Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

As Muitas Dificuldades da Concessão do Oscar no Cinema

28 de fevereiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

Mesmo procurando ser benevolente com a produção artística de Hollywood, muitos admitem que a qualidade de seus trabalhos não correspondem mais ao que acontecia no passado. Depois de um ano passado que se ignorou a participação dos afro-americanos no cinema dos Estados Unidos, caminhou-se ao outro extremo com sua maciça premiação, como se isto resolvesse o problema com uma compensação tardia em quantidade, esquecendo-se da qualidade. Passou-se totalmente para o politicamente conveniente.

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Empresa de auditoria admite seu erro no anúncio do filme vencedor, quando os representantes do primeiro anunciado, La La Land, já estavam no palco para receber o prêmio, quando o correto deveria ser Moonlight

Uma situação deveras constrangedora, mostrando a decadência da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, ainda que uma das maiores empresas de auditoria daquele país tenha assumido a responsabilidade pelo erro. O episódio em si é irrelevante não corrigindo a derrocada do cinema norte-americano, que deixa espaço na Europa e no resto do mundo, nem sendo capaz de um marketing razoável. Lamentavelmente, somente parte da produção asiática, expressiva em quantidade e qualidade, chega ao conhecimento do público brasileiro.

Quando La La Land recebe muitos prêmios fica-se imaginando o que seria se Cantando na Chuva fosse apresentado hoje. A diferença seria de dançarinos profissionais e simples amadores de outro lado.

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Gene Kelly em Cantando na Chuva

Uma professora de Comunicações da Universidade de São Paulo, desde quando ela se encontrava em Londres, chamava minha atenção para alguns diretores chineses, nem sempre conhecidos no Brasil. Ela acompanhou seus trabalhos e destacava a qualidade dos mesmos, somente conhecido em parte no Brasil. Também existem grandes produções em Hong Kong como na Índia que atendem o imenso mercado asiático, onde somente alguns ficam conhecidos no Ocidente.

Evidentemente, o cinema é parte da cultura, sendo difícil se avaliar totalmente a sua qualidade sem a compreensão do contexto onde são gerados. Quando Rashomon, de Akira Kurosawa, recebeu seu primeiro prêmio internacional no Ocidente houve um choque e muitos seus filmes foram adaptados por Hollywood para o contexto norte-americano, como os Sete Samurais. Mas o que apresenta elevada qualidade acaba sendo reconhecido não somente pelos especialistas como pelo próprio público.

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Akira Kurosawa ficou conhecido no Ocidente por Rashomon.

Quando críticos elogiam produções de outros países, como o do Irã, todos têm dificuldade para entender toda a aridez que estão nas suas histórias, como ainda acontece com filmes indianos já adaptados ao público ocidental. Mas a qualidade é sempre reconhecida, como quando o realismo italiano encantou a todos com o Ladrão de Bicicletas, de Vittório De Sica.

Pode ser um lamento de um romântico saudosista, mas vendo ainda hoje os filmes como os de Charles Chaplin, desde os que eram da época do cinema mudo, como O Garoto, e os últimos, como Luzes da Ribalta, fica-se em dúvida sobre a evolução do cinema, notadamente o norte-americano.

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Charlie Chaplin e Claire Bloom em Luzes da Ribalta, que fez a plateia chorar de verdade

Rei morto, rei posto. Com a atual lamentável decadência generalizada dos Estados Unidos ficam espaços vazios que acabarão sendo ocupados por outros. Tudo indica que os candidatos mais fortes acabam sendo os asiáticos, inclusive no cinema.



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