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O Globo Publica Artigo Com Imprecisões Sobre Delfim Netto

3 de fevereiro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image001Quando a imprensa passa por dificuldades econômicas, estagiários como Augusto Decker, com muitas disposições positivas, mas ainda com pouca experiência jornalística, publica artigos que não reproduzem a totalidade das informações que são complexas nas suas interpretações, quando envolvem a política e a economia.

O artigo publicado no O Globo com o título “Delfim, de czar da economia a conselheiro de Lula e Dilma”

Analisar o papel desempenhado por personalidades como Delfim Netto exige experiências e informações como os expressos por Elio Gaspari do mesmo jornal, ele que sempre foi um interlocutor frequente do ex-ministro. Não se pode culpar se um jovem estagiário não conta ainda com todas as informações dos bastidores da política e da economia.

Muitos sabem que Delfim Netto atuou nos bastidores para que Tancredo Neves viesse a tornar-se o primeiro presidente depois do regime militar, até por que seu sobrinho Francisco Dornelles trabalhou por um longo período sob o comando do ex-ministro. Ele foi ajudado com uma operação externa quando o governo do Estado de Minas Gerais passava por dificuldades. A transição para Tancredo contou com negociações sigilosas, pouco tendo resultado de movimentos como o Diretas Já, que mereceu uma ampla cobertura da imprensa. A realidade é mais complexa do que parece.

O autor qualificou Delfim Netto como o czar da economia por alguns períodos, o que já seria indevido, mas também utilizou a imagem de Rasputin, o que parece discutível. É preciso entender que Delfim Netto foi parlamentar por diversas legislaturas democráticas, inclusive na Constituinte e sempre manteve contatos, quer com oposicionistas quer com governantes. Quando ministro da Fazenda, já tinha contatos com Lula da Silva, ainda um diretor de um sindicato no ABC. Há conveniência que quem esteja desempenhando um papel importante converse inclusive com membros ativos da oposição.

Os governos militares não foram uniformes, havendo sempre um respeito à hierarquia, onde o presidente era o comandante geral. Muitos ministros da Casa Civil desempenharam papéis importantes, ainda que alguns ministros econômicos aparecessem com maior frequência na imprensa. Figuras como Leitão de Abreu tiveram mais poder que Delfim Netto.

Seria interessante que se mencionasse que Delfim Netto era um socialista fabiano, não marxista, como alguns ingleses, donde decorre a parte de sua preocupação social. No governo Castello Branco, Delfim Netto era membro do Conselho Nacional de Economia, e ajudou o ministro Octávio Bulhões e Roberto Campos notadamente no EPEIA, no planejamento geral. Ele não tinha nenhum modelo matemático, ainda que fosse professor de Econometria, fazendo muitas restrições a modelos econômicos que são simplificados e sujeitos à probabilidade. Os testes estatísticos não rejeitam as hipóteses, mas nenhum aceita elas.

A relação com o seu período como ministro da área econômica com a inflação parece inadequado. Houve uma sensível redução no período inicial e os problemas econômicos mundiais decorreram das crises petrolíferas, não se restringindo ao Brasil. A elevação dos juros foi uma decisão do FED norte-americano sob orientação de Paul Vocker, que chegou a mais de 20% em dólares.

Uma das razões para a designação de Delfim Netto para a embaixada em Paris, durante o governo Ernesto Geisel, decorreu da amizade que tinha com o presidente Giscard D’Estaing, que foi seu colega como ministro das Finanças quando ele era ministro da Fazenda no Brasil.

Muitas elações do artigo não decorrem do papel de Delfim Netto como conselheiro, mas algumas de suas posições acabam sendo aproveitadas com mudanças, o que parece uma realidade inegável.

Parece que algumas afirmações categóricas poderiam ser evitadas, ainda que decorrentes das ousadias dos jovens.



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