Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Saga de Náufrago Japonês é “Best-Seller” Americano

21 de janeiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, Notícias | Tags: | 2 Comentários »

samurai A incrível história de menino pescador japonês que naufragou nas costas da Província de Kochi, Ilha de Shikoku, em 1841, e foi parar nos EUA, é best-seller americano de literatura juvenil, informa a NHK. O barco em que Manjiro, de 14 anos, estava com mais quatro pescadores soçobrou, e eles conseguiram chegar a uma pequena ilha no Oceano Pacífico. Resgatados por baleeiro americano, Manjiro foi levado pelo capitão até New Bedford, Massachusetts; os outros preferiram ficar em ilha do Havaí. Apesar de nunca ter tido escolarização formal, Manjiro impressionava pela inteligência e vontade de aprender, principalmente matemática, navegação e língua inglesa. O Capitão William Whitfield, que não tinha filhos, o adota cativado pela retidão de caráter e tenacidade do menino. Manjiro recebe o nome de John Mung, frequenta a escola de Fairhaven, Mass., onde foi morar com a família do Capitão.

Atraída pela singular epopéia, Margi Preus fez pesquisas na Nova Inglaterra e no Japão, no vilarejo natal de Manjiro, Nakanohama. Ela foca a história em como Manjiro conquistou sólidas amizades e respeito com seu caráter franco e confiante, apesar dos pesados preconceitos, revezes e desencontros culturais que sofreu. Professora de literatura em Duluth, estado de Minnesota, Preus escreveu o livro desejando que seus alunos se inspirassem na coragem de Manjiro e na sua capacidade de aceitar críticas e se envolver com as pessoas. Ela se declara preocupada com o crescente número de crianças americanas que encontram dificuldades para estabelecer relacionamentos, e tem viajado pelo estado divulgando o livro para que mais jovens conheçam a edificante história.

Leia o restante desse texto »


Herói de Mangá Ataca de Papai Noel

12 de janeiro de 2011
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, Notícias | Tags: , , , , , | 2 Comentários »

Segundo agências de notícias (Kyodo, NHK), instituições e centros de bem estar para crianças órfãs em diversas cidades do Japão estão recebendo mochilas escolares contendo material escolar, brinquedos, comida e dinheiro, de remetentes que se identificam como o herói de antigo mangá e anime.

Tudo começou no dia de Natal na cidade de Maebashi, província de Gunma, e, depois que o fato foi divulgado pela imprensa, novos casos vêm ocorrendo, um depois de outro, e se espalhando por cidades de várias províncias, principalmente a partir do Ano Novo. (É tradição japonesa presentear crianças no Ano Novo com o “otoshidama”, geralmente em forma de pequena mesada). No dia 25 de dezembro, uma funcionária de centro de assistência infantil em Maebashi encontrou 10 caixas de papelão contendo mochilas escolares com brinquedos na porta da instituição. Acompanhava apenas uma nota assinada “Naoto Date, pedindo que fossem destinadas a crianças órfãs necessitadas. Não se fazia a menor idéia de quem seria a pessoa ou qual a motivação, quando um funcionário veterano se lembrou que Naoto Date era o alter-ego do herói de luta livre da série de mangá e anime Tiger Mask, dos anos sessenta/setenta.

TigerMaskanime anhtonio inoke rikidozan

Tiger Mask- Naoto Date, Antonio Inoki e Rikidozan

Leia o restante desse texto »


Devolução de Tesouros Históricos e Arqueológicos

16 de dezembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura, Depoimentos | Tags: , , , ,

Acordo firmado pelos governos do Japão e Coreia do Sul estabeleceu, para o fim deste ano, a devolução de objetos históricos coreanos levados para o Japão durante a dominação japonesa da península coreana. Entre os mais de 1.200 itens negociados, incluei-se conjunto de arquivos do protocolo real da Dinastia Joseon (1392-1910). Igualmente, após disputa de décadas, o Peabody Museum of Natural History da University of Yale, New Haven, vai devolver ao Peru, a partir do início de 2011, cerca de 4.000 objetos extraídos das ruínas de Machu Picchu. A coleção inclui peças de cerâmica, têxteis e ossos levados pelo estudioso Hiram Bingham III, entre 1911 e 1915, patrocinado pela Fundação Peabody-Yale.

São notícias alvissareiras, aquietam corações daqueles que, visitando ricos museus mundo afora, se questionam até onde iria a legalidade da possessão de milhares de objetos arqueológicos supostamente levados para “pesquisa” e nunca devolvidos. Monumentais peças pré-colombianas e incaicas estão em alguns dos mais conceituados museus ligados ou não a prestigiosas instituições universitárias americanas. Múmias, totens, esculturas de pedra, máscaras e potes de cerâmica, objetos de jade, prata, ouro e tecido de civilizações asteca, maia, inca, mochica etc., fazem qualquer pessoa imaginar que nada deve ter restado das ruínas desses povos nas Américas Central e do Sul. Belíssimas peças da mais fina arte pré-colombiana em puro ouro maciço lembram que o El Dorado existiu, sim.

Os detentores dessas coleções alegam, não sem razão, que não tivessem esses tesouros sido levados, catalogados e preservados devidamente em locais seguros e adequados, hoje estariam todos vandalizados, derretidos, sumidos e que, da maneira como estão conservados, mais pessoas poderão apreciá-los. Os países de origem, por sua vez, contestam: acusam o imperialismo de governos e instituições patrocinadoras de terem feito saques e pilhagens em indefesos países coloniais. Por exemplo, instalando-se de mala e cuia junto às ruínas maias de Chichen Itza, Yucatán, México, o suposto arqueólogo Edward Thompson levou equipe a escavar sítios sem o devido rigor científico, nos anos 1890. Negociações levaram o governo mexicano a reaver alguns dos objetos levados ao Museu de Etnologia Peabody-Harvard, e Thompson se safou das acusações de pilhagem e venda. No Peru, além de Machu Picchu, das maltratadas ruínas pré-colombianas da costa norte do país também saíram preciosos objetos de ouro e pedras preciosas. Na verdade, a pilhagem vem de longos séculos: diz-se que o ouro levado à Espanha por conquistadores das Américas causou tamanho desequilíbrio monetário que chegou a desestabilizar a economia europeia na época. Na França, até hoje a expressão “ce n’est pas un Pérou” indica situação de muita riqueza, como em “a herança recebida não é nenhum Peru, mas dá pro gasto”.

Pilhagens e saques sempre foram demonstrações de força e poder ao longo da história. O maior deles talvez tenha acontecido quando Rússia e Inglaterra disputavam o Grande Jogo de influência na Ásia Central, nos fins do século XIX: segundo constatou o historiador Joseph Needham em 1943, Aurel Stein, explorador a serviço de sua majestade em 1907, levou algo como 24 vagões cheios de papéis e objetos antigos de uma das cavernas de Mogao, a 25 km de Dunhuang, norte da China. Needham o classifica como um dos mais ricos achados da história da arqueologia: objetos e documentos guardados durante séculos por monges, copistas e peregrinos budistas, só descobertos, então, 900 anos depois (Simon Winchester, “O Homem que Amava a China”, páginas 176-187). Espalhados por museus da Europa e Ásia (British Library, British Museum, Srinagar Museum, National Museum de Nova Delhi, Índia, e afins), ficaram longo tempo esquecidos em seus porões. No Reino Unido, hoje estão sendo cuidadosamente catalogados e digitalizados. Através de senha, internautas vão poder visualizá-los, quiçá copiá-los, inclusive a mais rica descoberta de Stein, o Sutra do Diamante: são rolos de pergaminho com transcrição de sutras budistas considerados o mais antigo documento impresso da história da humanidade. Em “Tung huang (Tonkô, 1959), o escritor Yasushi Inoue tece uma apaixonante história sobre como, quando e porque muita seda e bateladas de sutras, documentos, pinturas, esculturas e relíquias búdicas foram zelosamente guardados nessas cavernas de Mogao, próximas de onde partiam caravanas pela Rota da Seda. Há dez séculos.


Monge Jianzhen de Volta à China 13 Séculos Depois

8 de dezembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Cultura, Depoimentos | Tags: , , , | 2 Comentários »

Uma estátua do monge budista Jianzhen (Ganjin, no Japão), em madeira laqueada, foi recebida com festa e comoção em sua cidade natal, Yangzhou, vizinha a Nanjin, província de Jiangsu. Devotos do monge estão reverenciando, a distância, a peça protegida por vidro no Hall Jianzhen do antigo Templo Daming Si. A imagem esteve exposta também em museu de Xangai, onde atraiu 360 mil visitantes.

Tesouro Nacional do Japão, a estátua do século VIII pertence ao Templo Todaiji de Nara, e faz esta peregrinação à China como parte da comemoração dos 1.300 anos da fundação da cidade de Nara, cuja construção foi inspirada no plano da cidade de Chang’an (atual Xi’an), a capital chinesa de 11 dinastias que teve seu auge durante a Dinastia Tang (618-907). Inaugurada em 710, o Imperador Shomu (699-756) ali estabeleceu a capital do Período Nara (710-794). Por seu envolvimento com a civilização Tang, na época Nara foi incluída como ponto mais oriental da Rota da Seda.

imagesCAMEP3EA

Leia o restante desse texto »


México e Índia na Mira de Empresas Japonesas

2 de dezembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , , | 4 Comentários »

Mazda Mazda investe maciçamente no México: A fim de impulsionar vendas no florescente mercado latino americano, a Mazda Motor (pronuncia-se Mátsudá) vai instalar fábrica no México. A empresa vai atuar com a Sumitomo Corporation e iniciar a produção dentro de três anos. Pretende montar 100.000 carros pequenos por ano, visando o mercado de países das Américas Central e Sul, incluindo México e Brasil. A Mazda escolheu o México aproveitando os recentes acordos comerciais concretizados pelo país com o Japão. Sem dúvida, trata-se de nova e audaciosa estratégia global da Mazda, depois que sua maior acionista, a Ford Motor, reduziu drasticamente sua parte.

Japoneses aprofundam laços com a Índia: O Japão aumenta investimentos na crescente economia indiana. Acordos comerciais bilaterais totalizaram, nestes últimos 12 meses, 11 bilhões de dólares, quase o dobro de sete anos atrás. O número de companhias japonesas atuando na Índia já passou de 700, o triplo de três anos atrás.

Entre as empresas de peso, a Nissan Motor começou sua produção na Índia em maio passado. A Nippon Steel, maior produtora de aço do Japão, planeja começar a produção de chapas de aço para veículos em 2012, através de uma “joint venture” com uma empresa local. Em Bangalore, sul da Índia, a Toyota Motor anunciou que a empresa lançou carros compactos no próspero mercado indiano. O Etios, com capacidade de 1.200 e 1.500cc bateu o mercado de carros na semana passada. A competição promete com os compactos da Nissan, enquanto a Honda anuncia que venderá compactos a partir do próximo ano, a preço aproximado de US$ 10.000. Prevê-se que este ano a venda de carros na Índia ultrapasse, pela primeira vez, dois milhões de unidades. Carros pequenos de até US$ 12.000 respondem por quase 70% do mercado.

Porém, não só companhias japonesas estão de olho no mercado indiano. Segundo a NHK-TV, a Coreia do Sul assinou um amplo acordo de parceria econômica com a Índia, para fomentar o livre comércio e investimentos. O acordo começou a prevalecer com força total no começo deste ano. Pressionado pelo empresariado, o governo japonês prepara-se para concluir efetivamente o acordo mais abrangente de parceria econômica bilateral com a Índia, que vem sendo negociado carinhosamente desde setembro deste ano.


Cenas do Outono Japonês

30 de novembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , ,

capivara Capivaras ganham piscina a 40º: Roedores gigantes, quatro capivaras se tornaram atração no parque temático Izu Shaboten (parque de cactos), da cidade de Ito, sudoeste de Tóquio. Animais tropicais nativos da América do Sul, eles se ressentem do frio japonês. Nesta época, o parque providencia uma piscina aquecida a 40º. Ótimos nadadores, eles possuem membrana natatória entre os dedos das patas, e mergulham e nadam graciosamente ao redor da piscina. O banho quente deles poderá ser visto até março próximo, quando a primavera chegar.

“São tão lindos e fofos”, “Que simpáticos nadadores”, as crianças são as mais entusiasmadas. Não se divulgou como as quatro capivaras foram parar nesse parque. Tampouco sabemos como capivaras vieram parar nas margens dos poluídos rios Tietê e Pinheiros na cidade de São Paulo. Tornam-se notícia quando algum deles é atropelado nas avenidas marginais, mas aparentam estar felizes e de bem com a vida. Piscinas aquecidas no inverno? Nossas capivaras talvez se contentassem com muito menos.

 

Crianças ganham piscinas de folhas tingidas: O que fazer com as montanhas de folhas que caem nessa época, após o koyo? O aquário Aquamarine Fukushima, da cidade de Iwaki, Província de Fukushima, aproveitou e encheu uma piscina octogonal de 16 metros quadrados com folhas avermelhadas de bordos e carvalhos. Após visita ao aquário, crianças pulam ou são jogadas na piscina. Mergulham no meio das folhas, e atiram folhas umas nas outras.

“É macio como um sofá”, “Gostoso e quente”, comemoram. Um ou outro pai mais afoito se atira no ofuro de koyo, impregnado do cheiro de outono, pelo prazer de voltar à infância.

 

Chiba Lotte Marines ganha recepção de chuva de papel picado: O time de baseball da cidade de Chiba vizinha a Tóquio, sagrou-se campeão da “Japan Series”, equivalente ao Brasileirão de futebol no Brasil. Após sofrida campanha, o feito foi considerado heroico. O governador da Província de Chiba cortou a fita para abrir a parada festiva de homenagem ao time, que percorreu 1,6 quilômetros ao longo das principais ruas, em carros abertos e ônibus. Chuvas de papel de jornal picado foram jogadas de prédios e calçadas pela torcida enlouquecida, de quase 200.000 pessoas. E já recebiam críticas pela sujeira que provocavam. Assim que o cortejo passou, porém, dezenas de jovens, crianças e adultos apareceram com enormes sacos de lixo. Correndo em grupos, os fãs do Lotte cataram os papéis, picados em tamanhos não muito pequenos para facilitar a “colheita”. Em questão de minutos, as ruas estavam imaculadas, sem um único pedaço de papel no chão ou nos galhos das árvores.

Se o gesto obteve aprovação admirada dos que assistiam à transmissão da NHK pelo país, fãs de times rivais desdenharam o patético fanatismo da torcida do Lotte. Bem, se todo e qualquer fanatismo radical – ideológico, religioso, político, esportivo – terminasse em gestos similares, quiçá o Planeta seria um lugar um pouquinho melhor para se vegetar. E se começássemos pela Avenida Paulista?


Neve e “Jûhyô” do Monte Zaô Ameaçados

24 de novembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , ,

Na região profunda de Tohoku, a nordeste de Honshu, entre as províncias de Yamagata e Miyagi, ergue-se, bela e majestosa, a outrora isolada Cordilheira Zaô, com suas montanhas de abetos e pinheiros eternamente cobertas de neve e seu silêncio de milênios. Hoje, suas estações de esqui e spa-onsens (termas) se tornaram hits para esportistas e turistas.

O que torna as Montanhas Zaô únicas no mundo, porém, é o fenômeno chamado jûhyô – maravilha da natureza que pode ser vista em algumas das altas montanhas da cadeia durante os meses mais frios, entre dezembro e março. Condições climáticas típicas locais colaboram para que as camadas de neve que caem sobrepostas nos galhos se congelem e se cristalizem, tomando estranhas formas de “monstros de gelo”. A neve extremamente úmida do Mar do Japão, carregada do noroeste pela gélida e forte corrente siberiana, se “gruda” nos galhos fechados das coníferas. Com a temperatura permanecendo a -5ºC, o jûhyiô se conserva por meses e continua a crescer com o acúmulo de mais neve, e a mudar de forma. Camadas de neve de dois a três metros costumam cobrir a região.

Conforme informa a NHK-TV, cientistas da Universidade de Yamagata alertam agora que, se o aquecimento global continuar avançando no passo atual, o fenômeno do jûhyiô na Cordilheira Zaô pode desaparecer dentro de quatro décadas. A pesquisa examinou a formação do jûhyiô usando dados e fotos datando desde começos do século XX, e constatou-se que, há 70 anos, o fenômeno podia ser observado a partir de 1.400 metros de altitude. Hoje, o jûhyiô só pode ser observado a partir de 1.600 metros. A montanha mais alta da cadeia tem 1.800 metros de altitude. Com o gradual aquecimento, a temperatura próxima ao cume aumentou uns 3ºC nos últimos 70 anos, cerca de 1ºC a cada 40 anos. Estudos avaliam que apenas mais um grau de aumento significaria o fim do fenômeno. Além do mais, o período em que se pode observá-lo se encurtou em mais de 60 dias, se comparado aos dados de 70 anos atrás.

monte Zaô_02 monte Zaô

Leia o restante desse texto »


Notícias do Japão – Livros em Kanda, Hagoita, Daruma-san

22 de novembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , ,

Feira e leilão de livros antigos em Kanda: Kanda/Jinbôchô, em Tóquio, tradicional distrito de sebo e livros antigos, se movimentou com a feira anual e leilão de livros raros, com milhares de itens centralizados em obras anteriores à Era Edo (anos 1603-1868). Nota-se presença cada vez maior de colecionadores e compradores chineses. Livros antigos chineses são raros e com preço proibitivo na China, onde ainda se ressente do expurgo sofrido pela arte e literatura durante a Revolução Cultural nos anos 1970. No Japão, os preços estão até mais acessíveis para chineses, cujo poder aquisitivo continua crescente. Eles se interessam por livros e objetos chineses de épocas como a da Dinastia Song (960-1279), injetando saudável movimento turístico-cultural-comercial nesta área de Tóquio.

Produção de raquetes hagoita a todo vapor: Meninas não jogam mais hanetsuki no Ano Novojogo tipo “peteca em que duas jogadoras vestidas com kimonos festivos procuram manter no ar, o maior tempo possível, uma bolinha leve adornada com plumas, impulsionada por raquetes de madeira. Brincadeira delicada e elegante, hoje se vê apenas em festivais ou apresentações. Mas raquetes hagoita continuam muito apreciadas como ornamento e talismã na época do Ano Novo: as pessoas presenteiam amigas e familiares, como símbolo de sorte e felicidade. Confeccionadas artística e artesanalmente, são decoradas com figuras clássicas de gravuras ukiyo-ê ou do teatro kabuki, pintadas em telas de seda e coladas na face da raquete. A cidade de Kasukabe, na província de Saitama, ao norte de Tóquio, é uma das grandes produtoras de hagoita. No mês de dezembro, acontecem hagoita ichi pelo Japão inteiro, feiras onde se vendem as raquetes. Em Tóquio, a mais concorrida é a feira ao redor do templo Asakusa Jinja, onde hagoitas custam entre US$ 60 a 500.

Artesãos ultimam bonecos Eto Daruma: O costume de se presentear no Ano Novo vem de um Japão de outrora quando não existia tradição natalina. Outro okurimono (lembrancinha) muito popular para o Ano Novo é o Daruma, robusto boneco feito em madeira ou papier-mâché. Com grandes olhos, sobrancelhas espessas e sem pernas, espelha-se no monge budista hindu Bodhidarma (séc. V-VI DC) que introduziu as artes marciais e a seita budista de meditação Chan, na China (zen-budismo, no Japão): ao ficar nove anos virado contra um muro, meditando de joelhos dobrados, perdeu a mobilidade dos mesmos. Ao ganhar um Daruma-san, pinta-se um dos olhos enquanto se faz um pedido. Realizado o pedido, pinta-se o outro olho. No fim do ano, o boneco é incinerado. A cidade de Takasaki, na Província de Gunma, é o maior centro produtor de Eto Daruma, típico da região. Artesãos ultimam centenas de bonecos, pintados de tradicional vermelho. Porém, para 2011, “ano do coelho” conforme o calendário chinês, alguns Daruma-san estão sendo pintados com longas orelhas de coelho e desenho de cenoura, augurando-se votos para um ano repleto de “auspiciosos saltos para frente” (como os de um coelho). Segundo a NHK-news, a cidade não está dando conta dos pedidos.


Séculos de História e Arte em Nihonbashi de Tóquio

17 de novembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 2 Comentários »

A poucas quadras da atual Ginza, a ponte de pedra sobre o Rio Nihonbashi substituiu, em 1911, a ponte de madeira que Utagawa Hiroshige (1797/1858) imortalizou como tema inicial de gravuras ukiyo-ê na série “As 53 vilas da estrada de Tokaido”. Agora, ela se prepara para comemorar o centenário, e contratou-se tecnologia alemã, a mesma que fez a limpeza da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, e da Praça de São Pedro, no Vaticano: a ponte está sendo purificada carinhosamente, com água quente. Centro mercantil e empresarial da antiga Edo, depois Tóquio na era Meiji, é dessa área que partiam estradas para o resto do Japão, inclusive a Tokaido ligando Edo a Quioto. Nos anos 1600, ali se abrigavam os cavalos do correio que levava e trazia notícias e cartas da época. Próxima da ponte, na margem norte do rio, está o marco zero de Tóquio, em bronze.

800PX-~1

Gravura Ukiyo-ê Nihonbashi, de Utagawa Hiroshige

Leia o restante desse texto »


“Iniciativa Satoyama” – Cada Bicho no seu Quadrado

8 de novembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: , ,

Recentemente, tem aumentado no Japão casos de animais silvestres (ursos, macacos, javalis) descendo as montanhas e causando danos às pessoas e plantações. A NHK convidou um especialista para discutir os possíveis motivos que levam a tais incidentes, e como poderiam ser prevenidos.

A topografia japonesa e sua peculiar cultura agrícola desenvolveram, por séculos, um relacionamento equilibrado do homem com o meio, graças ao trinômio “floresta (okuyama), campo cultivado (satoyama), e povoado (hitozato)”. Os campos cultivados – tambos e suiden, áreas irrigadas para o plantio como o do arroz – sempre fizeram parte do san-sui, paisagem japonesa de montanha e água, bem dividida e diferenciada: montanhas e florestas produzindo a água impoluta que sustenta o cultivo das colheitas.

rice_01 rice_02 rice_03 rice_04 rice_montanha

Animais selvagens pareciam compreender bem esse limite territorial e respeitaram o habitat humano, sem avançar no satoyama, e vice-versa: o homem tampouco procurou ir além do satoyama. Ademais, animais domésticos como gados, suínos, aves e cachorros eram criados soltos. Animais selvagens sempre detestaram animais domésticos, e não se aproximavam onde estes viviam. Muitos fatores, portanto, contribuíram para que animais selvagens começassem a quebrar esse “acordo”: animais domésticos passaram a ser confinados; houve gradativo desequilíbrio biológico/alimentar nas florestas; animais silvestres começaram a experimentar e apreciar alimentos próprios de humanos, invadindo plantações e revirando lixos; humanos, por seu lado, puseram limites florestais a perigo.

A Iniciativa Satoyama sugere, entre outras propostas, incentivar a adoção de métodos preventivos: reforçar lixeiras, à prova de macacos e ursos; criar cachorros soltos, cujos latidos afugentem bichos; orientar a população a não alimentar bichos com rações e obentôs (lanches), e evitar que deixem restos nos locais de excursão; enfim, criar condições que dificultem bichos a frequentar o ambiente humano e a transitar confortavelmente para além do satoyama. Cuidar para que eles possam sobreviver escondidos nas florestas. Conscientizar pessoas de que se animais selvagens saem de seus habitats e causam danos a humanos são os bichos as grandes vítimas, acuados e ameaçados que estão.

A Iniciativa Satoyama almeja nada mais que trazer de volta as virtudes do antigo trinômio “floresta/campo cultivado/povoado”, e fazer de novo bicho-homem e bicho-animal conviverem harmoniosamente, cada qual no seu quadrado, quer dizer, no seu habitat.

Tudo isto parece mais importante para um país formado por um arquipélago limitado, com muitas montanhas que limitam os espaços habitáveis e exploráveis pelos seres humanos, numa convivência admirável com a natureza. É preciso, também, que os animais selvagens tenham reservas suficientes para a sua sobrevivência.