Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ghosn nos EUA (7), na Renault (8) e Corte nas Despesas (9)

9 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , , , , , | 7 Comentários »

clip_image002O sucesso de Carlos Ghosn no Brasil o levou ao comando da Michelin nos Estados Unidos para absorção da Uniroyal Goodrich, num mercado altamente concorrido. Depois de 18 anos na Michelin, retornou à França, para a Renault, que estava com custos altos e modelos obsoletos.

Carlos Ghosn nos Estados Unidos para comandar a incorporação da Uniroyal Goodrich pela Michelin, em foto constante do artigo no Nikkei

Constata-se que Carlos Ghosn relatou ao Nikkei Asian Review aspectos importantes de sua formação na França para mostrar que eles foram relevantes para os desempenhos práticos em lugares como o Brasil e os Estados Unidos, mas também pela necessidade de aprender fazendo-o em circunstâncias variadas. Sua mudança com a família foi efetuada para a Carolina do Sul, que tinha a qualidade do Velho Sul dos Estados Unidos, onde sua família ganhou mais duas filhas que nasceram naquele país. Segundo ele, foi um período gratificante, tanto familiar como profissional, pois conseguiu cumprir bem a missão que o esperava. A diferença com o Brasil era que tudo dependia do mercado e da capacidade de concorrência com outros importantes fornecedores como a Goodyear e grandes consumidores como a General Motors. A dependência do governo era baixa.

Ele continuou se concentrando no corte das despesas, tendo que fechar três fábricas obsoletas a ponto de ser chamado como “The Cost Cutter”, com o que não se importava, convencido que a eficiência era o caminho da recuperação. Mas precisava alcançar o máximo de sinergia, o que foi feito e depois de dez anos aplicado também no caso da Nissan no Japão. Para tanto, usou o modelo da “equipe multifuncional”.

Ele tinha respeito profundo às condições locais e adotou a técnica da multimarca também nos Estados Unidos. E percorria seus consumidores e até indústrias japonesas como a Toyota, a Honda e a Nissan, com a percepção que elas se tornariam importantes no mundo. Teve a humildade de incorporar experientes executivos norte-americanos sobre lideranças com Lee Iacocca e Robert Lutz, que deixou a Ford para passar à Chrysler, com mente muito aberta. Suas palestras impressionavam a todos e a ele próprio, Carlos Ghosn, com elevada capacidade de comunicação. Ficou nos Estados Unidos e recebeu um telefonema de François Michelin que o avisou que estava enviando seu filho Edouard aos Estados Unidos para trabalhar com ele.

Ghosn sabia que não poderia chegar a principal executivo da Michelin, que era uma empresa familiar, mas ajudou a preparar Edouard para a missão e aceitou um convite para conversar com o pessoal da Renault para o cargo de vice-presidente com a possibilidade de chegar a CEO. O headhunter era formado na École Politechnique e para a conferência final aceitou conversar com o chairman da Renault, Luis Schweitzer, para aceitar o novo desafio.

Ele comunicou a decisão a François Michelin, que tinha a visão que os japoneses se tornariam importantes na indústria automobilística. Ele pediu para avisar Edouard. François deixou a Michelin em 1999, falecendo em 2015, com 88 anos, deixando muito dos conhecimentos para Ghosn.

clip_image004

Carlos Ghosn numa fábrica da Renault, foto do artigo no Nikkei Asian Review

Ele se juntou à Renault em 1996, que era uma estatal enfrentando um déficit maciço, com seus funcionários envelhecidos, as instalações ultrapassadas e com produtos inferiores aos dos concorrentes. Passou dois meses para conhecer todos os seus problemas e formando uma equipe multifuncional como fez no Brasil e nos Estados Unidos. Ele organizou um plano de redução de custos de 20 bilhões de francos, havendo funcionários muito antigos e ele era um estranho na empresa. Ele seguiu em frente, apesar de ter também algumas dúvidas, necessitando conquistar a confiança de todos.

Foram estabelecidas metas específicas dentro de um cronograma mantendo os responsáveis por elas. Atuou junto aos fornecedores de peças para reduzi-las, premiando os que conseguiam. Teve que fechar uma fábrica na Bélgica que as autoridades anteciparam o seu anúncio, provocando uma greve antes que toda a situação fosse divulgada, o que rotulou o novamente como o “Le Cost Cutter”, dentro de uma situação diferente por se tratar de uma estatal. O objetivo que foi sendo atingido gradualmente foi aproximar-se da planta da Nissan em Sunderland, no Reino Unido, uma das mais eficientes da Europa. A situação melhorou muito de 1997 a 1999, mas a indústria automobilística estava mudando no mundo, e a Renault precisava de um parceiro para efetuar a transição, assunto que será abordado no próximo item.


7 Comentários para “Ghosn nos EUA (7), na Renault (8) e Corte nas Despesas (9)”

  1. Eduardo de Souza
    1  escreveu às 22:36 em 9 de janeiro de 2017:

    Yokota, na boa, já está enchendo o saco artigos seguidos dobre o “brasileiro” Carlos Ghosn. Desculpe-me pela sinceridade, mas a Renault patrocina o blog?

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 09:05 em 10 de janeiro de 2017:

    Caro Eduardo de Souza,

    Quem está promovendo está série de artigos é o Nikkei Asian Review, pois o caso de conseguir juntar o comando da Renault, a Nissan e agora a Mitsubishi Motors é inusitado no mundo. Vale a pena empreender sobre as causas de sucessos de alguns brasileiros ao que estou acrescentando Jorge Paulo Lemann da AMBEV. Não fique na superficialidade e procure aprender um pouco com as causas que levaram estes empresários ao sucesso mundial. Quisera poder contar no futuro com outros, mas com o seu preconceito não parece que V. tenha a humildade para aprender com os bons exemplos, lamentavelmente. Mas, ainda é tempo para mudar de orientação.

    Paulo Yokota

  3. Yoshimasa Fujii
    3  escreveu às 23:38 em 9 de janeiro de 2017:

    Olá,sempre acompanho seus posts,parece que gosta muito do Ghosn,mas além dele não tem mais grandes nomes brasileiros fazendo a diferença mundo afora?

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 08:58 em 10 de janeiro de 2017:

    Caro Yoshimasa Fujii,

    O que estou fazendo com a série de depoimentos do Carlos Ghosn é reflexo de um grande veículo como o Nikkei Asian Review está fazendo, pois é inusitado que um empresário acumule o comando de três grandes empresas como a Renault, Nissan e agora a Mitsubishi Motors mesmo neste mundo globalizado. Acredito que existem outros grandes brasileiros que estão se destacando no mundo, como o Jorge Paulo Lemann que comanda a AMBEV mundial com uma grande equipe que formou. Mas, também existem casos que são meras junções não muito séria de empresas, como está acontecendo com a carne. O Brasil poderia ser mais competitivo no mundo em papel e celulose, por exemplo.

    Paulo Yokota

  5. Luiza Mota da Silva
    5  escreveu às 18:56 em 10 de janeiro de 2017:

    O Carlos Ghosn é tão brasileiro que fala português com forte sotaque… Como faz algum sucesso, ele é chamado de brasileiro, do contrário seria um “turco”.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 20:55 em 11 de janeiro de 2017:

    Cara Luiza Mota da Silva,

    Muitos imigrantes que se tornaram brasileiros, até por nacionalização como o meu pai, que representou o Brasil no exterior, tinha sotaque. Tenho amigos “turcos” e encontrei na Amazônia, no Nordeste como no Sul, muitos “turcos” que ajudaram a formar os limites brasileiros com seus vizinhos. O que parece que temos é que aproveitar a nossa miscigenação étnica e cultural que é hoje uma vantagem no mundo globalizado. Quisera que o Brasil tivesse mais Jorge Paulo Lemann ou Carlos Ghosn.

    Paulo Yokota

    Paulo Yokota

  7. Simone Aparecida
    7  escreveu às 22:11 em 10 de janeiro de 2017:

    Paulo, o tal do Ghosn é francês naturalizado, pois “ama muito o Brasil”. Que tal falarmos de brasileiros de alma?


Deixe aqui seu comentário

  • Seu nome (obrigatório):
  • Seu email (não será publicado) (obrigatório):
  • Seu site (se tiver):
  • Escreva seu comentário aqui: