Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Timidez do Governo Japonês na Admissão de Nikkeis

6 de fevereiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , | 7 Comentários »

imageUma notícia elaborada por Tomohiro Osaki e publicada no site da The Japan Times chega a ser constrangedor tal a timidez do seu alcance para aumentar o influxo de descendentes de japoneses nascidos no Brasil e no Peru, diante da falta de trabalhadores estrangeiros no Japão para compensar parte da queda de sua população.

A quarta geração de nikkeis brasileiros ou peruanos corresponde a dos meus netos e o nível dos mesmos costuma ser mais elevado, com potencialidades para padrões de vida no mundo globalizado mais altos do que a média dos japoneses atuais

Acredito que poucos deles terão interesse nestes vistos adicionais cogitados no Japão, pois eles possuem condições melhores em outros países, sem outras condicionalidades que estão sendo cogitadas pelos japoneses, tanto que mesmo o número de nikkeis de segunda e terceira geração que moram naquele país tem diminuído, mesmo neste período de crise mundial. Se o objetivo é conseguir nikkeis em número suficiente para minorar a redução da população que está ocorrendo no Japão, não se pode pensar em mecanismos tímidos como estes.

Se o Japão pensa em manter-se como um país respeitável no contexto internacional no futuro, necessita abrir as suas fronteiras não somente para pessoas qualificadas, como até recursos humanos modestos de outros países asiáticos para atender as suas necessidades mais prementes, como ajudar os seus idosos que dependem de cuidadores. Se eles necessitam somente de recursos humanos para tarefas repetitivas, parece que a solução mais adequada seria o uso de robôs que estão se aperfeiçoando.

Os nikkeis brasileiros, principalmente, preferem trabalhar em empresas multinacionais de origem não japonesa, pois estão conscientes que as oportunidades de ascensão social nelas são maiores. As japonesas, ainda comandadas por empresários que não incorporavam as vantagens da globalização, não proporcionam condições para aqueles que conhecem outras culturas, como bem sugerido nos depoimentos concedidos por Carlos Ghosn, que vem se destacando no cenário empresarial japonês.

O Brasil e mesmo o Peru, ao contrário do Japão que é um arquipélago com poucos imigrantes estrangeiros, receberam imigrantes de diversas origens que acabaram criando um clima quase multinacional, com diferentes etnias e influências culturais. As possibilidades de que se transformem em bons “cidadãos do mundo” são evidentemente superiores, talvez maiores do que os japoneses. Eles são seres pensantes que acabam exigindo naturalmente condições para rápidas ascensões sociais.

Muitos deles se beneficiaram por contarem com pais e avós de diferentes etnias, o que tende a melhorar suas capacidades, mais do que se concentram somente num arquipélago com descentes somente de uma etnia, que tende a provocar uma natural deterioração. Esta realidade é uma tendência clara na genética, não se restringindo aos seres humanos, mas vegetais como outros animais.

Muitos nikkeis, por conhecerem algo da cultura japonesa, já levam vantagens com relação aos que só possuem uma bagagem cultural. Se eles estão dispostos a trabalhar no exterior, costumam ter também um razoável domínio do inglês e outros idiomas e dotado da disposição de enfrentar situações e ambientes novos. Portanto, em vez de criarem condicionalidades com restrições adicionais, parece mais racional que lhes sejam proporcionado vantagens, pois como imigrantes possuem uma forte disposição de trabalho e potencialidades para significativas ascensões sociais, contribuindo para o desenvolvimento do Japão, se é o que deveria ser pensado pelas suas autoridades.


7 Comentários para “Timidez do Governo Japonês na Admissão de Nikkeis”

  1. Ludmilla M. Farias
    1  escreveu às 16:26 em 6 de fevereiro de 2017:

    Que artigo curioso! E o Brasil recebeu bem e tratou com carinho os imigrantes japoneses, mas a recíproca não é verdadeira. Nosso país é conhecido mundialmente pela cortesia com que trata com estrangeiros (chineses, coreanos, bolivianos, africanos etc.), mas somos vistos como seres de segunda categoria.

    Em SP, há muitos festivas de cultura nipônica, sendo que sempre respeitamos todos eles. Por que o Japão trata os próprios nipo-brasileiros com discriminação? A citada nação tem muito o que aprender com o meu povo.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 07:38 em 7 de fevereiro de 2017:

    Cara Ludmilla M. Farias,

    Obrigado pelo comentário. Infelizmente, alguns países são ilhas ou arquipélagos, tendo recebido poucos imigrantes, onde o Brasil se diferencia por ser um país continental, com influências de variadas etnias. Na realidade, os japoneses têm vergonha do período em que eram muito pobres e parte da sua população teve que imigrar para os Estados Unidos, a Mongólia como a América do Sul. Eles melhoraram depois da Guerra com a ajuda do mundo, inclusive Brasil, mas não admitem muitos estrangeiros, o que hoje se constitui em problema, pois sua população está decrescendo.

    Paulo Yokota

  3. Akio Naka
    3  escreveu às 21:42 em 7 de fevereiro de 2017:

    Prof Paulo .

    Nem todos os nikkeis yonseis tem alto nivel de escolaridade para trabalhar no Brasil em multinacionais. Muitos, se não a maioria, são de classe baixa, com empregos do tipo frentista, motoboy , chapeiro de lanchonete, garçom. Para esse pessoal o Japão é o eldorado que não exige diploma da USP.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 17:20 em 9 de fevereiro de 2017:

    Caro Akio Naka,

    V. tem razão sob alguns aspectos. Mas, na média os descendentes de japoneses como de outros imigrantes de varias origens dão um valor elevado à educação e os desafios para superar as dificuldades são “challanges” que permitem a sua ascensão social, como se vê até em muitos outros exemplos. No Japão, a não ser em empregos braçais, para conseguir competir com outros asiáticos que lá estão trabalhando necessitam falar o japonês e contarem com outras qualificações. Muitos que conheço mal conseguiram alguns parcos recursos, mas sempre existem exceções.

    Paulo Yokota

  5. Daniel Girald
    5  escreveu às 04:06 em 5 de março de 2017:

    Tempos atrás eu assisti a um vídeo no YouTube, publicado por um sansei que se tornou motorista de caminhão em Nagoya, comentando com certo grau de desconfiança sobre a possibilidade da concessão de vistos para os yonsei brasileiros. De fato, muitos descendentes de japoneses acabam ficando consideravelmente mais “ocidentalizados”, o que pode acentuar eventuais choques culturais e até desencorajar a emigração. Em casos mais extremos de um aparente desinteresse por qualquer aspecto referente ao Japão, algumas mulheres nipo-brasileiras mais jovens já recorrerem até mesmo a cirurgias plásticas no intuito de “ocidentalizar” a aparência.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 10:22 em 7 de março de 2017:

    Caro Daniel Girald,

    Existem descendentes de japoneses de todos os tipos. Mas experiências no exterior sempre agregam alguns conhecimentos, mesmo do ponto de vista negativo. Mas existem muitos meios para viver no Japão, inclusive com boas bolsas de estudos.

    Paulo Yokota

  7. Daniel Girald
    7  escreveu às 21:47 em 7 de março de 2017:

    Sim, com certeza uma experiência no exterior pode vir a agregar algo, mas o ponto que eu me refiro é o fato de muitos nikkeis mais jovens não terem tanto interesse pelo Japão. A maior facilidade para aprender a língua inglesa, por exemplo, já leva muitos a preferirem emigrar para o Canadá ou a Nova Zelândia, bem como um maior distanciamento das tradições japonesas que foi salientado pelo autor daquele vídeo que eu mencionei anteriormente.


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