Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Mobilização Surpreendente de Voluntários

22 de abril de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: , , ,

O Centro de Ajuda Voluntária de Tóquio, em Shinjuku, visando gente que trabalha em seus afazeres normais, mas almeja poder fazer trabalhos voluntários, abriu inscrição para 200 pessoas interessadas em se engajar no feriado do Golden Week (que emenda alguns feriados japoneses). A tarefa principal é para ajudar na remoção de escombros e lama em cidades do litoral leste atingidas pelo tsunami. O anúncio, colocado na internet do dia 20 último, teve 600 inscrições nos primeiros 10 minutos, o que levou o Centro a interromper as inscrições para fazer uma primeira seleção. As condições básicas desejáveis são: ter tido experiência de ajuda voluntária em desastres naturais; ter carteira de motorista; ter condições de saúde para enfrentar jornada dura.

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Professor Donald Keene Vai Requerer Cidadania Japonesa

15 de abril de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags:

A Universidade de Colúmbia, Nova Iorque, convida estudiosos, admiradores e alumni (ex-alunos) para a última aula que o professor emérito de cultura japonesa Donald Keene profere na sexta feira, dia 15 de abril, no Kent Hall, Campus Morningside. Com apoio da Fundação Japão – Nova Iorque, o evento faz parte do simpósio “Os Legados de Donald Keene”, que é realizado em homenagem aos cinquenta anos de contribuição do professor aos estudos japoneses.

Formado em literatura com Ph.D. pelas Universidades de Colúmbia e Cambridge, é conhecido por alunos de literatura japonesa fora do Japão, com dezenas de livros de ensaios, críticas, traduções e história sobre a cultura e literatura do país. Donald Keene recebeu também inúmeros prêmios e menções honrosas. Para citar os principais: Prêmio Kikuchi Kan Para o Avanço da Cultura Japonesa (1962), Ordem do Sol Nascente- 3ª classe (1975) e 2ª Classe (1993), Bunka Koro-sha (Pessoa de Mérito Cultural, do governo japonês – 2002), Bunka Kunsho (Ordem da Cultura, que o governo japonês concede a quem contribuiu excepcionalmente para a arte, literatura e cultura; o professor Keene foi o primeiro estrangeiro a receber este prêmio – 2008). Dentre as suas obras, além das críticas sobre poetas e escritores japoneses, destacam-se os volumes sobre o teatro Nô, e a biografia do Imperador Meiji – best seller em 2002. Publicações do professor no Japão incluem obras suas traduzidas do inglês, e também de originais escritas diretamente em japonês.

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Donald Keene, da Universidade de Colúmbia

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Ídolos em Correntes de Solidariedade

11 de abril de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , , , , ,

O teatro da emissora NHK em Shibuya, Tóquio, tem sido palco de shows e concertos transmitidos ao vivo, dedicados a consolar desabrigados do nordeste do Japão. Com adesão carinhosa de cantores populares de diferentes ondas e idades, e de veteranos queridos como Hossokawa Takashi, Kitagima Saburo, Miyako Harumi, Sen Massao e Shujenzi Kiyoko. O repertório é de canções de eterno sucesso que o público canta de cor, e remetem a temas que cativam a todos: saudade, natureza, amores passados, terra natal…

Uma das músicas que mais fala ao coração de todos os japoneses nestes dias, sejam ou não oriundos do nordeste do país, é o grande sucesso lançado pelo cantor Sen Massao nos anos 70, Kitaguni no Haru (“Primavera da Região Norte”): fala da saudade de quem deixou o torrão natal, amigos, primeiro amor e pais para tentar vida em cidade grande. Sen Massao relatou que é natural de Rikuzen-Takata, província de Iwate – cuja parte junto ao litoral foi totalmente devastada pelo tsunami. A casa onde ele nasceu, em colina mais afastada, escapou por pouco. Sua idosa mãe, o irmão, e sobrinha escaparam ilesos, mas o cantor perdeu amigos de infância e colegas da escola. Ao cantar a conhecida Kitaguni no Haru com lágrimas nos olhos, o cantor foi acompanhado em coro pelos outros artistas no palco, e pela plateia. Ninguém conseguia conter o choro. Tampouco desabrigados que assistiam pela televisão, com certeza. Ou nipo-brasileiros veteranos que cantaram muito esta canção (e cantam ainda) pelos karaokês.

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Sen Massao, Placido Domingo, Zubin Mehta e Ryo Ishikawa: solidariedade

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A China em Explosão de Cores e Flores

7 de abril de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

De meados de março a fins de abril, imensos campos no centro e sudoeste da China se cobrem de espetacular amarelo ouro. É a explosão de flores de colza (cole, rapeseed, brassica, nanohana – pelos países do hemisfério norte). Planta forrageira, usada desde tempos imemoriais para alimentar gado, produz semente oleaginosa, muito substanciosa. Conseguiu-se minimizar sua toxicidade ultimamente, através de melhoramento genético como o da Canola, desenvolvido no Canadá. Muitos países a utilizam para produzir óleo comestível e biodiesel. A China é um dos grandes produtores, sendo a província de Yunnan uma das maiores.

Na primavera, as flores de colza, carregadas de pólen, fazem a alegria das abelhas. Tanto que, onde existe plantação de colza, proliferam fazendas de mel paralelamente. Devido ao alto fator pólen, muitos países estabelecem restrições para o seu cultivo, afastando-o de limites urbanos; podem causar sérios problemas respiratórios e alérgicos. No Japão, folhas tenras de colza são muito apreciadas. Chamadas nanohana, lembram folhas de mostarda com sabor de brócolis; conserva de nanohana em farelo salgado (nukazukê) é comida artesanal típica da região de Kansai (Quioto e adjacências). Mas as folhas precisam ser colhidas tenras, quase em meio à neve. Depois que vêm os botões e floresce, o nanohana é festa para os olhos: o seu amarelo, em muitos lugares do Japão, contrasta com as flores da cerejeira.

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Uma flor considerada quase símbolo da China é a peônia. Sedutora e aristocrática, embeleza jardins e parques de todo o continente; motivo para pinturas desde tempos clássicos, é apreciada também para padronagens de tecidos. O Festival da Peônia de Luoyang, na província de Henan, entre abril e maio, é imperdível. Nessa época, dezenas de outros festivais de flores acontecem por toda a China: ameixeiras (apricot), pessegueiros, magnólias yulan (no Japão, beni mokuren), camélias, azáleas, cerejeiras etc. E tulipas: introduzidas da Holanda, hoje são cultuadas em todo o leste asiático.

Porém, não é preciso viajar pelo país para apreciar toda a magia da primavera. Parques de Beijing também promovem festivais, cada qual focado em uma flor. Longe foram os dias da Revolução Cultural, quando manter jardins e gramados, e apreciar flores era considerado ignomínia da elite, como relembra a escritora Jung Chang sobre sua infância, em “Cisnes Selvagens”. Na Campanha Anual Voluntária para o Plantio de Árvores (2 de abril este ano), o presidente Hu Jintao e líderes do partido se juntaram a crianças e a quase dois milhões de residentes de Beijing; com pá e regador à mão, ajudaram a plantar árvores, em evento televisionado para todo o país (China Daily).

Na “primeira visita de peso ao exterior”, a comitiva presidencial e empresarial brasileira chega a Beijing numa época de singular esplendor. Se pólen ou chuva não atrapalharem, almeja-se que o encanto da primavera ajude positivamente nas discussões. Os brasileiros levam uma bem aparelhada “coleção de queixas e reclamações”, segundo o jornalista Clovis Rossi (Folha de S.Paulo), enquanto chineses aguardam com bem arrumadas bandejas de propostas e planos de cooperação. Mesmo se nem tudo navegar em mar de peônias, quer dizer, de rosas para os brasileiros, vamos torcer para que eles possam concretizar alguns bons e sólidos negócios da China.


Tempo de Florir e Tempo de Renascer

4 de abril de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 8 Comentários »

“Abril é o mais cruel dos meses,

Fazendo da terra morta florir lilases;

O inverno nos manteve aquecidos,

Cobrindo a terra com neve que tudo faz esquecer…”

(Terra Devastada, 1922 – T.S.Eliot, 1888-1965)

Nunca este poema do poeta anglo-americano nos tocou tão profundamente como nos dias atuais. Aos seus olhos, o ressurgir da primavera é tanto mais pungente quando da natureza deteriorada desabrocha o delicado perfume das primeiras flores. Talvez o poeta contemplasse paisagem dos sombrios dias da Primeira Grande Guerra – quando milhões perderam casas, entes queridos, e esperanças. Mas a imagem da ressurreição está presente nos delicados lilases contrastando com um mundo árido e fragmentado.

Um repórter da NHK, transmitindo notícias diretamente da devastada cidade litorânea de Kesen-numa, província de Miyagi, apontou a câmera para uma solitária cerejeira nua que teimava em permanecer de pé em meio aos escombros. Observando com atenção, porém, na ponta de galhos castigados apontavam alguns botões prestes a abrir. Pelo que cerejeira em flor significa para a cultura e a alma japonesas, o repórter mal conseguia disfarçar a emoção: “Mesmo na devastação, o sakura quer florescer a qualquer custo; aí está o verdadeiro espírito do Japão neste momento”. Não deu para não relembrar o pungente poema de Eliot.

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Usinas Nucleares: A Lição de Fukushima.

31 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

Por que instalam usinas nucleares à beira-mar? Por que em litoral propenso a tsunamis? São perguntas que a maioria leiga fez, quando problemas na usina Fukushima Daiichi começaram a apontar iminente desastre nuclear. Isto quando países, especialmente os em rápido crescimento econômico, se inclinavam a adotar a energia atômica para gerar eletricidade isenta de emissões de gás carbônico – responsáveis, segundo cientistas, pela mudança climática.

Em artigo no The Japan Times (“A Tale of Japan’s Morality” – 17 de março), Brahma Chellaney, escritor e professor de estudos estratégicos de Nova Delhi, elucida estas e outras dúvidas para leigos. Para começar, diz ele, muitas usinas nucleares são construídas ao longo de costas marítimas (e de rios) por que elas são intensamente dependentes de água para resfriamento. No entanto, desastres naturais (tempestades, furacões, tsunamis) estão se tornando comuns devido à mudança climática, que também causa a elevação do nível dos oceanos, tornando reatores à beira-mar ainda mais vulneráveis. Todos os geradores de energia, inclusive usinas movidas a carvão ou combustível fóssil, exigem grandes recursos de água, mas a energia nuclear demanda muito mais. Reatores como os de Fukushima, que usam água como principal resfriante, produzem a maior parte da energia nuclear mundial. A imensa quantidade de água local consumida para a operação se transforma em fluxos de água quente que são bombeadas de volta para os rios, lagos e mares.

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Usina de Chernobyl após o acidente nuclear

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Onigiri (Bolinho de Arroz) e Voluntários: Mobilização Anônima

28 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

“Onde estão as pessoas? E os voluntários de que o país tanto se orgulha?” – perguntava um repórter de importante emissora brasileira de TV, estacionado em Ôshu, província de Iwate, contemplando a devastação e o silêncio da região litorânea de Ôfunato: lá embaixo, vilarejos destruídos estavam vazios de gente, apenas o cenário apocalíptico. Era o 3º ou 4º dia após o tsunami, a terra tremia a toda hora, 3.0 a 6.0 Richter. Alarme e alerta permanente para novas possíveis ondas; que ninguém voltasse às cidades, não se aproximasse do litoral.

Onde estava o povo? Ora, nos seguros centros de evacuação ou nas centenas de abrigos improvisados, em lugares mais altos, onde as pessoas se refugiaram, guiadas por alto-falantes de alerta, pelas placas indicativas, ou por puro instinto. O relato de sobreviventes é atroz: as primeiras 48 horas foram pesadelo, fome e frio. Isolados, sem comunicação, só puderam contar com a ajuda de gente da região que tinham escapado da destruição. Ao longo de 500 quilômetros do litoral nordeste, desde Aomori até Fukushima, a comunicação ficou interrompida: telefones, celulares, TV, internet – tudo fora do ar. Pontes soçobravam, estradas ficaram inundadas ou destruídas na parte do litoral, e interrompidas por avalanches e deslizamentos na parte interna de Honshu (a principal ilha do Japão). Depois da falta de comida e remédios, o que mais afligia sobreviventes, feridos e doentes era a falta de notícias, sem saber o que acontecia no resto do país. Sem falar do frio inclemente.

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Jishuku: Autocomedimento e Circunspeção

26 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , ,

Nos dias que se seguiram ao 11 de março, o Japão foi tomado por sentimento coletivo que mescla autocomedimento, pesar reservado e grave circunspeção, jishuku. É sentimento que vem do íntimo de cada um, voluntariamente (sem que ninguém dite regras ou diga o que seja apropriado) nos momentos de grande perda ou comoção nacional. Nos últimos tempos, o país experimentou esse sentimento nos dias após a rendição do Japão na Segunda Guerra, quando tiveram que “suportar o insuportável” em meio à fome, racionamentos e devastação de grandes metrópoles (Tóquio principalmente) bombardeadas e incendiadas por blitz aérea, e duas outras destruídas por bombas nucleares. Quando da agonia e morte do Imperador Showa em janeiro de 1989, o país também observou um período de jishuku: mergulhado em luto e pesar profundo, o povo se absteve, por longas semanas, de promover ou participar de eventos, voluntariamente: inaugurações, festividades, espetáculos, até festas de casamento foram adiados ou cancelados, considerados impróprios e inadequados para o momento.

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Treinados para Emergências e Preparados para Crises

22 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 4 Comentários »

Acompanhando o drama dos japoneses, o mundo se espanta com a calma e ordem com que o povo enfrentou o desastre, enterra os mortos, e se prepara para a recuperação. Trabalhadores estrangeiros aflitos congestionaram aeroportos tentando sair do país a qualquer custo, apavorados com tremores, desabastecimento e radiação.

Residindo no Japão desde 1994, Amy Chavez, do The Japan Times (What it means do be ‘prepared’- 19 de março), narra como o Japão “escoteiro”, arquipélago sob o signo de desastres naturais, se mantém em alerta permanente, com uma organização altamente coordenada de suas forças de defesa civil e do batalhão de médicos, paramédicos e voluntários. O governo, em conjunto com prefeituras, escolas, hospitais, fábricas e empresas cumpre treinamento intensivo da população, para evacuações de emergência. Mais do que tudo, porém, o país se esforça para o preparo individual para crises: cada pessoa sabe exatamente o que fazer numa emergência. Não nativos acham que o país é hiper- obsessivo e exagera no que diz respeito a preparo da população para desastres. Mas o de 11 de março mostrou que nenhum preparo pode ser demais.

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Sensibilidades Diferentes Sobre Uma Mesma Cena

20 de março de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, Editoriais | Tags: ,

Com colaboração de Paulo Yokota

Katsushika Hokusai (1760-1849), natural de Edo (antiga Tóquio), pintor xilogravurista, é um dos mestres do ukiyo-ê, “pinturas do mundo flutuante”. Observador atento da natureza e do ser humano, seus trabalhos retratam a vida cotidiana e o homem comum da Época Edo (1608-1868). A Grande Onda de Kanagawa é sua mais conhecida obra; faz parte das “36 Vistas do Monte Fuji” em que Hokusai retrata o sagrado monte dos japoneses, sob várias perspectivas (circa 1826-33).

Note-se o poder avassalador da natureza: a imensa onda parece querer encobrir tudo. O Fuji-san aparece pequenino ao fundo, homens em três barcaças enfrentam corajosamente a grande maré. São pescadores levando peixe para mercados da Baia de Edo. É um quadro com muito movimento: a luta dos pescadores, os barcos balançando, as enormes ondas levantando espumas – um solene e estático Monte Fuji a tudo contempla. Acredita-se que Hokusai tenha se inspirado num grande tsunami de mais de cinco metros de altura que sacudiu o nordeste do litoral japonês em 1700, após um terremoto de magnitude nove, do qual ele deve ter ouvido relatos anos mais tarde. Hoje sabemos que o tsunami difere das grandes ondas.

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É a pintura mais famosa de Hokusai, quiçá a mais conhecida pintura japonesa no ocidente. Por ilustrar símbolos sagrados do Japão – o Monte Fuji e o mar, fonte de vida que cerca o arquipélago -, é um cenário muito venerado pela cultura japonesa, e que diz muito da sua alma.

Por isso, foi com dupla e dolorosa incredulidade que deparamos na página dois do jornal Folha de São Paulo do dia 12 último, a charge fazendo troça da tragédia do tsunami do dia anterior, em cima desta obra de Hokusai. Como poderia o editor de um jornal de penetração permitir publicar tal gozação, logo no dia seguinte à maior tragédia daquele país? E pior, anônimo: como se o responsável já temesse a reação dos leitores. Depois ficamos sabendo que o autor era jovem de 14 anos. Cartunistas do mesmo jornal se apressaram em sua defesa, enaltecendo a “beleza artística” da charge. “Coleguismo” oblige. A ombudsman da Folha comenta hoje o dilema, mostrando outras charges semelhantes publicadas mundo afora, mas na lide da matéria registra: “É um engano pensar que cartunista pode tudo, mas é difícil decidir o que pode ser publicado quando se trata de ilustrar tragédias”.

Perdoam-se imaturidades. Mas por mais jovem que seja um ser humano, espera-se dele sensibilidade e compaixão – coisa que até bichos e pássaros demonstram para com seus iguais. Como nos sentiríamos brasileiros em geral se algum jornal, de qualquer país, publicasse piada sobre a tragédia da serra fluminense em cima de imagem do Cristo do Corcovado (ícone do país, como também o é A Grande Onda) deslizando em lama, no dia seguinte ao desastre?

Ninguém nasce preconceituoso. Um indivíduo se imbui de influências que o cercam desde tenra infância, no meio familiar, social, racial. Conforme vai amadurecendo, pode ir alcançando discernimentos que mudem suas idiossincrasias, xenofobias e intolerâncias adquiridas. Ou não: quanto mais seus horizontes forem estreitos, menor será sua capacidade de crescer e discernir. Aliás, realidade triste aqui, acolá, a começar pelo Japão, há uma juventude consumista e egoísta, insensível e superficial. Claro, com exceções honrosas: a globalização em muito vem contribuindo para criar cidadãos do mundo, abertos e esclarecidos, aptos para entender e praticar tolerância, sensibilidade, humanidade, espiritualidade e, sobretudo, humildade. Como os grandes mestres.

Se os céus me tivessem concedido pelo menos dez, cinco anos (de vida) mais, eu poderia ter me tornado um artista de verdade.” – Hokusai, pouco antes de falecer aos 89 anos de idade.

Não há dúvida nenhuma que os que sofrem mais influência da cultura japonesa se sentem mais ofendidos com estas charges, mesmo que tenham o maior respeito pela liberdade de imprensa e artística.