Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Complexo Problema do Desmatamento no Brasil

12 de junho de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Meio Ambiente | Tags: , , , , ,

imageA revista The Economist apresenta um artigo detalhado que listas os muitos mecanismos para contornar as restrições às produções que aproveitam os desmatamentos, que voltaram a crescer de forma substancial no Brasil. Mesmo para aqueles que desejam cooperar, reduzindo as compras de produtos exportáveis que se beneficiam até indiretamente destes desmatamentos, que afetam os já graves problemas climáticos no mundo.

Gráficos constantes do artigo no site do The Economist que mostram as tendências atuais no Brasil, que merece ser lido na sua íntegra

O artigo no The Economist indica que as emissões de dióxido de carbono no mundo podem declinar 7%, segundo o que consta da publicação científica Nature Climate Change. Mas no Brasil, a tendência é totalmente contrária, podendo aumentar de 10 a 20% a partir de 2018. Na Amazônia, o problema é surpreendente, podendo aumentar 55% com relação a 2019, considerando somente os dados dos primeiros quatro meses do ano. Os cientistas indicam que está se chegando a “um ponto de inflexão”, após o que as arvores secam e morrem mesmo sem os desmatamentos, liberando bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.

Os ambientalistas atribuem a culpa desta tendência recente ao atual governo de Jair Bolsonaro que enfraqueceram as legislações ambientais, permitindo a extração da madeira, a mineração e agropecuária nas florestas, mesmo sem considerar as condições mínimas para a vida dos indígenas. As grandes empresas brasileiras e internacionais que atuam no setor procuram ampliar as exportações de carne bovina e a soja, principalmente. Estas empresas não cortam as árvores, mas contam com muitos intermediários que contribuem na produção de carnes e soja na sua fase final.

Segundo o ambientalista Daniel Nepstad, as terras na Amazônia desmatadas valem de cinco a dez vezes mais do que mantidas vivas nas condições atuais, o que não se consegue corrigir sem um plano bem elaborado, de longo prazo, com o mecanismo de mercado dos créditos de carbono.

O Greenpeace pressiona as três grandes empresas que detêm dois terços das exportações de carne do Brasil. O mesmo tende a acontecer com a soja, com poucas empresas relevantes no mercado. Elas evitam comprar os produtos decorrentes das áreas dos desmatamentos, mas o processo conta com muitos intermediários nas suas muitas fases, mesmo que no final o gado acabe sendo engordado em áreas consideradas legais. No caso da soja, as áreas afetadas estão concentradas nos cerrados que também passam por desmatamentos.

Os acordos efetuados contribuíram num declínio acentuado dos desmatamentos como em 2012, como é possível constatar nos gráficos. Nova mudança ocorreu com o novo governo, como também é possível verificar nos gráficos. O gado é transferido de áreas, permitindo sua legalização, o que demanda algum tempo, sendo que nas antigas florestas as produções, como da soja, exigem um prazo mais longo.

Evidentemente, existem também casos positivos, como as tecnologias que combinam reflorestamento e criação de gado, de forma sustentável, onde as técnicas mais avançadas permitem produtividades compensadoras, sem danos às florestas. A melhoria na eficiência pode ocorrer até com a redução das áreas utilizadas, mas ainda restrita aos produtores mais esclarecidos.

O envolvimento de diversos atores neste processo não é fácil de ser administrado, pois parte substancial da produção volta-se ao mercado interno ou a países importadores, que não estão tão preocupados com a sustentabilidade de prazo mais longo. Também ocorrem as participações das instituições financeiras que podem estar concentradas em outros objetivos.

Deve-se constatar que muitos dos desmatamentos ocorrem com pequenos produtores, que estão objetivando as legalizações de suas propriedades fundiárias. Não podem ser ignorados os grileiros, que invadiram áreas públicas, que costumam ser poderosos. Na medida em que estas questões envolvem interesses políticos, sem uma visão de longo prazo das autoridades qualificadas, o quadro completo dos problemas acaba ficando mais complexo.



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