Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Dura Realidade Geopolítica Atual do Japão

5 de dezembro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: , , , | 2 Comentários »

imageUma duríssima nova realidade geopolítica do Japão começa a ser discutida como decorrência da eleição de Donald Trump, exigindo das autoridades japonesas negociações com suas potências vizinhas, como a China e a Rússia.

Novas negociações entre a Rússia e o Japão neste final do ano, com a visita de Vladimir Putin ao país do Sol Nascente

Um artigo de Junko Horiuchi, da agência noticiosa Kyodo, foi publicado no site do The Japan Times. Refere-se à dura negociação entre a Rússia e o Japão envolvendo entre outros aspectos as disputas entre os dois países sobre ilhas do norte do território japonês. Sabe-se que no final da Segunda Guerra Mundial, apesar da existência de um acordo de não agressão entre os dois países, quando ficou claro que o Japão seria derrotado pelos aliados comandados pelos Estados Unidos, os russos avançaram em direção a estes territórios.

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Mapa das ilhas ao norte de Hokkaido disputadas pelo Japão e pela Rússia

Com os bombardeios atômicos sobre Hiroshima e Nagasaki, além da derrota militar, o povo japonês aceitou na sua Constituição que não contaria com forças para preservar a sua independência política internacional, notadamente com a posse de armamentos nucleares. Uma aliança foi estabelecida com os Estados Unidos, que proporcionaria a defesa internacional do Japão com suas forças, inclusive estacionadas no território japonês.

No entanto, a vitória de Donald Trump, com uma clara orientação nacionalista populista, os Estados Unidos caminham para a redução de suas forças internacionais para a defesa de seus aliados, como acontece na Ásia. O Japão é forçado a aumentar seus entendimentos políticos internacionais, notadamente com seus poderosos vizinhos, como a China e a Rússia, passando a cuidar mais intensivamente de sua segurança externa. É evidente que esta atual situação desconfortável exige uma radical reformulação de sua geopolítica num período difícil do ponto de vista econômico.

O Japão se manteve por um tempo exagerado sem grandes investimentos nas suas forças militares, utilizando os recursos para o seu desenvolvimento econômico, que também já passa por décadas de estagnação diante do seu baixo crescimento populacional, com dificuldades para aceitar imigrantes de outros países.

Agora, necessita reduzir a sua exagerada dependência dos Estados Unidos, o que não é um processo fácil de ser executado, apesar dos seus avanços tecnológicos em alguns setores. Vem aumentando também seus relacionamentos econômicos com outros países emergentes, notadamente do Sudeste Asiático. Estas mudanças são profundas e exigem alterações radicais no comportamento de suas empresas que atuam no mercado internacional.

Lamentavelmente, sua prioridade acaba ficando com os países mais próximos do ponto de vista geográfico, o que acaba redundando na redução de suas prioridades para os relacionamentos com países distantes, como o Brasil, apesar do clima favorável criado por décadas de bons relacionamentos, que começaram com a imigração.

Esta diversificação de relacionamentos internacionais, como os que vêm sendo praticadas pelos brasileiros, apesar de algumas inconveniências, deixam de gerar situações como as que estão sendo enfrentadas agora pelo Japão.


2 Comentários para “A Dura Realidade Geopolítica Atual do Japão”

  1. José
    1  escreveu às 11:31 em 6 de dezembro de 2016:

    É preciso esclarecer algumas coisas no seu artigo, que são:

    1- Japão e Rússia até hoje não assinaram um tratado para terminar formalmente a Segunda Guerra Mundial devido à disputa territorial sobre as ilhas Kurilas que se estendem de Hokkaido até a península de Kamchatka;

    2- O artigo 2 (c) do tratado de paz de San Francisco de 1951 entre as potências aliadas, o Japão concordou inequivocamente que eles desistiram de “todo o direito, título e reivindicação às Ilhas Kurilas”;

    3- Em outubro de 1951, o chefe do Departamento de Tratados do Ministério das Relações Exteriores do Japão, Kumao Nishimura, foi interrogado em uma comissão de Dieta se esse texto significava que o Japão havia renunciado ao seu direito a Etorofu e Kunashiri, ele respondeu que o Japão sob o tratado tinha, de fato, desistido de seu direito tanto a Kurilas do Norte como do Sul. O primeiro-ministro do Japão naquela época, Shigeru Yoshida, admitiu em suas memórias de 1962, quão relutante ele estava em San Francisco para assinar o tratado por causa daquelas ilhas;

    4- Como pode o Japão pode afirmar que nunca desistiu das ilhas então?
    Fácil. Apenas declaram que todas aquelas ilhas nunca fizeram parte dos Kurilas, chamando aquelas ilhas como “Territórios do Norte”, para sustentar essa afirmação, eles apontaram para a redação de um tratado de 1875 com a Rússia czarista, onde todas as ilhas ao norte de Etorofu (o que normalmente seriam chamados Kurilas do Norte) foram descritas como “Kurils”, sem a letra “a”;

    5- Na conferência de 1956 para decidir as relações do pós-guerra entre o Japão e a URSS, foi acordado que quando um tratado de paz entre os dois for assinado, Moscou devolveria Shikotan e Habomais.

    6- O Japão tem insistido desde então que não pode haver nenhum tratado de paz a menos que Etorofu e Kunashiri também sejam devolvidos, mas os russos disseram “NYET”. E assim o impasse continuou até hoje.

    Enfim, tenho dúvidas que o Japão terá as ilhas menores devolvidas. A promessa de Moscou de 1956 estava condicionada ao Japão não se unir a qualquer aliança anti-Moscou. Seria difícil argumentar que a aliança de segurança com os EUA não seja isso, não é?

    Além disso, as atuais disputas com o Ocidente sobre a Criméia ea Ucrânia oriental parecem ter desencadeado um ressurgimento da relutância nacionalista russa em fazer quaisquer concessões territoriais em qualquer lugar, pois a recente movimentação russa em estacionar foguetes defensivos nas ilhas Kurilas tornou a mensagem ainda mais clara.
    Na minha humilde opinião, quando se trata de questões de soberania, Putim não vai fazer quaisquer concessão!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 08:49 em 11 de dezembro de 2016:

    Caro José,

    Obrigado pelas suas informações. O tempo vai mudando as interpretações, e novas negociações são sempre possíveis.

    Paulo Yokota


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