Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Brasil e a União Europeia

27 de junho de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Muitos se preocupam com o que está acontecendo na Europa e seus efeitos sobre o Brasil. Nem tudo já está consolidado, havendo necessidade de aprofundamento dos entendimentos para a clara definição de suas consequências.

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Ilustração das dificuldades que estão sendo enfrentadas pela Europa

Um amigo do Japão me solicitou a avaliação do impacto do resultado do plebiscito no Reino Unido para o Brasil. O tema é amplo e vou fazer um balanço pessoal, aproveitando o que já tenho publicado neste site. O Itamaraty, com o ministro José Serra, tenta dar uma versão otimista, pois as negociações do Mercosul com a Comunidade Europeia caminhavam com dificuldades e a expectativa é de um acordo mais fácil com o Reino Unido, pois ele depende muito das importações de produtos que o Brasil pode fornecer. Acho que é uma posição das autoridades que precisam de notícias positivas, mas acho que vamos enfrentar muitos problemas que demandam tempo para serem equacionados.

De um lado, o que está acontecendo deve acelerar os processos de separação aspirados por outros países ou regiões, começando com a Escócia que deseja ficar na União Europeia. O Reino Unido, que já estava envelhecendo em suas ideias, vai enfrentar muitas dificuldades, pois os jovens desejam contar com a liberdade para continuar trabalhando em muitos países europeus, o que pode ficar mais difícil. Mas todos têm interesse que os pontos que ainda necessitam de definições sejam equacionados com maior velocidade possível.

Aumentaram-se as incertezas que não ajudam a ninguém. Muitos detalhes precisam ser acertados nos próximos anos e os europeus esperam acelerar as negociações, para reduzirem o período de incertezas. Eles acabarão enfrentando todas as tensões separatistas que existem no continente, onde os mais acirrados podem ser os da Espanha, que pode ser dividida em cerca de quatro países diferentes.

O mais provável é que haverá necessidade de vistos diplomáticos para se viajar pelo Reino Unido, ou do que sobrar dele. Muitos brasileiros que possuem passaportes europeus, como os descendentes de italianos, não poderão viajar livremente para ver o Museu Britânico ou ouvir concertos em Londres, ao mesmo tempo em que o emprego naquele centro tende a se reduzir. Um visto para os brasileiros permitia viajar por toda a Europa, mas o aumento da resistência aos migrantes deve ser um fato marcante, dificultando a sua concessão.

O Brasil vinha utilizando as instituições financeiras de Londres, desde a criação do eurodolar. Agora parece que uma parte destas operações tenderá a ser transferida para Frankfurt, que tem as melhores condições na Europa atual do ponto de vista financeiro. Estes ajustes não são fáceis para um país que depende de fortes financiamentos internacionais, ainda que existam agilidades para tanto, principalmente nos bancos que estão acostumados a operar em todo o mundo.

A tendência é do Reino Unido perder importância econômica, para uma região idosa e cujas empresas já se tornaram multinacionais. O comércio internacional já tinha se globalizando, mas sempre poderá sofrer desacelerações adicionais com as tendências nacionalistas atuais. Os investidores árabes, russos e outros poderão se interessar menos pelos projetos imobiliários do Reino Unido. O Brasil não deve contar muito com os ingleses, que enfrentarão suas dificuldades.

Os acordos comerciais ficarão mais difíceis e tendem a ser bilaterais, pois até mesmo os tipos TPP devem exigir mais cuidados. Os organismos internacionais já vinham se desmoralizando com tantos burocratas interferindo em assuntos nacionais. Há uma evidente reação nacionalista no mundo, que não se restringirá à Europa.

Portanto, resumidamente, o que está acontecendo na Europa não deve ajudar o Brasil, pelo contrário, está mostrando que tanto os políticos, a população como os meios de comunicação social contam com limitações para entender os verdadeiros sentimentos de todos os povos locais. Acho que os japoneses podem estar preocupados com investimentos feitos no Financial Times como The Economist, como outras suas empresas que contam com subsidiárias no Reino Unido.

Já tínhamos problemas demais e acredito que outros foram adicionados, infelizmente, esperando que sejam revolvidos rapidamente. Pode ser que as dificuldades sirvam de challenge para iniciativas mais criativas, exigindo a formação de novos estadistas. O mundo já superou problemas mais graves no passado e os atuais, ainda que complexos, não são mais difíceis do que os decorrentes das guerras. Mas,não se pode negar que a economia mundial diminuiu de tamanho na última semana.



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