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Mudanças Culturais Demoradas Que Precisam Começar

11 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , , | 2 Comentários »

Na tradicional coluna do professor Antonio Delfim Netto no Valor Econômico, ele registra que muitos governos recentes no Brasil tentaram limitar os seus gastos aos recursos disponíveis, mas não obtiveram sucesso, pois a população brasileira não absorveu ainda que só pode gastar o que foi produzido.

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Charge de Claudius sobre o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, constante na Internet, publicada no Sinter de Minas Gerais

Esta mudança cultural exige um longo período para se atingir, mas há que se é preciso alcança-la mesmo com sacrifícios, pois sem ela incutida na mentalidade da população os seus representantes políticos sempre acreditarão que haveria uma mágica para atender seus desejos à custa dos sacrifícios dos demais membros da sociedade.

Também o congelamento não é uma solução das mais inteligentes, mas a sua inclusão na Constituição é uma solução radical para forçar que se algumas despesas forem autorizadas haveria a necessidade de cortes correspondentes em outras previstas nos orçamentos. Agora mesmo, as despesas e investimentos necessários para se contar com presídios minimamente humanos será preciso sacrificar outras necessidades igualmente prioritárias. A dificuldade é que sempre os mais fracos politicamente acabarão arcando com os cortes indispensáveis.

Lamentavelmente, a economia não é tão simples como aparenta a muitos. São da sua natureza a dinâmica de mudanças das prioridades, pois o próprio desenvolvimento provoca alterações neste quadro com o surgimento de novas necessidades. Mas, se não somos capazes de um mínimo de inteligência para se convencer que só se pode gastar o que foi produzido, a tendência sempre será de elevação do endividamento até o limite onde os poupadores não estejam mais dispostos a financiar esta festa.

Nos países onde o inverno, por exemplo, é muito rigoroso, a população vai absorvendo que se não poupar parte do que foi colhido no outono estará condenada à morte quando o frio ficar intenso. Nos países tropicais como o Brasil, sem estas limitações, sempre haverá uma tendência da população acreditar que poderá se dispor de algum alimento fornecido pela natureza nas suas ricas florestas.

Tive uma experiência com o ex-presidente José Sarney no Maranhão. Quando apontei que a ferrovia ligando Carajás ao porto de Itaquí naquele Estado seria um natural corredor de exportação de produtos lá produzidos, ele, que conhecia muito bem a população local, afirmou-me que seria preciso levar agricultores do Sul, pois as populações locais estavam acostumadas a caçar os patos que vinham do Canadá na baixada maranhense e viver do babaçu colhido na região. Não havia por que plantar para exportar.

A população brasileira está crescendo e, cada vez mais, ela se concentra nos centros urbanos, não havendo como colher todas as suas necessidades da natureza. Elas acabam sendo as lições mais duras de que é necessário trabalhar para produzir para atender as suas demandas, ainda que se leve tempo para este aprendizado, pois sempre haverá os que acreditam que se pode viver dos sacrifícios dos outros. Mas começa chegar a hora que isto está se tornando impossível.

O drama deste doloroso processo é que sempre os menos dotados estarão sujeitos aos cortes, enquanto os privilegiados contam com recursos para a sua sobrevivência. Mas, o mundo está assistindo que estes sacrificados não aceitam mais estas situações e acabam provocando mudanças políticas, como se observou de forma surpreendente no Reino Unido com o plebiscito que determinou o Brexit e nos Estados Unidos com a eleição de Donald Trump.


2 Comentários para “Mudanças Culturais Demoradas Que Precisam Começar”

  1. Mauricio Santos
    1  escreveu às 18:48 em 13 de janeiro de 2017:

    Sim o governo tem que saber gastar, mas não podemos também esquecer de buscar a manutenção das receitas
    O que adianta congelar os gastos em 2 se a receita de 3 cair para 1

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 15:07 em 14 de janeiro de 2017:

    Caro Maurício Santos,

    Obrigado pelo comentário.

    Paulo Yokota


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