Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Problema do Suprimento de Água das Grandes Metrópoles

15 de outubro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002Norman Gall é um jornalista internacional que trabalha no Brasil há décadas, tendo uma grande capacidade de apresentar estudos profundos e veementes. Ele apresenta um impressionante libelo com o que vem sendo feito com o abastecimento de água nas grandes metrópoles mundiais, utilizando dois livros recentes elaborados por especialistas. A ênfase acaba recaindo sobre o Brasil, que ele conhece profundamente.

Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial

Norman Gall tem uma grande capacidade de escrever e falar com veemência sobre assuntos importantes. Num recente trabalho de grande eloquência, ele se baseia em dois recentes livros que tratam do assunto: “The Fabric of Space: Water, Modernity, and the Urban Imagination”, de Matthew Gandy, MIT Press, e “Water 4.0: The Past, Present, and Futur of the World’s Most Vital Resource”, de David Sedlak, Yale University Press.

Com amplo conhecimento pessoal no Brasil e diversas metrópoles mundiais, recorre também aos trabalhos efetuados ao longo da história, quando aquedutos foram construídos para abastecerem importantes cidades. Utiliza muitos exemplos para se referir às situações críticas que existem em diversas cidades, onde as águas superficiais e subterrâneas são mal aproveitadas, com muitos disperdícios nas redes precárias para a distribuição do precioso líquido pelas áreas das cidades.

Menciona as reduções de áreas que permitem a permeabilidade para levar a água ao subsolo durante as chuvas, com rápidos escoamentos provocando inundações desastrosas. Como se tratam de obras de alto custo e que servem para longos períodos, muitos administradores públicos não se sujeitam aos investimentos indispensáveis, inclusive de aproveitamento dos resíduos e tratamentos adequados para os seus reusos.

Constata que as grandes metrópoles estão se multiplicando rapidamente, notadamente nos países mais pobres, fazendo com que suas necessidades tenham dificuldades para o eficiente atendimento. Os custos das obras e dos tratamentos são elevados, havendo tecnologias até para o aproveitamento das águas maritimas, mas acabam resultando em águas potáveis cujos custos nem sempre podem ser arcados pela população.

O trabalho faz um resumo deste problema que chega a ser enciclopédico, com tantas situações diferentes que não estão sendo enfrentados, no Brasil ou no exterior. As perspectivas atuais acabam sendo sombrias, exigindo mudanças significativas para alterar o quadro que sacrifica principalmente as populações mais pobres com abastecimentos precários.

Ele informa sobre invasões de populações às áreas críticas próximas aos reservatórios, problema que ocorre com intensidade no Brasil. Não existe um controle adequado, notadamente nas poluições provocadas pelos lançamentos indevidos de esgotos como de poluentes químicos decorrentes das indústrias, tudo apresentado com grande veemência, chamando a atenção para as necessidades de medidas urgentes de correção.

Em algumas regiões do mundo, como a Europa, consegue-se controlar o crescimento das metrópoles, o que não vem acontecendo nos países emergentes. Com este descontrole, mesmo conhecendo-se os problemas de abastecimento de água, não se consegue investimentos suficientes para que a situação atual seja revertida.

Seriam interessantes que fossem citados também os exemplos que estão permitindo soluções razoáveis. No Japão, que leva a vantagem de sua população não estar crescendo, os abastecimentos de água estão melhorando nas últimas décadas. Em Seul, a capital da Coreia do Sul, o rio que atravessa a cidade estava mais poluído que o Tietê, em São Paulo, e hoje sua água está límpida até com peixes em quantidade. Ainda que sejam exceções, podem servir de inspiração para outras iniciativas em diversos países.

Sempre que problemas calamitosos ocorrem, como o atual quadro do abastecimento de água, cria-se uma situação semelhante à demográfica apontada por Thomas Malthus, mas percebe-se que a humanidade conta com um instinto de perpetuação da espécie e acaba encontrando soluções mesmo custosas e exigindo mudanças culturais expressivas.

Certamente, o libelo de Norman Gall vai ajudar na mais rápida conscientização do problema.



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