Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Qual a Orientação Para a Reconstrução Japonesa?

28 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , | 18 Comentários »

Todo o mundo fica impressionado com o ritmo de reconstrução do Japão, mas não se percebe qual a ideia-força que orienta as milhares de ações de reconstrução que estão sendo executadas, por falta de uma liderança de um estadista. A imperiosidade da reconstrução é uma oportunidade para tirar o Japão do marasmo em que se encontrava nas últimas décadas, e numa sociedade que não dispõe de uma forte classe política, a força do trabalho coletivo costuma estar fundamentada numa estratégia clara para todos que estão participando dela, sem necessidade de palpites de analistas estrangeiros. Mas é possível que de fora haja uma perspectiva que nem sempre é perceptível por aqueles que estão envolvidos diretamente com a emergência.

O mundo verifica que o Japão dispõe de uma engenharia de construção respeitável, pois os grandes edifícios resistiram aos fortes tremores que ocorrem numa sequência interminável. A reconstrução ocorre aceleradamente, pois os japoneses estão habituados a utilizar materiais pré-fabricados, mesmo na sua infraestrutura, havendo residências que podem ser montadas em poucos dias, principalmente para atender os seus desabrigados. O estoicismo e a capacidade de aglutinação dos japoneses são admirados.

A necessidade costuma ser a mãe das inovações e muitos alimentos práticos, que utilizam o mínimo de energia, estão com elevada demanda, a partir do oniguiri, o simples bolinho de arroz. Já estavam acostumados para macarrões instantâneos de boa qualidade, como todos os tipos de alimentos pré-preparados, baratos, que estão disponíveis nas muitas lojas de conveniência e que fazem parte do cotidiano japonês. Somente os estrangeiros é que pensam que os japoneses consumem sashimi e sushis todos os dias; o que eles mais consomem diariamente são os populares udons (macarrão ensopado), soba (macarrão sarraceno), raisucare (do inglês rice curry, um arroz com uma mistura de carnes e legumes com molho indiano), algumas vezes com um pouco de missogiru (sopa de soja fermentada) e um tsukemono (conserva de legumes levemente fermentado), que podem ser encontrados nas formas semielaboradas industrialmente.

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O consumo de produtos de luxo, que denotam ostentação, está em baixa. As inovações tecnológicas eletrônicas demonstraram a sua utilidade numa emergência como a japonesa, mas também no apelo aos que eram considerados os mais humildes do mundo árabe. São twitters, facebook, ipod, ipad, tablets, muitos outros produtos e serviços que são quase descartáveis, de uso temporário, pois inovações são lançadas continuamente.

Parece que o mundo se tornou descartável. Roupas, alimentos, casas, eletrodomésticos, veículos e tudo que faz parte do nosso cotidiano parecem que se tornou de uso temporário, não só no Japão. Saíram de moda produtos de longa durabilidade, qualidade apurada e caros. Muitos dos novos produtos japoneses tinham estas características, que se acentuaram com as transformações por que passam.

Tudo isto está sendo disseminado mundo afora, de forma natural, pois os produtos japoneses possuem ainda uma boa imagem que precisa ser reforçada, pois está sendo arranhada. Pelas atuais dificuldades automobilísticas, perda de competitividade com outros asiáticos, e os problemas de suas velhas usinas nucleares e a incapacidade de equacionar rapidamente as dificuldades de radiações. O intercâmbio tecnológico com o exterior parecia baixo, mas agora estão sendo forçados a admitir a dos norte-americanos, franceses e outros estrangeiros. Um pouco de humildade sempre é interessante.

Certamente, isto e muito mais está sendo pensado intensamente pelos japoneses nos seus muitos think tanks, centros acadêmicos, ministérios, mas tudo parece demasiadamente burocratizado e lento para os olhos dos estrangeiros. Os jovens japoneses estão diante do desafio da reconstrução, não só interna, mas de sua posição no mundo. Todos esperam ter uma resposta à altura das tradições e história do Japão.

Eles estão mais preparados que seus antepassados para atuarem de forma integrada com o mundo globalizado. Dominam outros idiomas, conhecem outras formas de viver, e a duras penas estão aprendendo que não se pode continuar com a cultura de Galápagos. Ainda que vivam num arquipélago limitado em recursos naturais, sujeitos a muitos desastres, eles contam com recursos humanos que devem reconhecer não ser as mais respeitáveis do mundo. É preciso que voltem a se empenhar como quando eram pobres e precisavam conquistar mercados no exterior.

É imperativo acelerar a sua miscigenação com outras etnias e culturas, respeitando as qualidades de outros que são tão capazes como eles, e ainda estão dotados de maior capacidade de usufruir a alegria de viver. Os japoneses têm tudo para dar a sua contribuição, abandonando ideias obsoletas e ultrapassadas, que devem ser enterradas com as homenagens que devem aos seus desaparecidos.