Presença de Militares no Atual Governo Brasileiro

19 de julho de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: a nossa experiência em assuntos relacionados, artigo na Folha de S.Paulo sobre o assunto, militares da ativa e na reserva, suas formações | 6 Comentários »

Uma pesquisa que resultou num longo artigo publicado na Folha de S.Paulo, de autoria de Ranier Bragon e Camila Mattoso, leva-nos a algumas considerações sobre o assunto. Tendo trabalhado no período do governo autoritário na administração federal é natural que conheça alguns deles, muitos bem preparados como outros de formas deficientes. Este processo começou no período do estágio no começo da década dos anos 1960, depois de formado no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva – CPOR para ser promovido como tenente da reserva, como muitos estudantes universitários da época. O que fiz no Grupo de Canhões Antiaéreos de 90 mm – Gcan 90, sediado em Quitaúna, nos arredores da Capital paulista, onde se localizavam outras unidades militares.

O Gcan 90 era das unidades mais equipadas do Exército Brasileiro com equipamentos herdados dos norte-americanos e alguns oficiais treinados no Panamá

Esta unidade militar era na ocasião a mais motorizada, alem de contar com uma espécie de radar computadorizado para acompanhar os alvos e programar os canhões a lançarem as granadas nos seus trajetos futuros. Houve um dia uma discussão entre os oficiais sobre a conveniência do monopólio da Petrobras sobre o petróleo. Fui chamado no dia seguinte pelo subcomandante que cuidava da disciplina e ele me indicou um boletim do Estado Maior do Exército que acreditava que o que lá estivesse era a verdade, não se admitindo discussões sobre tais assuntos como nas universidades.

Depois desta ocasião, nas vésperas de março de 1964, quando Leonel Brizola era o governador do Rio Grande do Sul, que apoiava o vice-presidente João Goulart que se encontrava na China, ameaçava avançar para o Sudeste do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, constatou-se que Gcan 90 era a unidade que contava com mais oficiais e sargentos contrários ao governo federal de então, evidenciando que a disciplina era aparente, havendo grupos que pensavam de formas diversas.

Hoje, apesar da ênfase na disciplina, há que se admitir que exista militares que pensam de forma diversa do presidente e, como eles dispõem da força, o recomendável é que os que possam exercer funções civis deixem de permanecer na ativa, passando para a reserva, princípio que era aplicado até recentemente no governo.

Mesmo que alguns militares imaginem estar preparados para a administração, como da logística, parece evidente que há um excesso deles na atuação em determinados setores, como da saúde, para o que não estão preparados como os profissionais de medicina. Isto vem acontecendo também em outros setores da administração pública, dando uma impressão que existe pouca eficiência na atuação governamental, onde se poderia contar com civis preparados e com longa tradição nas suas carreiras.

Também que se observa que muitos militares estão sendo usados para funções paralelas que aparentam ser das polícias como de fiscalização, quando aos militares cabem tarefas específicas previstas nas legislações. Como existem muitos encargos que não estão adequadamente cumpridos por outros profissionais, os militares estão sendo usados para muitas tarefas, gerando riscos de seus envolvimentos com atividades criminosas. Parece conveniente que o governo tenha necessidade de um plano claro, sem o que acaba se transmitindo para população um sentimento de confusão.