Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Esperanças Nos Pequenos Agricultores Africanos

19 de outubro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002Dois experientes conhecedores de assuntos internacionais, Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, e Sam Dryden, especialista em pequenos produtores agrícolas, escreveram em conjunto um artigo publicado no Foreign Affairs expressando suas esperanças no Green Digital para promover o desenvolvimento da África a partir da prioridade a pequenos produtores agrícolas.

Pequenos produtores agrícolas na África, com predomínios de mulheres

Para os que não aceitam o determinismo histórico, a questão do porquê a agricultura não se desenvolveu na África, berço da Humanidade, é sempre uma questão intrigante, apesar dos esparsos movimentos conhecidos de sua expansão no antigo Egito, no Quênia e algumas localidades como as antigas colônias portuguesas naquele continente. Ainda que não trate diretamente do assunto, Kofi Annan e Sam Dryden expressam suas esperanças com a proposição de cinco princípios para o desenvolvimento sustentável da África, com a disseminação das informações como já vem ocorrendo na Ásia e em algumas localidades africanas.

O sistema alimentar sugerido por eles baseia-se na ideia que a agricultura é mais que a produção de calorias, obtida com os grandes produtores, mas de mudar a sociedade, o que deve ser considerado pelas experiências destes autores. Ambos enfatizam a valorização dos pequenos produtores, a importância das mulheres, o foco na qualidade bem como na quantidade de alimentos, criação de uma economia rural próspera e proteção ao meio ambiente.

Reconhecem os efeitos da revolução verde que enfatizaram a melhoria das sementes e do uso dos fertilizantes, que certamente exige um aumento de pesquisas voltadas para as condições específicas de cada localidade, pois a África é extremamente ampla e diversificada. Segundo eles, a maioria não os usa porque não os conhece, por falta de informações. Acreditam que os pequenos produtores estão capacitados a produzirem mais alimentos, e colocarem preços justos para mudar as pessoas pobres da África, que aparenta uma crença que precisa ser verificada, apesar de ocorrer em casos isolados.

Acreditam que o Green Digital, usando telefones celulares e vídeos digitais, pode proporcionar os conhecimentos aos pequenos agricultores, como tem acontecido na Índia, e já ocorre na Etiópia, Gana, Moçambique e Tanzânia, alguns em programas pilotos. Eles informam que as mulheres são a maior parte dos recursos humanos, ainda que menos produtivas que os homens. Elas gastam mais em educação, nutrição e cuidados de saúde, decidindo melhor que os homens. Também neste aspecto, a tecnologia digital poderia ajudar.

Eles mencionam que até em países desenvolvidos enfatiza-se o sabor dos nutrientes, o que influencia também nas sementes africanas. Mas já existem esforços para a fortificação das sementes em diversos países, como o aumento da vitamina A, o que é possível em novos produtos.

E preciso fortalecer todo o sistema de comercialização posterior à produção, o que beneficiaria os empregos não agrícolas. As empresas que atuam no setor não enfatizaram estes aspectos, mas existem mudanças que já estão ocorrendo. Com subsídios nos usos dos celulares está se conseguindo aumentar a demanda de sementes e fertilizantes, inclusive com pequenas empresas. Os autores enfatizam que a revolução verde, com prejuízo ao meio ambiente. Acreditam que fertilizações com material verde, a boa gestão das águas e outras técnicas podem ser disseminadas com os meios digitais, havendo casos concretos onde os resultados são promissores.

Eles acreditam que o sistema digital pode ajudar a organizar os agricultores, como nas cooperativas. Creem que a fase de simplesmente se evitar a fome já está superada, podendo se cogitar da agricultura de pequenos produtores para promover o desenvolvimento.

O que se constata é que a posição dos autores está baseada numa preferência ideológica, ainda que respeitável. O que vem se observando em países como o Brasil é que parece relevante manter-se aberto o sistema, que é aproveitado pelos mais audaciosos, que passaram de pequenos produtores para grandes, utilizando todos os mecanismos de mercado. É claro que as distorções do sistema de mercado podem ser corrigidas pelas autoridades, mas elas parecem voltadas preferencialmente para os mais poderosos economicamente, mas registram-se também avanços democráticos que são conquistas políticas.

Desde que os meios de comunicação digital sejam voltados para as intenções expressas pelos autores, podem contribuir para que se consigam avanços políticos, além dos resultados econômicos.



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