Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ghosn e Nissan (10), Começo em Tóquio (11), Plano Nissan (12) e Nova Nissan (13)

14 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , , | 2 Comentários »

clip_image002Se um órgão de comunicação social importante como o Nikkei Asian publica uma série tão longa de depoimentos de Carlos Ghosn é parte reconhecimento da importância pessoal deste empresário que acumula hoje a Presidência da Renault, da Nissan e é chairman da Mitsubishi Motors. Sempre existem lições que podem ser extraídas das suas experiências, mas exigem adaptações para usos em situações sempre diferentes, respeitadas as culturas locais. (Chairman da Renault Louis Schweitzer cumprimenta o presidente da Nissan Yoshikazu Hanagawa no anuncio de suas parcerias. Foto publicada no Nikkei Asian Review)

Quando muitos acreditavam que a Renault tinha se associado à Nissan pelas dificuldades da empresa japonesa, o depoimento de Carlos Ghosn deixa claro que havia uma nova situação na indústria automobilística mundial e a Renault acreditava que esta parceria seria vital para ela continuar competitiva. O processo tinha sido iniciado com a fusão da Daimler com a Chrysler, que se tornou tão grande como a General Motors e a Ford. Haveria necessidade de se chegar a uma associação com um parceiro que contasse com produção em torno de quatro milhões de veículos para continuar competitivo no mundo e seria uma questão da escolha do parceiro adequado, ainda que isto soe como uma boa justificativa para os japoneses, os principais leitores destes artigos.

Um dos focos principais da Renault foi sempre a Nissan (10), ainda que sua estratégia se concentrasse numa negociação e não o exame de diversas alternativas simultaneamente. A experiência de Carlos Ghosn na economia da Renault, de 20 bilhões de francos franceses de custo, foi apresentada para os principais executivos da Nissan, que foi aprovada também pelas autoridades francesas, por ser uma empresa estatal. Uma das qualidades necessárias seria de um executivo da parceria com conhecimento de diferentes culturas, ainda que a francesa fosse muito distinta da japonesa.

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Carlos Ghosn com o CEO da Nissan, Yoshikazu Hanagawa, em foto constante do artigo no site do Nikkei Asian Review

No primeiro encontro com o CEO da Nissan, Yoshikazu Hanagawa, (11) Ghosn contou com a eficiente ajuda de seu assistente executivo, Takahashi, que agendou todas as reuniões necessárias com seus detalhes. Com o avanço dos entendimentos, ele selecionou 30 executivos da Renault, todos com as mentes bem abertas, sabendo que quem poderia mudar a Nissan eram seus próprios funcionários. Havia um pleno reconhecimento das diferenças das culturas empresariais dos dois países e os objetivos a serem fixados necessitavam ser das equipes das duas empresas. Muitos funcionários da Nissan foram enviados também para a Renault e esta reciprocidade é um dos motivos do sucesso da parceria até hoje.

Ghosn informa que ficou dois meses examinando todos os aspectos cruciais da situação da Nissan para chegar a um diagnóstico claro, de onde elaborou o plano de recuperação da empresa, com a ajuda dos japoneses. Ela estava numa situação precária com sua participação no mercado japonês decrescendo há 26 anos, em sete dos oito últimos anos até 1999 havia registrado um déficit nos seus resultados, seus débitos devidos em parte aos juros chegavam a US$ 17 bilhões, dos seus 43 modelos produzidos somente quatro apresentavam resultados positivos.

As causas ficaram claras para Ghosn: os executivos da Nissan não estavam encarando seus problemas de frente, decorrentes dos prejuízos que estavam registrando e contrariando os hábitos japoneses seus planos técnicos não foram aprovados. Ghosn deixou claro que sem lucro não haveria programas (12). Para melhorar a comunicação entre os diferentes setores da empresa, ele criou as equipes multifuncionais que já vinha utilizado em outros casos.

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Carlos Ghosn apresenta o plano para recuperação da Nissan. Foto constante do artigo no site do Nikkei Asian Review

A comparação da Nissan com a Renault também contribuía no equacionamento dos problemas, tanto que a japonesa pagava aos seus fornecedores 20% a mais do que a francesa. Os funcionários japoneses propuseram um plano de economia de 5%, mas Ghosn exigiu que fosse de 20%, a que tinham que chegar eles próprios para as diversas metas e cronogramas. Ficou claro que os sacrifícios seriam enormes para se atingir resultados de prazos mais longos. Com os detalhes elaborados, ele se apresentou com a sua qualificação para comunicação social em 18 de outubro de 1999 usando um telepronto que ainda não era usado no Japão, o que obteve grande sucesso interno como nos meios de comunicação, gerando um grande entusiasmo como nunca visto no Japão na plateia.

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Nissan apresenta os planos aos seus fornecedores em foto constante do artigo publicado no site da Nikkei Asian Review

O plano apresentava mudanças que não eram somente da Nissan, mas nos seus relacionamentos com os fornecedores (13), como nas compras. Ghosn prometeu que se o plano não funcionasse em um ano, ele e sua equipe renunciariam. As compras de aço foram concentradas na atual Nippon Steel & Sumitomo Metals, reduzindo a de outros seus concorrentes. O mesmo aconteceu em outros segmentos de autopeças. Houve uma redução momentânea de fornecedores e funcionários, que hoje já foi superada com a introdução dos carros elétricos na produção.

Foram fechadas cinco fábricas e houve corte de 20 mil funcionários dos 150 mil existentes antes. Os fornecedores reconheceram que poderiam fechar, mas o plano era o possível e eles desejavam cooperar, o que Ghosn considera como algo inesquecível, fortalecendo sua determinação de oferecer o melhor futuro possível para o seu ecossistema de fornecedores, parceiros, funcionários e a comunidade que cerca a Nissan.

A Nissan recuperou-se um ano antes do previsto, conseguindo um resultado de 4,5% sobre suas operações, redução de sua dívida e juros e destacando-se em novos modelos, como os carros elétricos. São resultados respeitáveis numa economia tão complexa como a japonesa, justificando o prestígio conquistado por Carlos Ghosn no Japão e no mundo, o que o levou a acumular também o cargo de chairman da Mitsubishi Motors e a presidência da Renault.


2 Comentários para “Ghosn e Nissan (10), Começo em Tóquio (11), Plano Nissan (12) e Nova Nissan (13)”

  1. Simone Aparecida
    1  escreveu às 20:12 em 14 de janeiro de 2017:

    Senhor Yokota:

    Se fosse o blog do jogador Neymar, estaria cheio de propagandas da Nissan, Renault, Toshiba, Toyota, Mitsubishi, Nissin Miojo etc. Mas o senhor é esperto e faz publicidade através dos artigos do Ásia Comentada. Não aguento mais textos sobre o FRANCÊS Carlos Ghosn.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 09:26 em 15 de janeiro de 2017:

    Cara Simone Aparecida,

    Obrigado pelo seu ponto de vista. O que acontece, na minha modesta opinião, é que Carlos Ghosn é uma peça raríssima no mundo, e o jornal Nikkei Asian Review (que é mais importante no Japão que o The Wall Street Journal, Finantial Times e o nosso Valor Econômico) vai continuar publicando esta série de documentos, pois os japoneses reconhecem a sua importância não somente nas duas empresas que ele comanda naquele país, mas a mudanças que conseguiu provocar na economia japonesa. Se ele é francês, na sua opinião, a maioria de nós brasileiros somos estrangeiros. Eu que conheço razoavelmente o nosso país encontrei grupos que não são capazes de entender o português, como os posseiros de Encruzilhada do Natalino no Rio Grande do Sul. Os “estrangeiros” que conseguiram manter as terras além do Tratado de Tordesilhas como brasileiros no acordo firmado pelo Barão do Rio Branco, na minha modesta opinião, são importantes. Encontrei no exterior muitos diplomatas brasileiros que falam o português com sotaques. Quisera ter outros Ghosn que tentam tirar o Brasil da miséria em que nos encontramos (ele tentou entendimentos com o governo brasileiro, e continua insistindo em centros de pesquisas para a indústria automobilística no Brasil).

    Paulo Yokota


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