Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Tradutores e Intérpretes Nipo-Brasileiros

1 de janeiro de 2021
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Aproveitando o atual período de pandemia, muitos livros japoneses editados pela Estação Liberdade puderam ser lidos em português, mostrando as vantagens quando se contam com profissionais que, além do domínio destes idiomas, possuem culturas mais amplas. No livro de Yoko Ogawa, “A fórmula preferida do professor”, a tradução foi feita pelo conhecido Shintaro Hayashi, que é também engenheiro, conhecendo bem matemática. Já informamos neste site que ele é irmão mais velho da tradutora do consagrado “Miyamoto Musashi”, Leiko Gotoda, que é um grande sucesso editorial. Seus antepassados no Japão são conhecidos como figuras importantes na literatura daquele país.

Num outro livro, as notas adicionais da tradutora, referiam-se ao beisebol, que nada tinha relacionado com o tema, ainda este esporte seja muito popular no Japão há mais de um século. Meu pai tem um livro publicado pelas universidades japonesas tratando do beisebol no Brasil, desde quando os imigrantes trouxeram para este país este esporte, até o fim da Segunda Guerra Mundial. Equipes universitárias famosas do Japão vieram para cá anos depois, como parte das histórias dos imigrantes japoneses por aqui.

O atual intérprete mais ativo entre os dois idiomas é o professor Masato Ninomiya, que, além de lecionar na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, também foi professor visitante da Universidade de Tokyo. Ele faz as interpretações das autoridades brasileiras quando em contatos até com os principais membros da Família Imperial do Japão. Sua esposa, Sonia Ninomiya, brasileira descendente de italianos, formou-se na Universidade de Tsukuba e quando usa o telefone no Japão tem o costume de baixar a cabeça frequentemente acompanhando a conversa, como fazem muitas japonesas. Ela também ajuda na interpretação dos visitantes brasileiros para membros da Família Imperial.

Mas existem outros intérpretes que desempenharam papéis importantes entre os dois países, como a japonesa Yuko Takeda, que foi trabalhar na embaixada brasileira em Tóquio, acabando por se casar com um diplomata brasileiro, incorporando no seu nome Povoas de Arruda. Quando em Paris, ela fez o famoso curso de intérpretes de diferentes idiomias, pois ela dominava também o inglês, alemão, o italiano e o francês. Eu pedi a ela que traduzisse para o japonês o livro de Oliveira Lima, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, “No Japão, Impressões da Terra e da Gente”, cuja primeira edição em português é de 1903. Este livro foi oferecido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para o então Casal Imperial do Japão, mas até hoje não se conta com a sua tradução para o idioma japonês. Uma das dificuldades deste trabalho está na menção de políticos japoneses atuantes da época, cujos nomes devem contar com ideogramas corretos, pois muitos podem ter escritos seus clip_image002nomes de formas diversas. Alguns ideogramas japoneses, chamados “kanji” foram sendo simplificados ao longo do último século.

Masato e Sônia Ninomiya (ao centro) quando ele foi condecorado pelo Ministério de Negócios Estrangeiros do Japão

Tudo isto dá conta de parte das dificuldades das traduções e interpretações de idiomas muito diferentes, não bastando somente o conhecimento das línguas japonesa e portuguesa. Com os esforços feitos pelas editoras, conta-se no Brasil com profissionais que conhecem também outros aspectos vitais entre culturas diferentes, melhorando substancialmente a compreensão dos trabalhos hoje disponíveis.

Mesmo que os livros tratem de assuntos variados, existem profissionais que também dominam outros setores dos conhecimentos humanos e os leitores acabam sendo beneficiados por obras de grande envergadura. Com a crescente globalização que continua em marcha, apesar de algumas dificuldades temporárias, a literatura e a cultura vêm desempenhando papel da maior relevância, ampliando nossos modestos horizontes, notadamente entre o Brasil e o Japão, ainda que localizados no outro lado do globo.

O enriquecimento recíproco parece apresentar mais possibilidades entre povos diferentes. Se a imigração ajudou muito neste processo, os intercâmbios culturais ajudam substancialmente nos aspectos qualitativos. Existem fundamentadas esperanças para tanto, principalmente porque muitos conflitos acabam ocorrendo com as proximidades geográficas.



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