Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Câmbio e o Turismo

24 de março de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , | 4 Comentários »

clip_image002Há algum tempo as autoridades monetárias brasileiras, mesmo informando que se empenham na recuperação da economia brasileira e na redução do nível de desemprego no país, adotam uma política cambial que atua no sentido contrário.

Turistas brasileiros voltam a invadir a Disneylândia na Flórida

É lamentável que a política cambial brasileira esteja deixando o dólar norte-americano barato, provocando novamente o aumento de turistas brasileiros em lugares como a Disneylândia. Ajudam a criar empregos nos Estados Unidos e com suas compras que trazem para o Brasil contribuem para reduzir os empregos neste país, quando poderiam ajudar com o turismo interno a aumentar o emprego por aqui e contribuir para o desenvolvimento brasileiro.

Os dados do Banco Central do Brasil informam que em janeiro e fevereiro deste ano, comparado com os mesmos meses do ano passado, os gastos com estes turismos aumentaram US$ 2,9 bilhões, ou seja, 75%. Também somente em fevereiro, comparado com o ano passado, o aumento foi de US$ 1,4 bilhão, ou seja, de 60%. Algo parece estar errado nesta política, que deveria estar estimulando o aumento do emprego no Brasil e contribuindo para a recuperação de sua economia, como consta do discurso oficial.

Nem todos os gastos no exterior têm este efeito negativo. Quando um empresário brasileiro vai ao exterior, procura examinar o que ele pode exportar ou produzir no Brasil para substituir o que está sendo importado, como acontece na indústria de brinquedos que está se recuperando, estes gastos devem ser considerados como se fossem investimentos. Mas quando se trata somente de importação de quinquilharias, nada contribui para o Brasil.

As moedas estrangeiras que estão sendo desperdiçadas pelos turistas brasileiros foram angariadas com grandes esforços como as produções e exportações feitas pelos que trabalham no setor rural. Agora que o setor de carne está sendo afetado por inabilidades dos políticos e das divulgações feitas pela Polícia Federal, as exportações que eram feitas por um conjunto grande de pessoas voltada à produção pecuária acabam sendo prejudicadas. As reservas de moeda estrangeiras são importantes para manter as importações de equipamentos que possam aumentar a produtividade e a produção do setor manufatureiro, mesmo nos momentos de dificuldades das exportações.

Os aumentos das cifras gastas no turismo externo são expressivos. Não se trata de algo marginal que não tenha importância. Além disso, muitos empresários venderam suas empresas para estrangeiros e, por causa do câmbio, para eles são baratas. Com o patrimônio que conseguiram, compram apartamentos e outros imóveis no exterior deixando que a população brasileira que se lixe.

As autoridades monetárias afirmam que o câmbio é estabelecido pelo mercado. Ora, com as diferenças de juros em dólar no exterior e no Brasil, muitos recursos especulativos vêm para o Brasil, mas não se transformam em investimentos que aumentem as produtividades e as produções. São meras aplicações financeiras de curto prazo, que ao mínimo sinal de que o quadro se tornou crítico e o risco tenha aumentado, eles retornarão rapidamente para o exterior. Os chineses, por exemplo, estão controlando estes fluxos financeiros, inclusive de empresas estrangeiras.

As autoridades afirmam que os investimentos começam a ocorrer no Brasil e os primeiros empregos estão voltando. Seria interessante que comparassem com os níveis dos anos passados, para constatar que ainda há muito que se recuperar, o que vai ocorrer lentamente. Esperamos que ainda não estejamos mortos.

O SESC tradicionalmente fornece alimentação a custos baixos e existiam longas filas antes do horário do funcionamento dos seus restaurantes. Hoje, estas filas são mínimas, pois os desempregados e os que recebem salários modestos estão se alimentando precariamente, como por exemplo, com um simples pastel de feira. Seria interessante que as autoridades percorressem estes locais, para verificar a distância da realidade com os ricos restaurantes que eles frequentam. A diferença na distribuição de renda continua muito ruim, com poucos privilegiados e muitos em situação precária.

Quando se discute, por exemplo, a reforma da previdência social não se consideram as elevadas aposentadorias dos marajás e os mínimos recebidos pelos mais modestos, que continuarão sendo sacrificados sob a ameaça que nem isto receberão. Há necessidade de um pragmatismo, sabendo que não se faz o que seria desejável, mas o possível, dentro de um equacionamento mais equânime. Se isto nenhuma reforma terá uma longa durabilidade e dentro de muito pouco tempo novas mudanças se tornarão necessárias.

Vamos acordar…


4 Comentários para “O Câmbio e o Turismo”

  1. Mauricio Santos
    1  escreveu às 17:20 em 27 de março de 2017:

    Paulo este governo não tem compromisso com ninguém alem dos que ajudaram a colocar ali,
    e dentre estes com certeza não está o povo
    Parte do povo queria a saída de Dilma sim mas com novas eleições inclusive para os cargos do legislativo (algo utópico )
    Vamos ver até quando a onda Anti PT cumprir seu papel de bode expiatório e manter o povo sedado
    Desemprego de 15%, industria nacional destruída, desmonte do BNDS, e etc…POSSO TA PASSANDO FOME mas tudo bem, LULA VAI SER PRESO E AI TUDO VAI MELHORAR…

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 07:53 em 28 de março de 2017:

    Caro Mauricio Santos,

    O governo não produz nada, só transfere de uns para outros. Mas a economia tem suas limitações, e se o governo força demais a melhoria dos salários dos trabalhadores, pode colher resultados adversos. Se houvesse um passe de mágica para melhorar a situação dos trabalhadores seria fácil. A melhoria da situação dos trabalhadores só ocorrerá com o aumento dos investimentos e da produtividade.

    Paulo Yokota

  3. Mauricio Santos
    3  escreveu às 13:59 em 28 de março de 2017:

    Paulo você está certo sobre produtividade, só que não podemos negar que existe um discurso na mídia que busca mascarar a situação atual impedindo a discussão de alternativas como as que você propõe aqui no site

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 17:24 em 29 de março de 2017:

    Caro Mauricio Santos,

    Acredito que algumas autoridades brasileiras têm propósitos diferentes.

    Paulo Yokota


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