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Os Imigrantes Japoneses na Manchúria

19 de dezembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: , , ,

Ainda que muitos japoneses atuais nem saibam dos emigrantes do Japão que saíram para os Estados Unidos ou Brasil, menos notícias são dadas sobre os que foram para a Manchúria na Era Showa (1926 – 1989), sendo parte como imigrantes e parte como forças de ocupação militar. Até hoje, muitos dos seus descendentes ainda não foram localizados, principalmente as crianças adotadas pelos chineses, por exemplo, durante a retirada depois da Segunda Guerra Mundial.

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Emigrantes japoneses atraídos para a Manchúria, similar com o relacionado com o Brasil e tropas de ocupação japonesas enviadas para lá

O Japão sempre contou com limitações para acomodar a sua população que estava crescendo na primeira metade do século XX. Regiões próximas como a Manchúria apresentavam áreas que poderiam acomodar estas populações e poderiam ajudar a abastecer o Japão. Emigrantes foram para lá mandados e, com ocupação de parte da China pelos japoneses, a Manchúria também foi ocupada militarmente. O Japão contava com um tratado de não agressão com a Rússia, mas no final da Segunda Guerra Mundial os russos procuraram ocupar as regiões possíveis, tanto em direção à Alemanha como em direção ao Japão.

Tanto que os militares com prioridade como imigrantes tiveram de voltar de forma desorganizada para o Japão, o que foi uma retirada dramática como poucas na história da humanidade, havendo muitas falhas nos seus registros. Um artigo publicado no Asahi Shimbun procura organizar os dados possíveis, alguns com estimativas, diante da falta de registros oficiais.

Estima-se que na retirada da Manchúria, o número de mortos excede a soma dos que faleceram nos bombardeiros atômicos de Hiroshima e Nakasaki, cerca em 210 mil japoneses.

A matéria publicada no Asahi Shimbun refere-se a uma epopeia contada por uma sobrevivente, mais dramática que as relatadas em alguns romances, tanto pelas dificuldades com os russos como as retaliações que sofriam dos chineses e habitantes da Manchúria.

Tive a oportunidade de conversar com um alto oficial do Exército japonês enviado para a Manchúria para tentar organizar a retirada. Ele foi preso pelos russos por muitos anos, e acabou trabalhando no final de sua carreira numa grande trading company japonesa. Estima-se que 240 mil civis japoneses faleceram na Manchúria, cifra que não tem paralelo no mundo. Na batalha de Okinawa, estimam-se a perda 120 mil civis japoneses.

Depois do restabelecimento das relações diplomáticas entre os japoneses e chineses, efetuaram-se esforços para a localização dos sobreviventes nipônicos, mas os resultados são modestos e as pesquisas estão interrompidas.

Os dados atuais do governo japonês estimam que cerca de 6,3 milhões de japoneses retornaram depois da Guerra para o Japão, sendo 3,1 milhões militares, o que leva a estimar que 3,2 milhões eram civis. Quando se comemora os 120 anos das relações diplomáticas nipo-brasileiras, mesmo procurando se destacar o papel e os sofrimentos dos imigrantes japoneses no Brasil, quando comparados com outros dados, há que se considerar que existem cifras mais impressionantes.



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