Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Condições Desejáveis Para Um Livro de História do Brasil

20 de maio de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , , , | 3 Comentários »

Todos os livros sérios de História demandam muitas pesquisas que podem ser demoradas, para não se tornarem romances que pouco tem com o que aconteceu na realidade. Na FEA-USP, a professora Alice P. Canabrava gastou toda a sua vida fazendo levantamentos usando muitos pesquisadores, mas só deixou contribuições parciais, sem concluir o seu trabalho que era de elevada qualidade e permitiria a ampliação de muitos conhecimentos. Existem casos em outros países de destacado sucesso, como o de Oliveira Lima sobre o Japão, pois ele tinha muitos parâmetros para comparações do que acontecia naquele país com o que aconteceu nos países europeus na mesma época, ele que era um especialista em D. João VI e estudou muito da influência dos Habsburgo.

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Um dos primeiros mapas sobre o Brasil, com as capitanias hereditárias e a linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas

Como todos os trabalhos acadêmicos com pretensões científicas, um histórico sobre o Brasil de dimensões continentais com acentuadas diferenças regionais apresenta conveniência de ser comparado com uma referência, que no caso poderia ser a América Espanhola, que foi dividida em diversos países. É sempre muito difícil imaginar-se que o que foi observado numa determinada região possa ser generalizado para todo o país, que apresenta características com diferenças significativas.

Hoje se sabe que muito do que veio sendo difundido para todos nós como verdades históricas incontestáveis, até nos livros escolares, já podem ser revistos pelo que se conhece notadamente no exterior. Muitos ainda imaginam que as Américas foram descobertas por Cristóvão Colombo e o Brasil por Pedro Álvares Cabral, que se aventuraram por mares desconhecidos.

Eles utilizaram mapas que foram elaborados pelos chineses nos anos que se seguiram a 1420 que vasculharam o Atlântico e o Pacífico, em torno das Américas, como os que pude examinar em exposições realizadas no Japão. Marco como o que os chineses deixaram no México foi apresentado em réplica na China na Expo Shanghai 2010. Gavin Menzies apresentou o resultado de suas pesquisas no livro “1421, Ano em que a China descobriu o mundo”, percorrendo com uma gigantesca frota parte desta parcela do globo.

Numa reunião com acadêmicos japoneses que trabalharam em Portugal, constatei que é generalizado o reconhecimento dos portugueses sobre a falsidade da existência da Escola de Sagres, onde teria sido desenvolvidas técnicas de navegação em alto-mar que justificariam suas inúmeras viagens à Índia, que era o seu objetivo pelas suas riquezas, ainda quando o Brasil não era conhecido pela riqueza dos seus minérios.

Imaginar-se que observações de eventuais viajantes podem corrigir substancialmente as versões históricas semioficiais aparenta uma ousadia. A complexidade do Brasil, com muitas características regionais diferenciadas, parece ser difícil de ser compreendida até por especialistas que vieram para estudar o Brasil, acompanhando personalidades como o príncipe Maurício de Nassau, a princesa Leopoldina e a princesa Maria Amélia de Bragança, como o que foi mostrado numa rica exposição apresentada em São Paulo pelo Itaú Cultural.

Se ainda hoje é difícil ter um retrato do Brasil para os brasileiros, há séculos quem conhecia Belém do Pará dificilmente poderia supor o que fosse o Rio de Janeiro, como Recife e suas diferenças com Salvador. Pelo que se sabe historicamente, as aspirações do Rio Grande do Sul nada tinham com os de Minas Gerais e assim por diante.

As diferenças geográficas moldavam os cenários políticos e econômicos, notadamente nas suas evoluções, fazendo com que livros consagrados, como a “Formação Econômica do Brasil”, de Celso Furtado, fossem como romances bem concatenados, que pouco tinham com o que ocorreu na realidade.

É possível que isto tenha acontecido porque Portugal não tinha uma importância econômica e política como desejável. Os interesses ingleses estavam nos seus costados, notadamente nos seus confrontos internacionais com os franceses.

Se houve um milagre, foi este país se manter como uma unidade, ainda que as aspirações de independência regional estivessem sempre presentes. Nem o sistema federativo, finalmente adotado, não conseguiu resolver as diferenças existentes, com um poder central bastante forte.

As influências sofridas do exterior, tanto pelas intensidades das correntes étnicas, que vieram contribuir com a formação da população brasileira, como as proximidades com vizinhos e mercados internacionais, com os intercâmbios de toda natureza, que eram mais intensos e diferenciados, acentuaram as discrepâncias.

Pode parecer estranho que os relacionamentos brasileiros com os Estados Unidos não foram tão intensos, e os interesses estratégicos decorrentes da Segunda Guerra Mundial determinaram esforços significativos, que também diminuíram, apesar das proximidades regionais.

Parece fingir-se que existe uma unidade nacional, ainda que alguma integração tenha ocorrido. Ao nível da população mais modesta existem diferenças de linguagens, religiões e costumes, que, mesmo atenuado pelos meios de comunicação nacional, ainda revelam acentuadas discrepâncias, determinadas pelas grandes distâncias.

Parece que haverá ainda de se efetuar muitos estudos para que os importantes aspectos históricos brasileiros fiquem mais claros e todas as contribuições podem acrescentar alguns conhecimentos.


3 Comentários para “Condições Desejáveis Para Um Livro de História do Brasil”

  1. Juliana Cruz
    1  escreveu às 14:06 em 27 de maio de 2015:

    Ótima matéria!
    Uma verdadeira aula de história, ou pelo menos a introdução dela, pois a História é longa.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 15:16 em 27 de maio de 2015:

    Cara Juliana Cruz,

    Obrigado pelo comentário. Solicitei ao Embaixador Edmundo Fujita as indicações solicitadas.

    Paulo Yokota

  3. Juliana Cruz
    3  escreveu às 20:05 em 28 de maio de 2015:

    Ok!
    Obrigada mais uma vez por sua gentileza, ficarei no aguardo.
    Grande abraço querido Paulo!

    Juliana Cruz


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