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As Lições dos Sobreviventes de Hiroshima

15 de fevereiro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002Aguardei com ansiedade a apresentação teatral dos três sobreviventes do bombardeio atômico de Hiroshima, apresentado em São Paulo. Os pontos fortes foram os depoimentos deles, dando a todos lições de grande importância pelo claro manifesto contra as guerras.

O cogumelo formado com a explosão da bomba atômica em Hiroshima

Na apresentação teatral dirigida por Rogério Nagao, como havia previsto, os depoimentos de Takashi Morita, mais de 90 anos, Kunihiko Bonkohara, mais de 80 anos, e Junko Watanabe, mais de 70 anos, foram os pontos altos, de maiores impactos sobre a plateia. Ninguém pode ficar indiferente diante destes sobreviventes, que, apesar de suas idades, apresentaram-se de forma invejável, com relatos a viva voz de uma parte pequena do que sofreram.

Takeshi Morita mostrou vigor físico e mental raro para as pessoas de sua idade, expressando-se num precário português, mas compreensível. No debate que se seguiu, tinha dificuldades naturais para entender as questões levantadas em português como apresentar seus pontos de vista que não haviam sido treinados. Mas, frustrando muitos jovens, ele condenou a guerra e não os personagens norte-americanos, não revelando na sua personalidade nenhuma frustração, mesmo repetindo sempre que foram acontecimentos inesquecíveis.

Junko Watanabe, que tinha somente dois anos quando sofreu o bombardeio, deixou implícito o preconceito que ainda existe mesmo no Japão com os sobreviventes, com os receios de que carreguem sequelas que podem ser transmitidos para seus descendentes. Ela esteve nos Estados Unidos onde alguns cidadãos pediam perdão, mas ela os consolava, pois eles estavam recebendo ordens, deixando claro que condenava a guerra e não seus personagens.

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Takeshi Morita, Junko Watanabe e Kurihiko Bonkohara

Kurihiko Bonkohara era um adolescente durante o bombardeio, e ele relata que as vítimas apresentam ao longo de suas vidas muitas doenças decorrentes da contaminação. Ainda que curados com tratamentos adequados, sempre aparecem novos e muitos são sobreviventes até chegarem à idade centenária.

De acordo com a orientação do diretor do evento, todos atuavam voluntariamente mesmo não sendo atores, e estavam satisfeitos com a receptividade que recebiam do público, que continua pouco informado de todo o histórico dos acontecimentos até hoje. O que seria interessante é que os que estavam na plateia encontrem formas efetivas de ação, não se resumindo a tomar conhecimento e se sensibilizarem com os problemas das armas atômicas.

Os depoentes fizeram questão de afirmar que, apesar dos problemas, os Estados Unidos acabaram ajudando o Japão na sua recuperação, resolvendo os agudos problemas da fome que atingia a população japonesa.

O que parece lamentável é que o público brasileiro ainda está pouco informado sobre os antecedentes da Guerra no Pacífico bem como detalhes dos usos dos armamentos atômicos. Os assuntos geopolíticos não são, infelizmente, de interesse do grosso da população que acaba se emocionando mais com os problemas mais agudos, de interesse mais imediato, dependendo de suas posições ideológicas.

Estes sobreviventes já convivem com seus problemas por décadas e encontraram formas de dar maior sentido as suas experiências e vidas, procurando divulgar os seus pontos de vista, inclusive contra as autoridades japonesas, das quais conseguem concessões. Eles possuem conhecimentos preciosos que precisam ser aproveitados por todos que podem usufruir de contatos pessoais. Seria interessante que eventos da profundidade como os que foram promovidos sejam preparados com pontos de vistas consensuais para melhor aproveitamento das plateias destas raras oportunidades.



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