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Noventa Anos de Antonio Delfim Netto

27 de abril de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Com a competência de sempre, Claudia Safatle, do Valor Econômico, publica um artigo sobre os 90 anos de Antonio Delfim Netto, no próximo dia 1º de maio, Dia do Trabalhador. A labuta é uma das características desde economista desde a sua adolescência, que também exerceu diversas funções públicas e políticas.

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Professor Antonio Delfim Netto completa 90 anos no dia 1º de maio

Ele começou quando era possível trabalhar oficialmente com a Carteira de Trabalho de Menor, a partir dos 14 anos. Começou como office-boy numa empresa privada, quando estudava para ser contador. Para prosseguir estudando Economia na então Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, prestou concurso no DER – Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo, onde entre outras contribuições desenvolveu um sistema de cálculo da depreciação dos equipamentos rodoviários. Desde a época de estudante universitário, ajudava em entidades privadas como a Bolsa de Mercadorias e Associação Comercial de São Paulo, onde teve a oportunidade de estudar as atividades do setor privado e seus problemas. Formado na Faculdade, tornou-se professor de Estatística na cadeira do professor Luis de Freitas Bueno, onde teve oportunidade de estudar com o professor Wilfred Stevens que lecionava na FCEA-USP, ele que tinha sido assistente do famoso estatístico Irving Fisher. Organizou seminários com outros professores de estatística da Escola Politécnica e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Sua tese de doutoramento, “O café no Brasil”, era uma aplicação das modernas técnicas estatísticas de então, quando ainda não existia o computador e era preciso usar máquinas manuais de cálculo.

Eu o conheci ainda nos anos 1950, quando estudei Estatística e Estatística Econômica, pois não existia ainda a Econometria. São, portanto, perto de 60 anos, praticamente uma vida. Depois de formado em 1962, fui trabalhar com ele no Departamento de Economia da CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai, para depois ser seu assistente na FEA-USP, além de ajudar em algumas tarefas no governo federal.

Delfim Netto se tornou secretário da Fazenda do Estado de São Paulo em 1966, no governo Laudo Natel, com a cassação do governador Adhemar de Barros. Em 1967, tornou-se ministro da Fazenda, com 38 anos, do governo Costa e Silva, quando organizei a Assessoria Conjunta do Ministério da Fazenda, Banco Central e Banco do Brasil. Em 1969, tornei-me diretor do Banco Central do Brasil, com 30 anos, por sua indicação.

Ele sempre ajudou Octávio Gouveia de Bulhões, ministro da Fazenda do Governo Castello Branco, e o ministro do Planejamento Roberto Campos e tínhamos bons relacionamentos com Mário Henrique Simonsen, que era da Fundação Getúlio Vargas, e foi também ministro. Eram figuras importantes do Rio de Janeiro onde o pioneiro foi Eugenio Gudin.

Delfim Netto continuou ministro da Fazenda no governo Garrastazu Médici e foi ser embaixador em Paris no governo Ernesto Geisel. Voltou como ministro da Agricultura no governo João Figueiredo, acabando se tornando ministro do Planejamento substituindo Mário Henrique Simonsen. Foi membro da Constituinte, tendo permanecido como deputado federal por algumas legislaturas.

Nos governos seguintes, sempre acaba sendo convidado para algumas trocas de ideias econômicas e políticas, notadamente no governo Lula da Silva e Michel Temer, ainda que não exercesse nenhum cargo. Ele ficou afastado nos governos Collor de Melo e Dilma Rousseff. Sofreu acusações não comprovadas de manipulação da inflação e irregularidades como embaixador em Paris. Atualmente, espera ter esclarecido sobre acusações de subornos feitas pela Operação Lava – Jato, quando não é funcionário público e não tem acesso às decisões dos governantes. Conversa eventualmente com potenciais candidatos ao próximo governo e todos procuram contar com a ajuda de suas longas experiências e estudos intensivos, no Brasil e no exterior.

Continua conversando com empresários como os da Federação das Indústrias e Federação do Comércio, além de variadas entidades que os têm como membros. Também com representantes de entidades internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, ou até de diplomatas de países estrangeiros.

Poucos acumularam tantos conhecimentos acadêmicos e práticos com experiências em atuação dentro de quadros favoráveis e difíceis como Antonio Delfim Netto, tendo a paciência para atender elevadas autoridades, jornalistas, como humildes brasileiros que proporcionam lições extraídas de suas duras vidas.

Poucos continuam tão ativos com 90 anos, mas ele admite que o tempo passa hoje mais rápido do que no passado.



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