Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ironia Inglesa do The Economist Sobre a China

14 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , ,

Todos sabem que a posição ideológica do The Economist com a atual dominante na China apresenta uma grande diferença. Mesmo que existam aspectos em que um artigo publicado na revista possa ter suas razões, diante da impossibilidade de modificar a atual realidade, como é da tradição inglesa, abusa-se da ironia para descrever o que aconteceu nos últimos dias naquele país. É como se a Pax Americana que seria apoiada pela revista tenha que ceder à nova ordem chinesa que vai se impondo ao mundo, como a maior economia do planeta. Denomina como coreografia quase imperial o quadro em que Xi Jinping recebeu Barack Obama, símbolo poente dos Estados Unidos, no cenário da residência oficial da China ascendente, na Zhongnanhai, ao lado da Cidade Proibida, deixando o grande Salão do Povo que vinha sendo utilizado para recepções semelhantes.

A revista enfatiza que na televisão como nos jornais chineses, Xi Jinping foi tratado sempre ocupando uma posição de comando, com os líderes mundiais pagando respeito à magnanimidade do presidente chinês. Como fato objetivo, parece que não restou a Barack Obama senão curvar-se diante da triste realidade, como se fosse o que poderia ser feito para deixar pequenas marcas de sua tentativa de contribuição como coadjuvante nas questões relevantes no futuro próximo para o mundo, como no caso dos entendimentos visando um avanço nas negociações relacionadas com as emissões de carbono. É preciso admitir que a diplomacia chinesa tirasse o maior partido possível da participação de grandes líderes mundiais na reunião da APEC.

Na nova edição do The Economist, a capa é interpretada nos seus detalhes, mostrando que as posições foram sempre no sentido de dar um ângulo favorável a Xi Jinping, que se apresenta de frente nas fotos, enquanto Barack Obama fica com o seu braço cobrindo-o, como se fora uma posição de submissão, o que parece ser um exagero, mesmo respeitando a longa tradição da imprensa.

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                            A capa da revista para a semana

Já postamos neste site que na reunião da APEC os líderes presentes na China deram respaldo ao prosseguimento dos entendimentos visando o acordo, enquanto a TPP, que seria um contraponto liderado pelos Estados Unidos, ainda não o conseguiu. Para conseguir tal objetivo, a China anunciou acordos de livre comércio com a Coreia do Sul e com a Austrália, bem como generosos investimentos de US$ 40 bilhões para melhoria da infraestrutura em países asiáticos, inclusive parte da Rússia, dentro do novo Silk Road, além da confirmação das aquisições de gás daquele país ao seu norte.

Ainda que existam preocupações e resistências ao avanço militares da China pelos mares que os cercam e que geram conflitos com seus vizinhos, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi recebido por Xi Jinping, ainda que a foto do evento mostre todo o desconforto existente entre os dois. A revista expressa sua pesada posição com a interpretação que o fato dá “a impressão de um proprietário de um cão obrigado a pegar o coco de outro cão (tradução da Google de “Lent the impression of a dog owner obliged to pick up another pooch’s turd”).

Outros acordos como a facilidade para o comércio de produtos de informática ainda depende da OMC e outro para evitar maus entendimentos ou confrontações militares, além de facilitar o visto de visitantes turistas ou empresariais.

Mas, segundo a revista, a maior surpresa foi o entendimento sobre os gases que provocam efeito estufa, onde os Estados Unidos se comprometeram com metas específicas que não encontram apoio unânime no país, quando os objetivos chineses ainda são vagos, o que deverá ser objeto de entendimento no próximo ano numa reunião das Nações Unidas em Paris.

Como os chineses aceitaram uma conferência com a imprensa ao término do encontro entre os dois presidentes, Xi Jinping deixou claro que o problema de Hong Kong era um assunto interno, o que foi interpretado pelo The Economist como uma posição que contraria entendimentos em que se procuram avanços nos relacionamentos com os países Ocidentais como outros aliados dos Estados Unidos.

O que parece difícil se aceito pela revista é que, apesar de pontos em que podem ser levantadas objeções, que certamente existem, o sentido geral mostra que existem possibilidades de convívio com a China, ainda que existam posições divergentes em diversos assuntos.