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Privatização de Hidroelétricas no Brasil

25 de novembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , , | 2 Comentários »

O complexo hidroelétrico de Urubupungá é formado por duas usinas, a Jupiá e Ilha Solteira, e foi construído pela CESP – Centrais Elétricas de São Paulo, com tecnologia brasileira.

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Usina Hidroelétrica de Jupiá                                   Usina Hidroelétrica de Ilha Solteira

A CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai, autarquia formada pelos Estados, numa colaboração com a ONU – Organização das Nações Unidas, onde trabalhamos no início dos anos sessenta do século passado, planejou o aproveitamento energético da região Centro Sul do Brasil. Inspirava-se no TVA – Tennessee Valley Authority, que Franklin D. Roosevelt utilizou nos Estados Unidos como um dos programas para superar a crise de 1929. O conceito usado era que a água tinha múltiplos usos e seu aproveitamento mais racional deveria começar com as barragens à montante até chegar à jusante, fazendo com que o armazenamento da água permitisse um mínimo de água mesmo nos períodos de longas estiagens. O objetivo principal seria a geração de uma energia limpa, mas também servir para a navegação fluvial, irrigação, pesca, turismo e outros usos.

O programa foi executado com eficiência, onde o complexo Urubupungá é uma das etapas mais importantes, compreendendo as usinas de Jupiá e Ilha Solteira, uma bem próxima da outra, até chegar a Itaipu, na divisa do Brasil com o Paraguai, na proximidade da Argentina. Todas as usinas contam com um sistema onde os navios utilizados para o transporte fluvial possam atravessar as barragens, apesar do desnível.

Estes programas exigem planejamentos de longo prazo, que chega a 25 anos, pois somente Itaipu levou 17 anos para a sua construção. A demanda da energia precisa ser estimada, no mínimo, com antecedência de 15 anos. Os projetos acabam propiciando aos especialistas conhecimentos que vão além da engenharia pesada, tecnologia dos pesados equipamentos, transmissões e a economia que determinará a evolução do consumo em prazos longos.

Agora, estes investimentos que foram feitos com recursos públicos, passam a contar com o gerenciamento privado e até de grupos estrangeiros. No recente leilão efetuado pelo governo federal concedendo os direitos destas explorações, os grupos chineses estão investindo pesadamente nestes projetos, pois sabem que seus ativos financeiros, notadamente em dólar, correm o risco de não proporcionar rendimentos estáveis ao longo do tempo, apresentando também riscos cambiais. No Brasil, estão acreditando nos retornos dos investimentos em geração e transmissão, o suficiente para remunerar os recursos aplicados, além de aprofundar o relacionamento com o país. Principalmente quando existem dificuldades no mundo, e os preços destes ativos encontram-se baixos.

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Usina Hidroelétrica de Three Gorges, na China

As tecnologias desenvolvidas e utilizadas no Brasil sempre interessaram aos chineses, tanto que a maior usina hidroelétrica do mundo, Three Gorges, foi construída na China e é uma adaptação do que copiaram nas suas frequentes e grandes missões. Como possuem volumosos ativos financeiros, a Three Gorges venceu a licitação no Brasil e passará a ser responsável pelas Usinas de Jupiá e Ilha Solteira, a partir do próximo ano. Espera-se que a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica tenha tomado todos os cuidados para manter o seu controle pelo uso destas águas e energias, principalmente pelo fato da vencedora ser uma estatal estrangeira.


2 Comentários para “Privatização de Hidroelétricas no Brasil”

  1. Hugo Penteado
    1  escreveu às 10:17 em 26 de novembro de 2015:

    Hidrelétricas são um desastre ambiental sob todos os pontos de vista analisados.

    Não precisamos de mais energia. Precisamos conter o desperdício global estimado pelo New Economics Foundation ligado ao Schumacher College de 73% da oferta mundial!!!!

    Essas hidrelétricas atendem interesses específicos de grandes obras que não há o menos controle dos gastos e nem da forma como tudo é implementado e vira um foco de sangria de dinheiro do contribuinte.

    Os custos ambientais e sociais são amplamente ignorados.

    Se cortarmos o desperdício e mudarmos nossos hábitos (dieta, transporte, construção, sair da agricultura agrotóxica que é uma cobra que come o próprio rabo para agricultura orgânica familiar) teremos chance de evitar o colapso do planeta sobre nossas cabeças.

    Abraço

    Hugo

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 15:53 em 26 de novembro de 2015:

    Caro Hugo Penteado,

    Conhecendo suas convicções com as quais concordo parcialmente, sempre fico imaginando se tais mudanças não implicam em outros custos, sendo que somente alguns são inteligentes e todos os demais são totalmente obtusos. Minha posição é que existem muitas restrições de toda a natureza e mesmo que do ponto de vista global se possa pensar nos desperdícios das energias, parece-me que existem interesses nacionais que são variados, havendo abundâncias em determinados lugares e faltas em outros. O que já existe pode ser melhorado marginalmente e devemos estudar as condições indispensáveis para tanto. O estoque do que já temos são difíceis de serem eliminados para serem substituídos por outros usos e costumes que exigem custos para serem alterados. O ponto relevante, me parece, é que existem pontos de inflexões a partir da qual se processam mudanças de rumos, que vão perseguindo alvos que devemos atingir com o tempo. Não me parece que posições radicais sejam operacionais. As hidroelétricas existentes são, normalmente, menos poluentes que muitas alternativas.

    Paulo Yokota


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