião do problema na Praça de Tiananmen

O longo artigo de Teru Clavel trata de alguns casos dos chineses que residem no Japão, até de doutorados nas universidades japonesas, trabalhando em empresas multinacionais, mas que enfrentaram mais dificuldades do que outros estrangeiros diante das tensões políticas e diplomáticas entre os dois países, como a disputa das ilhas Senkaku ou problemas que ocorreram, lamentavelmente, durante a Segunda Guerra Mundial.

A minha experiência pessoal foi de um representante do Brasil no Japão e de executivo de uma empresa brasileira que atuava em muitos lugares da Ásia, com prévias e frequentes visitas àquele país como autoridade brasileira e ainda assim havia alguns problemas devido às diferenças culturais. Também outros brasileiros e estrangeiros amigos que trabalharam no Japão enfrentaram as suas dificuldades, mas há que se imaginar que os chineses, ainda que mais qualificados pelo domínio dos ideogramas, tenham mais dificuldades diante das disputas políticas.

O artigo menciona a longa história entre os dois países, que, apesar dos intercâmbios bilaterais importantes por séculos, sempre mantiveram independências econômicas, políticas, culturais, das linguagens e das artes. E muitos vizinhos têm mais problemas que países com localizações distantes.

Entre os estrangeiros residentes no Japão, cerca de 30% são chineses, estimados em cerca de 650 mil em 2013, incluindo os que trabalham e estudam naquele país. Hoje, os brasileiros são menos de 150 mil. O número de turistas chineses em 2014 foi estimado em 2,4 milhões, sendo superados pelos taiwaneses e coreanos do sul. A esperança é que eles contribuam para a melhoria das relações entre os dois países.

São mencionados diversos casos concretos, como o das irmãs Mei e Xia Zhang, que foram aos Japão pela primeira vez em torno de 1980. Seu pai trabalhava na Universidade de Kobe com uma missão de 3 anos. Xia estudava numa escola pública no Japão enquanto Mei permanecia estudando em Pequim quando estourou os problemas da Praça de Tiananmen, em 1989, ano que se juntou ao pai e irmã em Kobe. Ela aprendeu o idioma japonês e doutorou-se em Economia pela Universidade de Doshisha, em Quioto, com uma bolsa do Ministério da Educação. Ela conseguiu um emprego numa empresa japonesa, casou-se com um americano e tornou-se mãe de dois filhos, não pretendendo retornar à China.

Xia completou os estudos na China, fez pós-graduação em Tóquio, conseguiu um emprego numa multinacional e casou-se com um japonês, tendo três filhos. Ela teve problemas de emprego, ainda que em multinacionais, pois, na realidade, é como as japonesas, aceitando poucas sugestões de funcionários não japoneses. Os chineses dominam mais facilmente os idiomas e suas empresas são mais internacionais que as dos japoneses. Apesar de se sentir grata pelas experiências no Japão, ela pretende retornar à China.

Outro caso citado é da Yanfei Zhou, que pretendia fazer um curso em inglês no Japão, mas foi obrigada a aprender o japonês, o que conseguiu em seis meses. Obteve um mestrado em sociologia e doutorado em economia na Universidade de Osaka, com bolsas de boa qualidade, ainda que pretendesse estudar nos Estados Unidos. É preciso esclarecer que os chineses possuem uma elevada capacidade de domínio de idiomas estrangeiros.

Mesmo com cursos tão importantes numa boa universidade, notou que tinha maiores dificuldades para bons empregos no Japão, só conseguindo dois de tempo parcial. Ela é muito otimista com a evolução dos relacionamentos bilaterais a longo prazo, achando que a China apresenta alguns vieses na educação da história, e, estando com uma população envelhecendo rapidamente, terá que absorver experiências como as japonesas para cuidar dos seus idosos. A política de filho único da China provocou problemas que não permite a continuidade do seu crescimento dentro das próximas décadas, segundo ela.

Ela entende que os jovens chineses são mais ousados empresarialmente, quando os japoneses são menos agressivos. Não pretende voltar à China no futuro e acha que o Japão é um bom lugar para morar, dado que os japoneses são educados e respeitosos com relação às demais pessoas.

Outro caso relatado é do casal Zhiqiang Jing e Jie Quan, que se conheceram num evento do Ministério da Educação e acabaram se casando e tiveram um filho. Jing é um advogado de patentes e a esposa Quan trabalha na televisão estatal NHK, sendo um elemento de ligação com a China.

A família de Jing, que era capitalista, tinha sofrido com a Revolução Cultural, mas ele conseguiu chegar até um curso de pós-graduação em Pequim. Estava no Japão com uma bolsa quando ocorreram os problemas na Praça da Paz Celestial. Quan esperava um curso no exterior em inglês, mas só conseguiu em japonês, que tinha menos candidatos. Ambos foram uma vez para a China, mas, com a possibilidade de melhor educação para o filho, retornaram ao Japão. Ele conseguiu ingressar num curso da Keio quando todos se fixaram no Japão. Mas se adaptaram aos dois países, podendo conhecer as características de ambos os povos.

Como existem 56 grupos minoritários na China, eles estão acostumados a ideia de coexistência e coprosperidade, vivendo com pessoas de diferentes idiomas, o que não acontece no Japão. As inovações na China hoje são frequentes enquanto no Japão há muitas coisas repetitivas. Segundo eles, já não existe necessidade de assistir mais à China, que melhorou a sua economia, mas os japoneses parecem incapazes de mudar. Existem aspectos positivos em ambos os países, e entendem que poderiam se beneficiar mutuamente. Imaginam morarem num outro país, na Europa ou nos Estados Unidos, depois de já terem se acostumados a viver no exterior.

Outros casos mencionados também são de chineses que foram estudar pós-graduação no Japão e acabaram ficando com seus empregos. Não se mencionam os que não possuem cursos universitários, que também devem existir.

A íntegra do artigo pode ser acessado em inglês traduzível no http://www.japantimes.co.jp/life/2015/02/14/lifestyle/love-thy-neighbor-chinese-nationals-call-japan-home/#.VOOBxzpTuUw.



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