Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Suplemento Eu & Fim de Semana Sobre Novos Economistas

7 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

clip_image002Raras são as matérias publicadas na imprensa brasileira sobre brasileiros que estão se destacando no exterior pelos seus trabalhos, tanto em universidades de primeira linha quanto pesquisando assuntos relacionados com países emergentes como o Brasil. O artigo de Cristiane Barbieri, publicado no suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico, vale uma leitura cuidadosa de sua íntegra.

Joana Naritomi, doutorada em Harvard, professora assistente na London School of Economics, uma das mencionadas no artigo do suplemento Eu & Fim de Semana, do Valor Econômico

Todos têm a intuição que ficou difícil pesquisar e estudar em assuntos de ponta no Brasil, dadas às limitações tanto de recursos como de equipes de professores e outros concorrentes com quem possam discutir assuntos de relevância no mundo atual. O número daqueles que estão estudando no exterior aumentou de forma significativa e a preocupação seria que muitos deles não voltarão para o Brasil. No entanto, constata-se por esta importante matéria publicada no suplemento Eu & Fim de Semana, do Valor Econômico, é que sempre eles procuram efetuar pesquisas que envolvam problemas brasileiros, como de outros países emergentes, utilizando instrumentos de ponta e contando com discussões com outros destacados estudiosos, inclusive de países emergentes, além dos professores de destaque que estão nas instituições internacionais de ensino e pesquisa.

A concorrência com outros pesquisadores do mundo é acirrada e os que desenvolveram trabalhos de alta qualidade receberam prêmios. Os temas que acabam sendo discutidos estão atualizados, sendo que os problemas dos países emergentes merecem destaque, inclusive com as pioras nas distribuições dos benefícios que ocorrem no mundo. Ainda que existam diferenças ideológicas, as discussões não estão tão polarizadas como ocorre na imprensa mundial e brasileira, notadamente entre posições estéreis entre direita e esquerda que parecem estar superadas.

O primeiro mencionado no artigo citado é Guilherme Lichand, que era doutorando de Harvard e aproveitou um summer job para pesquisar no Rio Grande do Norte, avaliando um programa de Leite Potiguar. Como não dispunha de dados, usou sua experiência de uso dos celulares para coleta de informações, que teve um retorno surpreendente e barato. Acabou merecendo um destaque no MIT Technology Review e hoje trabalha na Universidade de Zurique.

Rafael Dix-Carneiro, professor na Universidade de Duke, menciona que no passado poucos eram os brasileiros conhecidos no exterior, citando a exceção de José Alexandre Scheinkman. Hoje, já se conta com dezenas, muitos enviados pela FGV-EPGE, do Rio de Janeiro. Eles mencionam as dificuldades para voltar a trabalhar no Brasil, não somente pela falta de recursos para pesquisas. Renato Gomes, professor assistente na Escola de Economia de Toulosse, tem trabalhos importantes publicados junto com o Prêmio Nobel de Economia de 2014, Jean Tirole.

Thomas Fujiwara, professor assistente na Universidade de Princeton, pesquisou os efeitos da utilização das urnas eletrônicas nas eleições brasileiras, permitindo que não alfabetizados pudessem participar das eleições, ampliando conhecimentos sobre o que acontece no Brasil, no campo limite da economia e política. Joana Naritomi, professora assistente na London School of Economics, analisou milhões de dados do ICMS do Estado de São Paulo com técnicas econométricas para estudar como os consumidores podem auxiliar no combate à sonegação. Seu foco está voltado 90% sobre o Brasil e ela obteve o prêmio Excellence in Education. Também obteve dois prêmios em 2016 e 2017 para estudos em economia pública para pesquisadores de menos de 40 anos.

Os focos dos estudos também são diferentes no exterior comparando com o Brasil, pois quando ainda se preocupava muito com a macroeconomia por aqui, já se estava deslocando para a microeconomia no resto do mundo. Leonardo Bursztyn, professor assistente da Universidade de Chicago, que recebeu em 2016 o Alfred P.Sloan Fellowship, observa que os estudos no exterior ampliaram para considerar o ambiente social das pessoas. Jovens de baixa renda evitam oportunidade que os confundam com nerds e mulheres evitam serem confundidas como se exageradas em ambição, com estudos que se estendem pelo Brasil, Estados Unidos, Paquistão, Arábia Saudita e Vietnã. Envolvem-se mais com conhecimentos de antropologia, psicologia e ciência política, não se concentrando somente na economia. Os exemplos desta natureza são abundantes.

Parece oportuno mencionar que no passado, mesmo no Brasil por influência europeia, os estudos eram mais humanísticos, envolvendo história, antropologia, sociologia e política. Com o aumento da influência norte-americana, houve um exagero na especialização, como se os conhecimentos estivessem departamentalizados.

A maioria destes economistas que trabalha no exterior se preocupa com eventuais retrocessos políticos no Brasil, pois também observaram os impactos como do Brexit e a eleição de Donald Trump que ocorreram mundo afora. Mas alguns são mais otimistas, dada que a democracia por aqui tem somente de 30 anos, restando ainda na memória dos eleitores a importância de se escolher os seus representantes, tanto no Legislativo como no Executivo. Também os escolhidos para os principais postos do Judiciário deveriam sofrer questionamentos mais profundos.

Recomenda-se fortemente a leitura cuidadosa desta importante contribuição para a adequada avaliação dos jovens economistas que estão se consagrando no exterior e podem dar uma grande contribuição para o desenvolvimento no Brasil.



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