Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Café Brasileiro no Berço Esplêndido

29 de maio de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002Muitos conhecem um pouco da história do café no Brasil, onde o trabalho de Sergio Milliet, “O Roteiro do Café”, é uma das contribuições mais importantes. Introduzido no Norte do país, a sua produção chegou à região do Rio de Janeiro, caminhou pelo Vale do Paraíba até chegar às terras de boa qualidade da região de Campinas até a macha da terra roxa de Ribeirão Preto.

Plantação de café no Timor Leste, Sudeste Asiático, foto constante do artigo publicado no Nikkei Asian Review

A procura constante de terras de boa qualidade levou a produção do café no Brasil para as regiões pioneiras de então, do oeste paulista chegando às generosas machas de terras roxas do Norte do Paraná. No entanto, fenômenos climáticos como as das geadas dizimaram as plantações nestas novas regiões.

Iniciei a minha participação pessoal na economia cafeeira quando diretor do Banco Central do Brasil, que tinha entre outras funções a execução da política de crédito rural. Ajudei no processo de caminhada do uso das terras do sul de Minas, que não tinha o inconveniente das geadas e com novas técnicas de cultivo como o chamado renque confinado, para reduzir as despesas das colheitas das antigas árvores de maior porte para as menores, quase arbustos, que permitiam melhor mecanização e redução dos prazos para as primeiras colheitas. Hoje, uma parte importante da produção chegou até o oeste baiano.

Nesta posição, também era o representante brasileiro no Conselho Mundial de Café, com sede em Londres, que procurava evitar as grandes flutuações das ofertas do produto no mundo, onde a Colômbia e alguns países da América Central estavam com suas produções em crescimento, em menores escalas e com qualidades elevadas.

Com a disseminação recente, inicialmente do café solúvel e depois das cápsulas que permitem que blends de café fossem oferecidos para os consumidores com processamentos mais fáceis e industriais, a economia cafeeira ganhou novo impulso no mundo, onde o Brasil que dispõe de produções de diversas regiões não consegue acompanhar as mudanças que estão se processando.

Mais recentemente, o Sudeste Asiático passou a ser importante fornecedor com o incrível Vietnã se tornando o segundo produtor do mundo, ultrapassando a Colômbia, ainda que sua produção não fosse de cafés finos. Informa-se que a Indonésia e Timor Leste aumentam suas produções, que começam se estender por Laos, Mianmar, Filipinas e Tailândia, ao mesmo tempo em que processam suas industrializações na forma de cápsulas em Cingapura.

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Foto de produção de cápsulas de café em Cingapura, constante do artigo no Nikkei Asian Review

Os hábitos do consumo do café estão mudando, dos de pior qualidade servidos nos escritórios e residências em quantidade para os melhores exigidos pelos consumidores que elevaram suas rendas e estão despendendo mais tempo em estabelecimentos que contam com facilidades como as da internet, além de oferecerem outros acompanhamentos. A quantidade de clientes está exigindo mais usos de cápsulas, além de preparos mais sofisticados, inclusive com misturas com outros produtos.

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Foto de um novo estabelecimento para café em Bangcoc constante do artigo no Nikkei Asian Review

Mesmo nos estabelecimentos mais populares, começam a se disseminar grandes redes que permitem consumos do café de forma mais tranquila, sentados adequadamente.

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Foto de um café servido num Shopping Center em Jacarta, na Indonésia, constante do artigo no Nikkei Asian Review

Tudo indica que o Brasil necessita de uma colaboração entre governo e setor privado para estabelecer um programa para reagir a esta nova situação, correndo o risco de perder a sua posição de maior produtor de café do mundo. Parece necessário adicionar-se valor agregado, ajustando-se às novas exigências dos consumidores que se generalizam por todos os países, inclusive os emergentes. Não se pode depender somente do mercado e das iniciativas do setor privado do Brasil, que anda pouco agressivo internacionalmente. E, acima de tudo, não se poder ficar deitado eternamente em berço esplêndido, por mais que estejamos abençoados pelas condições naturais, pois os concorrentes estão superando as barreiras que possuem.



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