Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ser Poeta e Não Economista

20 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , ,

Acompanhando o noticiário internacional, podemos sentir que o mundo está numa confusão generalizada. É a hora em que desejamos ser poetas e não economistas, pois estes são uns pessimistas, sempre lembrando as dificuldades, as limitações e restrições a que todos estamos sujeitos, os conflitos de interesses que temos uns com os outros. Parece que alguns poetas são também pessimistas, mas a maioria deles pode sonhar livremente com as coisas boas da vida, sem se preocupar com um mundo onde tudo é limitado.

No passado, muitos diziam que o ar que respiramos era livre e gratuito para todos. Hoje se sabe, infelizmente, que o ar respirável na qualidade e quantidade que desejamos acaba custando muito, e que nos eventos como o COP 10 em Nagóia, e outros que devem se seguir, mais de uma centena de países discutem quem paga a conta e como.

Ouve se falar muito da guerra cambial e comercial que parece em plena marcha, com países tentando usufruir as vantagens e alguns se defendendo de possíveis danos, ainda que em detrimento de outros, conscientes de que tudo tem alcance limitado. O comércio internacional deixou de ser um meio para proporcionar vantagens para os países parceiros, propiciando bem-estar para suas populações. Os fluxos financeiros internacionais liberalizados, que proporcionam astronômicos lucros para os seus operadores, suplantam em milhares de vezes as cifras dos intercâmbios comerciais, influenciando fatores que deveriam contribuir para uma arbitragem razoável.

As autoridades mundiais constituídas por acordos amplos, como as Nações Unidas e seus principais braços como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial ou Organização Internacional de Comércio, mostram-se impotentes para limitar a desastrosa escalada dos confrontos entre países e blocos.

Tudo indica que os problemas terão que se tornar insuportáveis para que um acordo mínimo de convivência se torne possível. Não há mais lideranças capazes de pensar como estadistas, impondo com a sua força moral um mínimo de racionalidade, algo que permita uma convivência entre países que pensam de formas diferentes.

Pelo contrário, parecem predominar as posições dogmáticas, inclusive religiosas, esquecendo-se das esperanças da construção de um mundo ecumênico, tolerante, que respeita a humanidade existente em cada um de nós.

Mas o que nos conforta é que tivemos períodos mais conturbados ao longo da história, que geraram conflitos catastróficos, ou pessimismos como os que alimentaram os malthusianistas. Mas a humanidade foi capaz de superar a todas as intempéries, e hoje estamos mais instrumentalizados e conscientes dos riscos pelos quais passamos. Não podemos ser movidos somente pela emoção, principalmente as que mobilizam coletividades, ainda que ela seja importante.

Conseguir um acordo global sempre será difícil, mas tentativas continuam sendo feitas para alcançar um mínimo aceitável pela maioria, com todos abrindo mão de algo. Não podemos ser suicidas coletivos, ainda que muitos se encontrem no limite do desespero. Será que aprendemos tão pouco com todos os sofrimentos pelos quais já passamos?

Os economistas sabem que existe teoricamente uma curva de conflito onde os interesses se contrapõem e as decisões precisam ser tomadas. Que os nossos negociadores, diplomatas treinados, sejam capazes de estabelecer entendimentos minimamente aceitáveis para as diversas partes, pois as populações da maioria dos países sabem que é melhor ter um pouco mais que perder tudo.