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Falta de Recursos Humanos no Japão Facilita a Imigração

30 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

clip_image002 Um artigo longo de Mitsuru Obe foi publicado no site do Nikkei Asian Review informando sobre novas aberturas para imigrantes asiáticos diante da grave falta de recursos humanos no Japão.

Jovens indonésios trabalham no Japão na colheita de repolhos. Foto publicada no artigo do site da Nikkei Asian Review, que vale a pena ser lido na íntegra

Muitos empregadores japoneses estão contratando trabalhadores asiáticos até para tarefas simples, como colheita de repolho num pequeno sítio, colheita de chá (normalmente do sexo feminino) ou na construção civil para trabalhos pesados, pois eles entendem que são mais rápidos para aprender a executar tarefas simples, trabalham duro e tiram menos folgas, mesmo que tenham dificuldades de comunicação no idioma japonês. Muitos são estagiários que começam nestas tarefas na esperança de poder passar para trabalhos mais complexos que exijam o domínio do idioma local. Nem todos conseguem levar seus familiares, mas aspiram licenças para tanto.

A demanda de recursos humanos deste tipo está aumentando com a proximidade das Olimpíadas de 2020 e muitos participam do programa de treinees de estrangeiros, que chegam a 274 mil. Ainda que o programa seja para habilitá-los a uma profissão para retornarem aos seus países, estão ocorrendo distorções para simplesmente suprir a falta de todos os tipos de recursos humanos. Chineses, vietnamitas e filipinos lideram este fluxo de trabalhadores estrangeiros, superando os brasileiros que são descendentes de japoneses e podem obter licença para trabalhos temporários que vão se tornando permanentes.

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Estes gráficos publicados no artigo do site do Nikkei Asian Review mostram a aceleração dos trabalhadores estrangeiros no Japão, sendo que a China, o Vietnã e as Filipinas superam os brasileiros

No geral, os brasileiros são descendentes de japoneses que possuem visto para trabalho temporário no Japão, diferindo dos asiáticos que normalmente são admitidos quando qualificados. Mas o programa de treinees e as normas japonesas são burlados, com as autoridades fazendo vistas grossas diante da acentuada falta de recursos humanos em todos os setores.

O fato concreto é que os estrangeiros no Japão aumentaram em 20% nos últimos três anos, chegando a 2,6 milhões em 2017, ou seja, 2% da população total que continua diminuindo e envelhecendo. Estes imigrantes ajudam também a minorar o número de idosos, pois são mais jovens, desejando contar com filhos quando possível, enquanto os japoneses estão com baixa taxa de natalidade.

No passado, era difícil encontrar estrangeiros no Japão, mas hoje já existem regiões onde eles estão concentrados, fazendo parte do cotidiano. O governo japonês não explicita a política que deseja seguir com relação aos estrangeiros, mas, de forma quase silenciosa, vão permitindo maiores flexibilidades, premido pelas necessidades de recursos humanos. Mesmo a discussão do assunto, quanto ao prazo e o período de permanência, por exemplo, não se debate a respeito, numa aparente contradição. Analistas estrangeiros acentuam que os japoneses são racistas. Atualmente no Japão existem 1,59 empregos para cada candidato, o que provoca uma grande inveja para os brasileiros.

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Gráfico, mostrando a queda atual do desemprego e a criação de emprego por candidato, constante do artigo publicado no site do Nikkei Asian Review

Os dados demográficos japoneses mostram claramente a tendência do aumento acentuado de idosos e limitação da disponibilidade dos recursos humanos para o trabalho no futuro. No setor agrícola, o problema é mais grave, pois os jovens foram para os grandes centros urbanos restando somente os idosos que necessitam de auxiliares para o desempenho de suas tarefas. Mas também nas indústrias, além dos estagiários japoneses, conta-se com quase 10% de estrangeiros, que são mais dedicados como quando os japoneses ainda eram pobres. Os estrangeiros precisam ficar por três anos nestes estágios, o que vem sendo questionado até por alguns japoneses.

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Tendências demográficas no Japão no gráfico constante do artigo no site do Nikkei Asian Review

Para conseguir estes estágios aparecem recrutadores nos países asiáticos que cobram ilegalmente e muito por tarefas. Também alguns não recebem treinamentos, mas são usados somente para execuções de trabalhos simples. De outro lado, grandes organizações japonesas estão recrutando trabalhadores estrangeiros para tarefas mais complexas, inclusive que exigem conhecimentos de tecnologias, como da informática, inclusive em empresas de ponta. Algumas empresas japonesas contam com 70% de engenheiros estrangeiros, principalmente indianos e chineses, usando o inglês como idioma oficial, mas o que ainda é uma exceção.

Uma grande carência no Japão continua sendo a de pessoal habilitado para cuidar dos idosos. Isto exige um mínimo de conhecimento de enfermagem e domínio do idioma japonês, o que muitos asiáticos conseguem. No entanto, com o tempo e melhoria do padrão de vida, filipinas, por exemplo, acabam casando-se com seus patrícios e levando seus familiares para o Japão, mas que só podem trabalhar por horas limitadas. Quando eles desejam ter seus filhos, ficam com limitações que são difíceis de serem superadas.

Para os brasileiros, descendentes de japoneses, quando a economia brasileira passa por suas dificuldades, parece que o trabalho temporário no Japão seria uma alternativa a ser considerada, mas haveria a conveniência de um preparo adequado, diante das diferenças culturais acentuadas, existindo organismos oficiais para tanto, além das agências que estão se especializando para estes recrutamentos.



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