Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Necessidade de Uma Nova Estratégia Japonesa

4 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

Os que observam o Japão de fora, torcendo para que encontrem uma nova estratégia que aglutine todas as suas forças disponíveis, reconhecendo as realidades limitantes atuais, acreditando nas suas possibilidades futuras com a solidariedade mundial, ficam ainda frustrados com o marasmo em que aquele país ainda se encontra como se estivesse perdido diante dos muitos problemas que enfrenta, mesmo não desejando conhecer mais que os próprios japoneses sobre suas dificuldades atuais.

As limitações parecem começar no campo político. com o primeiro-ministro Naoto Kan dando a impressão que pensa mais em salvar a sua pele, prorrogando o seu governo que se encontra desgastado no eleitorado japonês, e o seu partido não conseguindo efetuar uma reformulação desejável e aceitável pela maioria da população.

A oposição se mostra incapaz de impor mudanças que as circunstâncias exigem, inclusive para uma união nacional, sempre difícil de obter, mas que congregue no mínimo uma maioria clara concordando com um plano para o Japão.

Os líderes empresariais japoneses não se mostram determinados a assumir o comando da reconstrução nacional, passando de uma estratégia nacional que tinha como base o fortalecimento do seu setor de energia nuclear que encontra resistências em todo o mundo, depois dos acidentes em Fukushima Daiichi. A nova determinação de empenhar-se na ampliação do uso de energias alternativas e não poluentes ainda parece não ter se consolidado como consenso de todos. As medidas que estão sendo tomadas nas áreas energéticas parecem meramente paliativas, com restrições ao consumo que só podem ser temporárias.

Suas empresas parecem tentar somente a sua sobrevivência, procurando ampliar as suas atividades no exterior, onde seus custos possam ser competitivos e os mercados mais dinâmicos que dentro do Japão. Se desejarem adotar este tipo de orientação, precisa considerar que em outros países as condicionantes são diferentes das japonesas, exigindo utilizar dirigentes que estejam habituados com estes mercados, adotando a diretriz de “em Roma como os romanos”, inclusive no uso de consultores e executivos locais, com o necessário poder de decisão.

A oportunidade para a reformulação de sua política internacional, com ampliação de seus intercâmbios comerciais e tecnológicos, ainda não ganhou um desenho novo. O conjunto atual de medidas acaba dando uma ideia que todas as linhas estão sendo examinadas, não havendo uma clara prioridade e uma estratégia. De um lado, insistem-se nas alianças tradicionais com países que não contam com mais condições para contribuir significantemente na recuperação do Japão, precisando cuidar dos seus próprios problemas. As parcerias com seus vizinhos asiáticos, consolidando um bloco com a definição do papel de cada um, precisam ser explicitadas, ainda que todas elas sejam difíceis.

Os desenvolvimentos tecnológicos indispensáveis necessitam explicitar os setores onde o Japão conta com potencialidades competitivas, dando uma contribuição para o próprio país como nas negociações de parcerias com outros grupos internacionais.

As novas linhas para consolidação dos seus abastecimentos energéticos, de matérias-primas e alimentos com parceiros emergentes de todo o mundo precisam ficar claras, estabelecendo estratégias que sempre foram de longo prazo.

Verifica-se que a população japonesa está disponível para se engajar num programa de curto, médio e longo prazo, como mostram os seus empenhos voluntários, os sacrifícios a que estão dispostos, o forte engajamento na sua reconstrução nacional. Mas seus dirigentes políticos e empresariais parecem que não se mostram à altura das demandas nacionais, acabando por dar uma ideia de um arremedo de gestão pública e privada.

Aqueles que desejam colaborar com o Japão do exterior acreditando nas suas vantagens acabam ficando confusos com as dificuldades internas dos japoneses sem saber o que está se consolidado como prioridade nacional, mesmo que nada que já tenha avançado deva ser abandonado.