Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Inconveniências da Cultura Japonesa de Galápagos

30 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , | 2 Comentários »

Muito preocupante a notícia do Nikkei que somente agora o primeiro-ministro japonês Naoto Kan, no terceiro telefonema com o presidente Barack Obama dos Estados Unidos após 11 de março, acabou aceitando a assistência técnica norte-americana mais profunda para tentar resolver o problema das usinas de Fukushima Daiichi. Os japoneses teriam acertado anteriormente a ajuda francesa, que já está atuando, para a mesma finalidade. Cogitam agora do uso de robôs para resolver o problema das águas contaminadas com radiação, similar com o aventado há dias até por um modesto site como o nosso, que está acompanhando o problema do outro lado do mundo.

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Primeiro-ministro Naoto Kan e o porta-voz do governo japonês Yukio Edano

Segundo informações de hoje do ministro Yukio Edano, porta voz do governo nesta crise, cogita-se também o encerramento das atividades destas usinas, hipótese que, lamentavelmente, postamos há cerca de uma semana neste site, com as precariedades das informações disponíveis a grande distância, mas decorrente de outras experiências internacionais com problemas complexos como os que as autoridades japonesas enfrentam.

Não estamos reivindicando a primazia nestas idéias que são comuns a muitos que se preocupam com tais problemas. Não desejamos concordar com a ideia expressa pelo The Economist, da semana passada, acerca da incompetência do atual governo japonês, que goza de baixo prestígio nas pesquisas de opinião efetuadas no próprio Japão. Mas procuramos entender o que está inibindo ações mais eficientes de suas autoridades.

Os japoneses vêm lamentando que no Japão há certa cultura que chamam “de Galápagos”, ou seja, específica de um arquipélago que mantém pouco intercâmbio com o exterior. Exageram na confiança em sua própria tecnologia, desenvolvida internamente, sem uma saudável troca de experiências com outras aperfeiçoadas em países estrangeiros.

Como as usinas atômicas japonesas eram consideradas as mais seguras até pelos organismos internacionais que cuidam do assunto e como os nipônicos competem no acirrado mercado mundial de novos projetos, há a possibilidade que não desejassem que estrangeiros os conhecessem nas suas entranhas.

Que houve uma subavaliação dos riscos dos violentos terremotos e tsunamis como os que se verificaram, parece não haver dúvida. As novas e atuais usinas em todo mundo devem ser revisadas, com a dolorosa experiência japonesa, notadamente nas alternativas para resfriamento diante de um desastre.

Em muitos outros setores, como o da tecnologia da construção civil ou de reconstruções de infraestrutura, os japoneses vêm demonstrando a sua competência, por estarem mais sujeitos aos terremotos. Seria conveniente que intensificassem seus intercâmbios com países estrangeiros, utilizando-os como moeda de troca.

Não parece mais fazer sentido um exagerado nacionalismo no atual mundo globalizado. Todos nós sobrevivemos numa aldeia global e precisamos estar abertos às mais variadas contribuições, pois sempre temos algo a aprender com a experiência dos outros.