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Paulo Francis e Outros Grandes Jornalistas

6 de fevereiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image001Quando decorrem já 20 anos do desaparecimento prematuro de Paulo Francis, que mereceu um artigo de Álvaro Pereira Junior, colaborador da Folha de S.Paulo, vejo que ele foi muitos, sendo difícil de afirmar qual deles foi o principal e verdadeiro.

Paulo Francis de muitas facetas, difícil de afirmar qual a principal

Conheci Paulo Francis quando ele ainda era um polêmico jornalista durante o regime autoritário que como muitos outros do naipe de Elio Gaspari garimpavam notícias indo direto à fonte, quando o professor Delfim Netto era o ministro da Fazenda jantando quase todas as noites num pequeno restaurante chamado Bistrô, no Rio de Janeiro, conversando com muitos deles. Ainda que tivessem posições claras contra os militares, eles sabiam diferenciar os que adotavam posições independentes dentro do governo e possuíam as informações para avaliar o cenário em que ocorriam os fatos. Havia uma troca de informações entre jornalistas e autoridades, normalmente na forma chamada de “off record”. Paulo Francis acabou se destacando no Pasquim e Elio Gáspari exerceu papéis importantes em diversos órgãos, inclusive a Veja. Ele teve acesso direto também ao presidente Ernesto Geisel e o seu secretário Heitor de Aquino, que forneceu muitos dados para a elaboração dos seus livros.

Renovamos contatos com Paulo Francis quando ele trabalhava em Nova Iorque de onde mandava notícias via O Globo, principalmente à TV. Minha filha, que também lá trabalhava, me contava de sua atitude quase paternal ao término do seu trabalho nas caminhadas para o seu apartamento. Os que somente o conheceram pelas suas imagens pela TV talvez tenham ficado com a imagem que ele criou, quase de uma personalidade. Não era aquele durão, pois de outra forma não teria sido abalado com a sua possível condenação de uma questão com a Petrobras.

Quando vejo que alguns acadêmicos de comunicação afirmam que os negócios da imprensa vão mal atualmente, mas a imprensa nunca contou com atividades tão intensas, confirmo que quase sempre estes professores pouco sabem da realidade. Seria Edward Snowden um jornalista? Lamentavelmente não parece que as grandes revelações recentes foram feitas pelas investigações de jornalistas, ainda que existam exceções que confirmam a regra. Tenho o receio que somente com “focas” fica difícil contar com jornalistas de elevado naipe, mas é o que a imprensa hoje é obrigada a fazer, com a redução dos seus anúncios. Ninguém faz milagres.

Venho afirmando se que a Internet trouxe grandes benefícios, a prioridade dada à velocidade na obtenção da informação vem prejudicando a sua qualidade. Tratam-se os leitores como incapazes de pensar, de avaliar o contexto em que os fatos ocorrem. O lamentável é que isto contamina as autoridades, que tendem a comer da mão para a boca, sem horizontes mais amplos para os problemas brasileiros. É claro que ler mais artigos que ofereçam diversos cenários possíveis acaba exigindo mais trabalho, tanto para a sua elaboração como para a sua compreensão. Mas parece que este trabalho é indispensável.



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