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Lee Kuan Yew e Cingapura

23 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , ,

clip_image001Lee Kuan Yew comandou a atual República de Cingapura de 1965 a 1990 como primeiro-ministro e faleceu aos 91 anos, deixando seu filho Lee Hsien Loong no comando deste pequeno país-cidade que era um porto asiático estratégico. Hoje, é uma brilhante metrópole de um país desenvolvido.

Lee Kuan Yew comandou Cingapura por 25 anos

Cingapura era em 1959 um pequeno porto da Comunidade Britânica autocomandado (uma espécie da antiga Hong Kong antes de sua incorporação na China), quando Lee Kuan Yew se tornou o seu primeiro-ministro. Em 1963, com a independência da Comunidade Britânica, tornou-se parte da Malásia para virar uma ilha-cidade-país independente como República de Cingapura em 1965, quando ele se tornou o seu primeiro-ministro. Está localizado no extremo da Malásia, da qual é separada por um pequeno estreito que pode ser atravessado por uma ponte.

Quando conheci Cingapura em torno de 1969, ainda era uma pequena cidade predominantemente de traçado inglês nos seus morros, como se fora o bairro de Pacaembu em São Paulo, com as ruas curvas seguindo sua topografia. Ainda tinha aglomerados como uma ChinaTown, uma IndiaTown e muitos malaios espalhados pela cidade, ainda que sua elite já fosse formada por descendentes de chineses, que hoje constituem cerca de 65% de sua população.

Ainda que pretendesse se tornar um importante centro financeiro do Sudeste Asiático com os primeiros edifícios suntuosos, era difícil imaginar como seria o seu futuro. O que já se destacava era as suas ruas limpas, pois já não se permitia que uma simples ponta de cigarro ou pedaço de papel fosse lançada na rua sem a punição do responsável. No trânsito, já se notava a disciplina imposta à sua população de forma rígida por Lee Kuan Yew. Na época, eu era diretor do Banco Central do Brasil, e já tínhamos os escritórios do Banco do Brasil e do antigo Banco do Estado de São Paulo naquele país.

O governo local esforçava-se para estimular as suas primeiras pequenas empresas, utilizando uma tecnologia que os holandeses já tinham estudado. Eram barracões com muitas facilidades, onde estas empresas que eram os startups da época atuavam agrupadas, contando com energia, comunicações e outras facilidades.

Já havia uma política de um filho por casal, que recebia estímulos para a educação até em universidades estrangeiras totalmente pagas por Cingapura, mediante o compromisso de trabalho no país por alguns anos depois de formado. Os outros filhos, se houvessem, teriam estes custos totalmente arcados pelas famílias.

Continuei a frequentar Cingapura e em 1985 supervisionava a filial da Cotia Trading (do grupo Ovídio de Brito) instalada neste país-cidade, acompanhando a sua evolução no tempo. Não havia congestionamento na cidade, pois para se adquirir um novo carro tinha que ser apresentado o certificado de sucateamento do antigo. Hoje, é possível adquirir um segundo carro, mas a sua tributação é muito elevada.

Estive ano passado em Cingapura e visitei o SUTD – Singapore University of Technology and Design sobre a qual postei um artigo neste site. Cingapura é um país que dá elevado valor à educação e ao mérito, contando com uma elite altamente preparada, tornando-a Capital do Sudeste Asiático. Seu aeroporto de Changi (antiga prisão militar do tempo da ocupação japonesa na Segunda Guerra Mundial) é uma das mais importantes do mundo e, por avenidas suntuosas ladeadas por exuberantes edifícios residenciais, chega-se ao centro, que conta com o que há de melhor no mundo. Ao mesmo tempo, sua beira-mar conta com edificações que assombram os turistas de todo o mundo.

Muitos acusam Lee Kuan Yew de autoritário, mas seu prestígio popular o elegeria facilmente por muitos mandatos, pois era uma figura muito admirada que dava extrema importância à disciplina. Deve ser julgado pelo que fez, o que poucos líderes políticos no mundo conseguiram. Transformou um pequeno país-cidade asiático num dos mais importantes centros do mundo, sob todos os aspectos. As manifestações em todo o mundo lamentando seu falecimento também é uma medida dos seus méritos.



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