Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Matando as Galinhas dos Ovos de Ouro

3 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

Somente os brasileiros mais veteranos sabem o estrago que a introdução do crédito rural com as taxas de mercado provocou sobre a agricultura brasileira. Muitas grandes cooperativas sem agilidade para as mudanças rápidas, mesmo alertadas sobre o assunto, acabaram se tornando insolventes quando eram suportes importantes do agrobusiness do país.

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Gráfico constante do artigo do Valor Econômico que vale a pena ser lido na sua íntegra

Um artigo elaborado pela competente Claudia Safatle foi publicado no Valor Econômico revelando que uma parte do crédito agrícola será indexada pela Selic, visando a redução do subsídio do orçamento fiscal. Foi completado por outro de autoria do Cristiano Zaia, publicado no mesmo jornal. Um complexo sistema de percentuais sobre a Selic, dependendo da situação dos agricultores seria aplicado, quando se sabe que não existem meios para o adequado controle de todos. As cooperativas, por exemplo, no seu conjunto acabam sendo grandes, agregando familiares, pequenos, médios cooperados, que dinamicamente estarão mudando de categoria com a natural ascensão de alguns e fracassos de outros. Algo semelhante já ocorreu no passado, desorganizando parte importante do setor rural brasileiro.

Os que acompanham a evolução do setor agropecuário sabem dos riscos a que estes produtores estão sujeitos, dependendo do clima que acaba beneficiando alguns e prejudicando outros, pois as chuvas costumam intensas em algumas áreas e não em outras. As pragas se propagam de uma propriedade para outra, exigindo uma grande agilidade dos produtores, por exemplo, com as pulverizações aéreas e urgentes. O mercado costuma ser instável, e muitos estão ligados eletronicamente com as cotações de Chicago. Mas as remunerações dos produtores são em reais, dependendo das variações do câmbio que são instantâneas e intensas.

Por mais acuradas que sejam as fiscalizações dos bancos, não se dispõe no Brasil de um sistema de seguro rural capaz de, agilmente, atribuir as causas de algumas variações de produção e produtividade. Os que acompanham ao nível das fazendas todas estas variáveis sabem o quanto este setor vital para o emprego e desenvolvimento do Brasil é difícil de ser corretamente avaliado. Acaba sendo mais recomendável que se trabalhe com a média, sabendo que sempre haverá quem se beneficia e outros que são prejudicados.

Este setor fundamental que dita o nível de atividade dos serviços relacionados e das atividades agroindustriais até chegar aos consumidores ou importadores, criando uma grande massa de empregos e determinando o nível de desenvolvimento e da inflação, não é coisa que pode ser decidido nos gabinetes com ar-refrigerado das autoridades monetárias e fiscais.

Com o aumento do custo dos créditos rurais de um lado e com o câmbio valorizado de outro, o setor rural está sofrendo a ação de uma tesoura e não poderá continuar a desempenhar o papel fundamental que vinha exercendo. Salve-se quem puder…

Os analistas mais experientes sempre afirmaram que quando não se sabe tudo é melhor não mexer na situação. Não se pode resolver um problema e criar muitos outros, sabendo que a economia brasileira, no momento, conta com prioridade para criar empregos e aumentar a produção. O exercício da política econômica é uma arte e, por mais importante que seja o controle do seu déficit, não se pode provocar um desastre num setor estratégico como o rural.



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