Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Irracionalidade Brasileira na Política de Combustível

28 de novembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Existe um ditado brasileiro que afirma que “errar é humano”, e todos os governos são formados por seres humanos que cometem os seus erros que devem ser perdoados, sempre que seus acertos, que são muitos, sejam maiores. Mas também insistir nestes erros por muito tempo já parece ultrapassar o limite do tolerável, principalmente quando se alega que se evitam as pressões inflacionárias. Parece que é o que acontece com a política brasileira relacionada aos combustíveis, tanto dos derivados de petróleo como o etanol.

O Brasil foi um importante pioneiro na utilização do etanol de forma maciça, que contribuía de forma sustentável para o uso de um combustível renovável e não poluente, ainda que tivessem custos de estocagem, que se reduziram com os juros hoje praticados. Os especialistas brasileiros explicaram ao mundo que a cana de açúcar era um milagre pela sua alta eficiência na transformação da energia solar em outras formas de energia, como o açúcar também transformável em etanol.

Dispondo de muita insolação ao longo do ano e terras cultiváveis, o mais racional era tirar partido deste produto para substituir parte do consumo de derivados de petróleo, que continuam sendo limitados em disponibilidade, com custos que vão se elevando na sua produção quando se caminha para a extração das matérias-primas em águas profundas, que, além de exigirem novas tecnologias, apresentam elevados riscos de provocar problemas ecológicos. Estão entre os que mais contribuem para o lançamento de CO2 que vem contribuindo no aquecimento global, que aumenta as irregularidades climáticas dos quais também somos vítimas.

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Colheita de cana e plataformas para a extração do petróleo no offshore

Em qualquer política de desenvolvimento, um dos critérios que se costuma utilizar é o intenso uso dos recursos disponíveis no país, que acaba sendo mais eficiente que suas alternativas, e pode gerar os recursos indispensáveis para a importação de produtos cuja produção interna é menos competitiva que a do exterior. Isto ajuda a criar os empregos de qualidade que todos necessitam, inclusive os brasileiros.

Além de contar com uma matriz energética invejável no mundo, o Brasil contava com refinarias para a produção dos derivados de petróleo que necessitava. A extração brasileira de petróleo veio se elevando, e agora exportamos petróleo, e importamos os derivados de petróleo, quando temos todas as condições para ampliarmos e instalarmos novas refinarias no Brasil, inclusive com parcerias privadas. A demanda de equipamentos seria atendida por parte de sua produção no país, também estimulando outros setores industriais que estão necessitando agora de estímulos para a sua manutenção competitiva.

Já houve períodos em que o Brasil contou relativamente com mais produções de equipamentos no país e nós continuamos a nos esforçar para dar condições para a sua recuperação, até atingir uma escala em que possa competir com as produções estrangeiras que são subsidiadas de diversas formas, inclusive com juros baixos, além de câmbios desvalorizados, e continuam melhorando tecnologicamente.

O que parece mais inteligente é concentrar os esforços naqueles setores onde temos condições naturais mais favoráveis. Isto acontece com o etanol, e estamos importando os produzidos a partir do milho, que conta com eficiência mais baixa e necessita ser subsidiada pelos governos estrangeiros, sacrificando também a produção de alimentos para o mundo.

Temos disponibilidade atualmente de reservas de petróleo e gás, estes que estamos queimando sem nenhum proveito, além do que estamos exportando para importá-los depois de refinados, na forma de seus derivados. Certamente, estamos desperdiçando os custos de transportes, tanto nas exportações como nas importações, deixando de contar com o valor agregado que poderia beneficiar o país.

Se os problemas são as pressões inflacionárias, uma política econômica criativa poderia transferir parte dos ganhos que teríamos na produção interna do que somos competitivos para subsidiar temporariamente os itens que fossem os mais cruciais no processo.

Estão aumentando as condições para as pesquisas de novas tecnologias, adaptadas às condições locais, utilizando todo o cabedal disponível no país, que já passou para o grupo dos países de renda per capita intermediária. O país conta com grupos técnicos capazes de elaborarem alternativas mais favoráveis que a atual insistência na manutenção da atual política de combustível, que certamente não é sustentável por muito tempo, provocando distorções profundas que serão difíceis de serem corrigidas no futuro.

O que parece carente é uma capacidade de pensar o conjunto, de forma sistêmica, ainda que setorialmente tenhamos razoável competência. O setor privado brasileiro pode contribuir com as autoridades que estão reconhecendo que não podem tudo, até pela carência de seus recursos e eficiência operacional mais baixa na burocracia estatal. O governo parece reconhecer a necessidade de uma maior descentralização das atividades econômicas.

Conquistamos uma consolidação do regime democrático, estamos atentos às dificuldades da corrupção, temos condições para um diálogo mais franco do setor público com o privado, reduzindo as desconfianças recíprocas. Temos condições naturais e humanas favoráveis, com a melhoria da distribuição pessoal e regional de renda, e seria um grande desperdício não termos as condições para superar as dificuldades de um país de renda per capita média, para proporcionar melhores condições de bem-estar para a população, contribuindo para minorar as dificuldades do mundo.

Sabe-se que não é fácil acertar em tudo, mas os erros mais graves precisam ser corrigidos, para não prejudicar o todo. O governo e o Brasil têm todas as condições para contar com um desempenho mais razoável.