Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Limitados Auxílios da Ciência Política Para Entender o Brasil

8 de abril de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , , | 2 Comentários »

clip_image002É natural que se procure as interpretações dos cientistas políticos para melhor entender o que se passa no Brasil, mas as pesquisas têm sido frustrantes, fornecendo poucas luzes sobre o que se pode esperar.

Plenário do Congresso Nacional e sua difícil interpretação

Quando converso com meus amigos estrangeiros que procuram acompanhar os acontecimentos políticos no Brasil, noto as suas perplexidades a partir das cenas observadas no Congresso Nacional. Normalmente, os Legislativos da maioria dos países contam com lugares para acomodar a todos os parlamentares, sendo difícil aglomeração em frente à mesa que orienta os trabalhos. Muitos perguntam inicialmente onde estão os situacionistas e os membros da oposição, o que é impossível de ser visualizado no Brasil, pois todos estão misturados na multidão. Não existe o mínimo de disciplina para dar eficiência aos trabalhos parlamentares.

O problema se amplia com a presença de mais de 25 partidos políticos que sequer se diferenciam pelos seus programas e onde os membros não seguem as orientações partidárias sequer nas votações fundamentais. A fidelidade partidária não tem o menor sentido e, como no atual caso da votação do impeachment, as negociações são feitas até com cada membro. Compreendo a angústia de muitos quando os cientistas políticos são solicitados a darem suas opiniões sobre as tendências que podem ser apontadas. Ninguém pode se arriscar a dar sequer uma aproximação grosseira, pois qualquer fato dramático pode alterar totalmente o clima emocional que domina o plenário. Não há um mínimo de racionalidade, a não ser que todos os membros defendem mais os seus interesses em detrimento aos do país.

Muitos se colocam contra o governo, mas os cientistas políticos mal podem traçar o cenário de uma eventual vitória ou derrota do impeachment, pois os problemas fundamentais do país não estariam vinculados a estes resultados. As reformas indispensáveis, duras e que atingirão fortemente os interesses da população terão que ser negociadas e não parece existir a mínima intenção de nenhum grupo arcar com seus custos políticos. No fundo, ninguém sabe como será o Day After.

Cogitações absurdas acabam sendo aventadas, como a convocação de eleições gerais, diante da incapacidade de governar da situação e da falta de alternativa da oposição. No país vigora o regime presidencialista e não parlamentarista e esta solução não se encontra prevista na atual Constituição.

Uma possibilidade será a continuidade da atual situação angustiante até as próximas eleições, enquanto o cenário econômico tende a piorar por falta de qualquer definição, que não favorece os investimentos indispensáveis para a melhoria do quadro. Neste interregno, espera-se que alguns programas sejam elaborados, agregando as forças políticas indispensáveis para o seu suporte. Triste perspectiva.

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Espero que alguns cientistas políticos possam fornecer quadros mais otimistas, sabendo-se que em qualquer alternativa haveria que se trabalhar intensamente para o amadurecimento de um mínimo de consenso no Brasil.


2 Comentários para “Limitados Auxílios da Ciência Política Para Entender o Brasil”

  1. Milton Ifuki
    1  escreveu às 21:04 em 10 de abril de 2016:

    Infelizmente não cabe aos cientistas políticos apresentar visões mais otimistas, mas cabe aos políticos, entidades de classe, ONGs e personalidades buscar desde já a formulação de um consenso para o day after. Independentemente do resultado e da eventual data do impeachment.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 08:26 em 11 de abril de 2016:

    Caro Milton Ifuki,

    Obrigado pelo comentário. Parece que a grande dificuldade para os cientistas políticos seja da falta de instrumentos de análise para situações como a brasileira. Não se trata da necessidade de alternativas otimistas, mas da compreensão de quais fatores poderia ser considerados relevantes na futura evolução. Tenho a impressão que todos estão usando os seus “achometros”, sem que haja análises mais profundas, que são difíceis de serem elaboradas. Acredito que não amadurecemos ainda as condições para novos aperfeiçoamentos.

    Paulo Yokota


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