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Cientistas Iniciam Pesquisas Sobre os Incêndios Florestais

22 de agosto de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002Um artigo de Jim Robbins foi publicado no The New York Times e reproduzido em português no site de O Estadão, pois os cientistas ainda não sabem como o fogo está se comportando nos incêndios que se multiplicaram na Califórnia, nos Estados Unidos, matando muitos e causando grandes prejuízos materiais. Redemoinhos, como os ocorridos em Carr, chegaram a provocar ventanias que atingiram a velocidade de 230 quilômetros por hora.

Pesquisadores tentam criar um modelo de computador que possa prever com mais precisão o comportamento dos incêndios florestais.  Foto de Lido Vizzutti publicada no artigo do site do The New York Times, que vale a pena ser lido na íntegra

No Laboratório de Ciências do Fogo de Missoula, Montana, USA, Mark Finney e outros pesquisadores estão estudando os redemoinhos e as trilhas que as chamas descontroladas abrem no meio das florestas e pastagens do oeste dos Estados Unidos. Os cientistas estão correndo contra o tempo para alcançar uma compreensão mais profunda dos efeitos combinados do clima mais quente com a morte das árvores que alimentam os incêndios florestais e com o desenvolvimento humano que invadiu a paisagem natural.

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Gigantescos incêndios estão devastando a Califórnia, USA, sobre os quais se conhecia pouco do ponto de vista científico

Os grandes incêndios queimam diferentemente dos pequenos: troncos, galhos e outras fontes de combustível se comportam de maneira distinta conforme a temperatura. E os incêndios florestais geralmente apresentam um comportamento não linear ou atuam de forma contraintuitiva. O laboratório procura criar um modelo de computador que possa representar melhor esses comportamentos e ajudar a antecipar seus padrões.

Até agora, os cientistas descobriram que a taxa de liberação de energia de um incêndio é variável. À medida que ficam maiores, os incêndios vão queimando combustíveis e isto significa que são muito menos previsíveis do que se pensava. Os pesquisadores acreditam que as centenas de milhões de árvores mortas causarão incêndios ainda mais severos. "Um monte gigantesco de floresta morta é uma nova realidade", explicou Finney.

Segundo o pesquisador, as imensas pilhas de madeira queimada e a vegetação rasteira podem sugar o ar de baixo "como uma forja", rapidamente se transformando em um violento redemoinho de fogo, queimando de três a oito vezes mais rápido que as chamas comuns. Durante um incêndio, o calor sobe em uma coluna vertical e, à medida que sobe e esfria, puxa mais ar quente da parte inferior, podendo gerar energia suficiente para começar a rodar como um redemoinho. São coisas aparentemente simples que não eram conhecidos sistematicamente.

Outro fator em análise é o comportamento das "manchas" produzidas pelas brasas. Quantidades crescentes de madeira morta estão causando mais manchas – a chuva de brasas que os ventos fortes arrancam das árvores em chamas e espalham à frente. A faixa típica das manchas é de dois ou três quilômetros, mas, na Austrália, detectou-se que a mancha do incêndio de algumas florestas de eucaliptos chegou a até 24 quilômetros à frente das chamas. Pesquisadores da Universidade Estadual do Oregon estão estudando a física da geração e do transporte das brasas para prever com mais precisão quais tipos de floresta vão gerar centelhas e onde elas vão cair.

Tudo isto mostra o quanto não conhecíamos cientificamente sobre os fogos e os incêndios. Os incêndios extremos ocasionalmente podem provocar as chamadas nuvens pyrocumulus acima das chamas, as quais às vezes trazem fortes tempestades, com raios que, por sua vez, podem causar mais incêndios.

Antes dos assentamentos humanos se espalharem pela paisagem, o acúmulo de combustível nas florestas era reduzido por incêndios de baixa intensidade a cada uma ou duas décadas. Agora, depois de um século de eliminação de incêndios e das recentes e generalizadas mortes de árvores, há tanto combustível que os incêndios, quando ocorrem, são maiores e mais intensos – destruindo propriedades e danificando os sistemas naturais dos quais faziam parte.

Não há dúvida de que um mundo mais quente está mudando a natureza dos incêndios, mesmo que o aquecimento não seja o principal culpado. As altas temperaturas "pré-aquecem os combustíveis e os deixam muito mais suscetíveis à combustão", explicou Scott L. Stephens, ecologista de incêndios da Universidade da Califórnia, em Berkeley. O calor também parece estar mudando o comportamento do fogo à noite. "A floresta passa mais noites sem recuperação", disse ele.

Mesmo que as temperaturas mais altas sejam um fator importante, o pesquisador Mark Finney acredita que não devemos simplesmente desistir. "O clima está mudando, não há o que discutir”, disse ele. “Mas isso não pode virar desculpa para não fazermos nada".



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