Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Discussões Mais Profundas Sobre a Economia Brasileira

11 de setembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Mesmo que se admita que os problemas políticos sejam urgentes, sem uma melhoria real na economia não há como o Brasil conseguir chegar às condições políticas e econômicas razoáveis em 2019, depois da eleição do novo governo.

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Uma charge sobre a atual situação brasileira

Todos compreendem que mesmo um governo de transição, como o do presidente Michel Temer, não deve tentar se manter no poder afirmando que a economia brasileira começa a dar sinais de melhoria. Mesmo tendo deixado de piorar, o Brasil ainda está muito longe do desempenho passado. Não se pode imaginar que isto seja suficiente para convencer a população que a dura realidade possa ser superada por discursos insistentes utilizando todos os meios de comunicação social disponíveis para o governo, ainda que todos os brasileiros torçam pelas melhorias.

Os equacionamentos hoje existentes não parecem suficientes para uma vigorosa recuperação colocando o Brasil nos trilhos que já foram percorridos, com grandes sacrifícios e usando os meios privilegiados dos recursos naturais e humanos do país que não podem ser utilizados somente a favor dos segmentos que acabam sendo atendidos pelos que estão no comando, tanto no Executivo, Legislativo como no Judiciário.

Ainda que seja desejável o aumento do consumo como o recente, ele não é suficiente para melhorar a economia e a política brasileira, pois estamos simplesmente usando o que foi acumulado no passado para tanto, nem cobrindo a depreciação dos equipamentos que estão sendo utilizados, como as reservas para uma eventualidade dos trabalhadores. Ainda existe uma grande capacidade ociosa que não está sendo utilizada para a exportação, que necessita de produtos atualizados tecnologicamente que pouco dispomos no país no momento.

Até a Folha de S.Paulo publica um artigo mostrando que o investimento público hoje feito é inferior a de uma década passada. Ele tem sido a alavanca para estimular alguns investimentos privados ao longo do tempo. Sem inversões, não se consegue capacitar a população brasileira e contar com maior produtividade no seu trabalho e inovações tecnológicas que estão sendo introduzidas de forma acelerada pelos nossos concorrentes internacionais que não conseguimos acompanhar. Isto, ao contrário do que muitos dizem, não são indícios de recuperação, mas de um forte retrocesso em que ainda estamos envolvidos e não conseguimos superar.

Há que examinar a possibilidade de significativas alterações da estratégia de desenvolvimento da economia brasileira como estão ocorrendo em muitos países emergente e até desenvolvidos, que já estão se recuperando ainda que num ritmo lento, utilizando o mercado interno e externo.

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Gráfico publicado num artigo da Folha de S.Paulo

O governo, na sua atual estratégia, considera que a privatização seja relevante para promover a retomada do desenvolvimento. Apesar dos seus discursos, o que está se verificando é que diante da falta de agências governamentais eficientes que exijam dos vencedores das licitações os investimentos e melhoria dos seus serviços não se consegue que aumentem suas eficiências nas situações monopolísticas em que se encontram. Eles é que acabam controlando as agências em direção às suas conveniências, na maioria dos casos.

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Fiações expostas que a cada chuva interrompem o fornecimento de energia elétrica

Serviços como o de distribuição da energia elétrica, comunicações sociais e outros privatizados no passado não conseguiram inversões adicionais e melhorias dos seus serviços, de forma lamentável, tratando se somente de mudanças dos seus controladores, ou seja, meras transferências de recursos entre seus acionistas. Somente novos investimentos adicionais podem criar empregos e ajudar a elevar suas eficiências que provocam o desenvolvimento. Além de haver indícios de que estes processos passaram por muitas irregularidades de toda ordem, mesmo no passado. Há que se aperfeiçoar substancialmente as agências fiscalizadoras, pois na maioria dos casos o setor privado acaba sendo mais eficiente que as estatais em diversos países.

Na economia, a recuperação costuma começar pelos setores mais leves onde existe capacidade ociosa na produção, mas a demanda necessita vir do exterior. Atualmente, uma parte vem ocorrendo no Brasil na indústria automobilística, que está conseguindo colocar parte de sua produção em outros países mediante a exportação, sem que estejam sujeitos às tributações, o que explica uma parcela da falta de recuperação das receitas tributárias no país.

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Estradas sem condições para o escoamento da produção agrícola

Parte das exportações brasileiras ocorre com matérias-primas básica como os minérios, além do escoamento das produções agropecuárias que se encontram no período final da safra. A política econômica que mantém o câmbio relativamente valorizado não está permitindo que os produtores sejam devidamente remunerados, o que acaba exigindo maior cuidado com relação ao aumento da produção futura que se tornou de alto risco. O setor rural ajuda na redução da inflação, com preços de seus produtos em queda, beneficiando os consumidores à custa dos produtores, criando espaços para outras demandas. As galinhas dos ovos de ouro da economia brasileira estão sendo sacrificadas, pois o setor rural veio sustentando a economia brasileira de forma expressiva.

Alguns produtos básicos como os siderúrgicos e alguns outros setores estão em ligeira recuperação ainda utilizando suas capacidades ociosas que são substanciais. O desenvolvimento só voltará a ocorrer quando novos investimentos ocorrerem nestes setores para a ampliação de suas capacidades, utilizando novas tecnologias mais eficientes, pois o resto do mundo não está parado.

Ainda que setores primários e de serviços sejam importantes em qualquer economia, costuma ser no setor industrial que as inovações permitam melhores empregos. Há décadas está se sacrificando este setor industrial no Brasil, onde muitos produtores nacionais alienam suas empresas para grupos estrangeiros, infelizmente.

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Indústria têxtil obsoleta no Brasil

Para que ocorra um real desenvolvimento há que se estabelecer um programa ousado de seu aumento de eficiência, indispensável para uma economia da dimensão da brasileira, selecionando-se os setores onde haja uma prioridade diante do impacto que transfere para outros segmentos, respeitando-se as regras da Organização Mundial de Comércio, onde já estamos condenados.

Todos admitem que a melhoria substancial da infraestrutura brasileira seja indispensável diante de sua dimensão geográfica. O Brasil já contou com períodos quando as grandes empresas construtoras brasileiras detinham a melhor tecnologia para tanto. No entanto, além da falta de encomendas que permitissem a continuidade da sua melhoria, a maioria delas foi atingida por problemas de corrupção nos seus relacionamentos com as autoridades governamentais, encontrando-se atualmente totalmente desorganizadas. Os processos de delação premiadas no Brasil não foram capazes de manter as empresas com a punição exemplar dos seus controladores ou administradores responsáveis pelas irregularidades cometidas, preservando as empresas que seria o objetivo principal destes mecanismos e não a obtenção de provas que não conseguiram ser obtidas de forma adequada. Há que se pensar num programa de longo prazo para a recuperação do setor de engenharia pesada do país, voltando a utilizar tecnologias de ponta como está ocorrendo na China e já ocorreram no Brasil.

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A engenharia pesada brasileira impressionou o mundo com a tecnologia usada na construção da Usina de Itaipu no passado

No setor agropecuário parecem existir alguns equívocos no Brasil com a redução dos recursos para a Embrapa. Diante da ampla disponibilidade de recursos naturais, parte das autoridades confunde o seu desenvolvimento com a ampliação em extensão. Na realidade, as melhorias das tecnologias ocorrem diante de restrições existentes no país. E na medida em que medidas conservacionistas sejam exigidas é que costumam se desenvolver com o uso de novas técnicas mais eficientes para estas produções, como está ocorrendo em muitos países.

Os setores de serviços brasileiros, como os relacionados com a saúde, podem ser atualizados adaptando-se o que já vem sendo empregado no exterior. Mesmo os equipamentos necessários para tanto contam com produtores internacionais interessados nos seus fornecimentos contando com recursos humanos brasileiros, inclusive treinados no exterior, mesmo que sejam em alguns dos hospitais mais ágeis nestas inovações, começando pela ponta e se generalizando pelo país. Também em educação acontece algo semelhante, mas os problemas ocorrem nas pesquisas, que dependem fortemente de recursos públicos que estão sendo cortados. Muitos brasileiros qualificados acabam trabalhando no exterior pela falta de oportunidades e condições no Brasil.

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Atendimento de saúde está entre os mais precários no Brasil

Os aperfeiçoamentos nos serviços públicos são os que apresentam maiores dificuldades, mesmo que existam informações provenientes do exterior sobre o que já estão sendo introduzidos, com o uso, por exemplo, da inteligência artificial. Com o forte relacionamento com os segmentos políticos, as resistências da administração pública para as inovações são mais acentuadas, nas mais variadas frentes possíveis.

O Brasil dispõe de recursos humanos capazes de elaborar projetos de aperfeiçoamento nos diversos setores apontados, tanto dentro da administração público como em muitas de suas academias. Mas eles encontram-se inibidos pelo privilégio concedido pelos indicados politicamente e muitos preferem trabalhar no exterior, em organismos internacionais, academias estrangeiras ou instituições nas quais possam prestar a sua colaboração. Sem que estudos técnicos sejam respeitados, as improvisações políticas tendem a resultar em opções menos recomendáveis.

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O Brasil conta com pessoal para pesquisas e planejamento que não estão sendo prestigiados, preteridos pelos indicados politicamente

Acabamos voltando à necessidade de que as atividades políticas fiquem contidas nos seus campos próprios, com reformas que todos sabem ser indispensáveis. Mas se o governo opta por um regime presidencial parlamentarista, onde os políticos comandam o país, não parece que avanços possam ser obtidos. Uma das medidas indispensáveis seria de que os cargos na administração pública fiquem restritos aos funcionários de carreiros reavaliados periodicamente pelos seus desempenhos, restringindo-se de forma drástica os que possam contar com a livre nomeação nos cargos considerados de confiança, compreendidos nos chamados DAS.

Estas seriam algumas das medidas indispensáveis para que o Brasil volte realmente ao ritmo de desenvolvimento com que contava no passado.



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