Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Continuidade do Interessante Relato de Carlos Ghosn (2)

3 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002 Eu havia imaginado que a série de depoimentos para o Nikkei Asian Review começava com Carlos Ghosn para se estender para outros empresários. Mas fui surpreendido por uma nova parte que dá continuidade à história familiar dele, de elevado interesse, pois o Brasil é um país de muitos imigrantes de diversas origens que têm suas características próprias, incluindo os libaneses e japoneses.

Carlos Ghosn quando criança, em foto publicada no Nikkei Asian Review

Na segunda parte do depoimento de Carlos Ghosn para o Nikkei Asian Review, ele relata as histórias do seu avô que chegou do Líbano como imigrante no Brasil no início do século 20, com ligeiras semelhanças às de alguns japoneses, servindo como um benchmark para comparações.

Seu nome completo é Carlos Ghosn Bichara e de seu avô era Bichara Ghosn, um maronita (cristão). Inicialmente ele veio para o Rio de Janeiro, quando tinha 13 anos, somente com uma mala na mão. Pode se acrescentar que o Oriente Médio já passava por muitas disputas num período econômico difícil, entre os ingleses e franceses que mantinham suas influências na região, mesmo depois da queda do Império Otomano (muitos árabes vieram para o Brasil com passaporte turco), além das diferenças étnicas e religiosas entre os próprios árabes. Ele levou três meses de Beirute, capital do Líbano, ao Rio, então capital do Brasil.

Ele mudou-se depois para São Miguel do Guaporé, atual Porto Velho, no Estado de Rondônia, onde nasceu Carlos Ghosn, que antes fora Território Federal, desde o acordo firmado pelo Barão do Rio Branco para incorporação definitiva e diplomática desta região ao Brasil. Era uma época em que havia grande interesse mundial pela borracha e os árabes, na Amazônia e no resto do Brasil, se destacavam pela sua capacidade comercial deste produto para a exportação e importação do que era necessário. Entre as empresas do seu pai, ele destaca a que fornecia componentes de avião para o transporte regional.

Ele relata que era comum os libaneses viajarem para a sua pátria depois de terem uma base econômica, lá se casarem e voltarem para o Brasil, o que aconteceu com seu avô. Sua avó era rigorosa e influiu muito na sua disciplina. Seu pai, Jorge Ghosn, nasceu no Brasil. Os imigrantes japoneses mais modestos, que na maioria vieram para os cafezais brasileiros como trabalhadores braçais, se mantiveram como agricultores e se casaram com outras imigrantes ou suas filhas e somente alguns poucos privilegiados tiveram condições de retornarem ao Japão antes da Segunda Guerra Mundial ou enviarem seus filhos para completar a educação no país de sua origem.

O pai de Carlos Ghosn também depois de adulto voltou para o Líbano casando-se com a sua mãe que tinha nascido na Nigéria e era uma francófila amável e falava francês melhor que muitos nascidos na França, o que o influenciou quando da escolha para os seus estudos superiores, bem como do longo período quando viveram em Paris. A mãe de Carlos Ghosn, hoje com 86 anos, vive no Rio de Janeiro com suas duas irmãs, o que o traz para o Brasil com frequência.

Uma parte de sua história começou em 1954, depois que seus pais se casaram e se estabeleceram em Porto Velho, onde também nasceu sua irmã mais velha. Quando ele tinha dois anos, sempre se procurava tomar água fervida na Amazônia para evitar infecções, bem como cuidados para não ser atacado pelos mosquitos. Por acidente, ele foi acometido de febre alta chegando perto da morte. O médico recomendou que mudassem para uma região mais saudável.

Pode-se acrescentar que na Amazônia, onde a malária é muito comum, procura-se evitar a moléstia mantendo-se distante dos riachos nos períodos quando os mosquitos costumam atacar, nos fins das tardes e nos começos das manhãs. O tratamento das águas continua precário até hoje, exigindo-se o cuidado de tomar águas fervidas para evitar-se contaminações. São precauções necessárias mesmo nos centros urbanos, quanto mais nas florestas. Também muitos imigrantes japoneses foram afetados pelas doenças e poucos tinham condições de procurar áreas mais amenas.

A segunda parte do relato de Carlos Ghosn fica por aqui, devendo prosseguir nos próximos dias.



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